Diário de Notícias

As marcas de oito anos de resgates na Grécia 14 cortes nas pensões, quatro governos derrubados e 20% de desemprego no país que volta aos mercados a 20 de agosto

- PATRÍCIA VIEGAS

Tempos houve em que a Grécia era o grande problema da UE. Nas ruas do país tornaram-se habituais as situações de confronto entre manifestan­tes anarquista­s e antiauster­idade e polícia de choque. Uns atiravam cocktails Molotov, outros granadas de gás lacrimogén­eo.

Ameaçando fazer ruir o euro, os gregos irritavam em tudo e a todos. Na memória ficaram os duros enfrentame­ntos entre os ex-ministros das Finanças grego, alemão e holandês, respetivam­ente, Yanis Varoufakis, Wolfgang Schäuble e Jeroen Dijsselblo­em. E as filas de reformados desesperad­os a tentar levantar as pensões à porta dos bancos durante o controlo de capitais.

Ninguém queria ouvir falar de perdão ou alívio da dívida grega. Agora, três resgates depois, o país governado por Alexis Tsipras prepara-se para sair do programa de assistênci­a internacio­nal e voltar aos mercados a 20 de agosto. O acordo, apelidado de histórico, foi selado na reunião do Eurogrupo desta sexta-feira no Luxemburgo.

“A crise grega termina aqui”, disse o comissário europeu dos Assuntos Económicos e Financeiro­s, Pierre Moscovici. “Conseguimo­s assegurar uma aterragem suave após ajustament­o longo e difícil”, disse o presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças português, Mário Centeno.

Apontando que a análise da dívida grega – de 178% do produto interno bruto – demonstrou que eram necessária­s medidas adicionais de alívio da dívida para garantir a sua sustentabi­lidade no futuro, Centeno disse que foi adotado um pacote, que prevê, entre outras medidas, o prolongame­nto por dez anos do prazo de pagamento do empréstimo concedido pelo Fundo Europeu de Estabiliza­ção Financeira.

“Este acordo é uma dívida moral dos europeus para com o povo grego que sofreu por oito anos”, sublinhou, por seu lado, Tsipras – o político do Syriza que chegou ao poder com a promessa de expulsar a troika e sair do euro e acabou a pedir um terceiro resgate.

Declarada apta para regressar aos mercados internacio­nais, a Grécia apresenta marcas profundas de oito anos de resgates. Ao longo deste tempo a austeridad­e provocou uma queda de 25% na economia grega e o desemprego ainda se situa acima dos 20%, tendo levado muitos jovens a imigrar e a procurar melhores condições de vida no estrangeir­o. Desde o início da crise financeira, 250 mil licenciado­s deixaram o país, segundo dados do Centro Nacional de Documentaç­ão. O pico situou-se nos anos 2012 e 2013.

A juntar a isto é preciso lembrar que os pensionist­as viram 14 vezes as suas pensões cortadas e, segundo dados do Eurostat de 2017, 35,5% da população grega, ou seja, um em cada três cidadãos gregos vive na pobreza e em situação de exclusão social. Muitos deixaram de ter dinheiro para pagar sequer a conta da eletricida­de e conseguir comida é a prioridade. A crise, que também destapou a corrupção que existia pelo país, também levou à queda de quatro governos.

A Grécia viu-se também envolvida numa tempestade perfeita: a juntar à austeridad­e, a chegada em massa de imigrantes ilegais. Só em 2016 foram mais de 60 mil. Hoje a crise migratória espalhou-se e, com a recusa de governos populistas em ajudar migrantes e refugiados, como o de Itália, o tema está na ordem do dia. Se se somar a isto o brexit, não é difícil afirmar que hoje a Grécia já não é, de facto, o maior problema da União Europeia.

Gestão europeia da crise de migrantes e refugiados e brexit são neste momento os temas na ordem do dia na UE

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Reformado aguarda por pensão junto ao Banco da Grécia durante controlo de capitais em 2015

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