Diário de Notícias

Nova tempestade com Rio deixa Negrão preso por fios na bancada

Polémica. Direção do PSD mandou dizer via Lusa que direção da bancada atuou à revelia do presidente do partido ao votar a favor de um projeto do CDS sobre preços dos combustíve­is

- JOÃO PEDRO HENRIQUES

PSD votou a favor na generalida­de de projeto do CDS que diminui imposto dos combustíve­is mas pode na votação final votar contra Rio e Negrão articulara­m posições nesta matéria há um mês. Negrão queria um projeto de lei mas Rio impôs apenas uma resolução

Fernando Negrão está à beira de perder a paciência com Rui Rio. Mais uma tempestade como a de ontem e bate com a porta. Na segunda-feira, o líder da bancada parlamenta­r do PSD subirá de Lisboa até ao Porto para almoçar com o líder do partido. “Todo este ambiente de alguma tensão vai ficar resolvido e articulado, não tenho qualquer dúvida”, disse ontem à Lusa o secretário-geral do partido, José Silvano, falando desse almoço.

Em causa está, nesta nova crise entre os dois principais centros de poder no PSD, o facto de a bancada ter na quinta-feira votado a favor de um projeto-lei do CDS em defesa da “eliminação do aumento do imposto sobre produtos petrolífer­os [ISP]”. Ao contrário do que se pensava há semanas, o diploma acabou por ser aprovado (embora só na generalida­de), dada a abstenção de BE, PCP e PEV. Os votos contra do PS foram insuficien­tes face aos votos a favor dos proponente­s, do PSD e do PAN.

Ontem, uma “fonte da direção” do PSD disse à Lusa que a direção da bancada parlamenta­r decidiu este sentido de voto favorável ao projeto centrista “completame­nte à revelia” da posição de Rui Rio. Este acha que o diploma do CDS diminui receita fiscal no Orçamento do Estado, podendo-se assim agravar o défice público.

Ou seja, como disse a mesma fonte, a bancada fez precisamen­te o contrário do que Rui Rio tinha defendido no encerramen­to das últimas jornadas parlamenta­res do PSD, na terça-feira. “A nossa função não é empurrar o governo para a irresponsa­bilidade e populismo de dar aquilo que não pode dar”, disse então Rui Rio. “Isso é função do PCP e do BE”, disse ainda.

Negrão ficou profundame­nte irritado com a posição manifestad­a, via Lusa, por aquela “fonte da direção” do PSD. E ontem ao fim da tarde confirmou que a tal fonte falara de forma completame­nte autorizada pelo presidente do partido. É que este, interpelad­o por jornalista­s, recusou desmentir a notícia, refugiando-se num insistente “não comento”. “Não lhe vou falar sobre nenhuma questão interna do PSD, em circunstân­cia nenhuma. Não vou falar sobre questões internas do partido em público, não vou”, disse, durante uma conferênci­a de imprensa, no Porto, dedicada à reforma da zona euro, tema principal da ordem de trabalhos do Conselho Europeu da próxima semana.

Fonte da direção da bancada disse ao DN que esta questão fora discutida entre Negrão e Rio há cerca de um mês. Negrão queria que o PSD apresentas­se um projeto de lei (que, sendo aprovado, teria força vinculativ­a) para contrariar por via fiscal o aumento dos combustíve­is; mas Rio insistiu em que deveria ser apenas um projeto de resolução (sem força vinculativ­a, é apenas uma recomendaç­ão que o governo pode ou não seguir). Prevaleceu a opinião do presidente do partido. E ficou assente que o PSD nada faria que ferisse a chamada “lei-travão” prevista na Constituiç­ão (a norma que impede os partidos de apresentar­em projetos que aumentem a despesa pública ou diminuam a receita).

No debate, na quinta-feira, o PSD votou a favor do projeto de lei do CDS. Mas fê-lo avisando que na discussão na especialid­ade, em comissão, votará contra tudo o que no seu entender viole a tal leitravão. Ou seja: votou a favor do articulado centrista na generalida­de mas poderá muito bem votar contra na votação final global – indo assim ao encontro da posição de Rui Rio.

Ciente de que a direção do PSD e Rui Rio fizeram deste caso uma tempestade num copo de água, Fernando Negrão – que apoiou Santana contra Rio nas eleições internas que este venceu e que o levaram à liderança do partido – está a começar a perder a paciência. Mais uma situação deste género, de choque e desautoriz­ação, e baterá com a porta.

 ??  ?? Rio e Negrão vão discutir a mais recente crise num almoço no Porto marcado para segunda-feira
Rio e Negrão vão discutir a mais recente crise num almoço no Porto marcado para segunda-feira

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal