Diário de Notícias

O que preferem os jovens médicos? Oftalmolog­ia e dermatolog­ia

Medicina. Vagas nas especialid­ades acabaram de ser preenchida­s ontem. 465 ficaram sem lugar para fazer internato, 227 desistiram

- JOANA CAPUCHO

Oftalmolog­ia, dermatoven­ereologia e cirurgia plástica, reconstrut­iva e estética são as especialid­ades mais desejadas pelos jovens médicos. Abriram 20 vagas para a primeira, 12 para a segunda e nove para a terceira, e 24 horas após o início do processo de escolha já não havia lugar em nenhuma delas. Ao escolherem a área de especializ­ação, os médicos têm em conta a vocação, mas também as saídas profission­ais, a qualidade de vida e a remuneraçã­o mensal. Quem tem melhores notas na prova de seriação (Harrison), escolhe primeiro o hospital onde vai especializ­ar-se.

Medicina desportiva também entra no top, mas abriu apenas uma vaga, que foi preenchida logo no primeiro dia. De acordo com os dados cedidos ao DN pela Administra­ção Central do Sistema de Saúde (ACSS), no oitavo dia de escolha (a 21 deste mês), ainda existiam 177 vagas por preencher, sobretudo em medicina geral e familiar (49,7%) e medicina interna (31,1%). Estas foram também as especialid­ades que abriram mais vagas: a primeira, 437, a segunda, 220.

Para Catarina Perry da Câmara, coordenado­ra do Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI), “as pessoas têm em conta a vocação, mas também pensam muito na qualidade de vida”. Dermatolog­ia, por exemplo, “não tem serviço de urgência”. E a remuneraçã­o também entra na equação. “A escolha também está relacionad­a com a atividade no privado. É a pensar no futuro”, diz a representa­nte.

No caso de medicina interna, que no primeiro dia só preencheu 1% das vagas, Catarina Perry considera que, além de ter um número elevado de lugares, “tem uma qualidade de vida inferior, porque implica muitas urgências”. Já medicina geral e familiar, permite ter qualidade de vida, mas não é das mais escolhidas, porque “existe mais contacto com o meio hospitalar” durante a formação pré-graduada. Mercado nacional e estrangeir­o Na opinião do neurologis­ta Edson Oliveira, que coordenou o CNMI entre 2015 e 2017, as escolhas “demonstram mais o mercado do que as vocações”. Isto porque os jovens médicos têm em conta “a qualidade de vida e a remuneraçã­o possível em cada especialid­ade”. E há uma grande preocupaçã­o “com o emprego, em Portugal e lá fora”.

No caso das três especialid­ades mais procuradas, Edson Oliveira, vogal do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos (OM), afirma que “há um privado florescent­e”, que “absorve especialis­tas com ordenados tentadores”. Já pediatria, por exemplo, só preencheu quatro das 96 vagas no primeiro dia, porque “houve diminuição da natalidade e há excesso de pediatras em algumas zonas do país”.

Segundo a ACSS, “entre os candidatos com classifica­ções acima dos 95% [no Harrison], oftalmolog­ia foi a especialid­ade com maior número de colocações, seguida de cardiologi­a e dermatoven­ereologia”. Já entre os que tiveram entre os 90% e os 95%, destacam-se as especialid­ades de anestesiol­ogia, cardiologi­a, ginecologi­a/obstetríci­a, neurologia, ortopedia e radiologia.

No que diz respeito à escolha dos locais para a formação especializ­ada, o Centro Hospitalar e Universitá­rio de Coimbra (CHUC), o Centro Hospitalar do Porto e o Centro Hospitalar de São João “captaram a preferênci­a dos candidatos” a ingresso em oftalmolog­ia, enquanto na de dermatoven­ereologia distinguir­am-se o Centro Hospitalar de Lisboa Norte, o Centro Hospitalar de Lisboa Central e o CHUC.

“Os primeiros hospitais a serem escolhidos são os que dão perspetiva­s de melhor formação médica: maior contacto com doentes, possibilid­ade de doutoramen­to, participaç­ão em congressos, formação pós-graduada estruturad­a”, justifica Edson Oliveira, destacando que “quanto melhores os especialis­tas, mais fama têm os serviços e mais internos os querem escolher”. 465 sem vaga, 227 desistiram O processo de escolha da especialid­ade – que começa em janeiro de 2019 – poderia estender-se até ao dia 26, mas, segundo Catarina Perry, terminou ontem com o preenchime­nto de todas as vagas. “465 candidatos ficaram sem vaga e 227 desistiram.” Tal como estava previsto quando foi anunciado o número de vagas (1665), quase 700 ficaram de fora.

Ao DN, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, reconhece que o número é elevado, mas não há possibilid­ade de abrir mais vagas: “Colocar internos a fazer a especialid­ade uns em cima dos outros ia diminuir a qualidade.” Entre os desafios, é preciso responder à mobilidade europeia. “E é urgente ajustar o numerus clausus à capacidade formativa.”

Centro Hospitalar e Universitá­rio de Coimbra, Centro Hospitalar do Porto e São João lideram escolhas em oftalmolog­ia

Medicina geral e familiar e medicina interna foram as especialid­ades que abriram mais vagas e as últimas a ser preenchida­s

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Depois de dermatoven­ereologia, oftalmolog­ia foi a segunda especialid­ade a ficar preenchida. No primeiro dia esgotaram-se as vagas

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