Diário de Notícias

O orgulho é tão grande que interrompe­u a festa do futebol

O Terreiro do Paço fez ontem uma pausa no Mundial para dar espaço ao Arraial Pride. Adeptos da bola e comunidade LGBT são mundos distintos que não se misturaram

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KÁTIA CATULO O que tem que ver o Mundial de Futebol com o Arraial Lisboa Pride? Nada, mesmo nada. Quem torce pelos direitos das lésbicas, dos gays ou dos transexuai­s está a marimbar-se para a bola. E quem é doido por futebol nunca se lembraria de misturar as duas coisas. Mas, ontem, adeptos da Tunísia e da Bélgica tiveram de disputar o Terreiro do Paço, em Lisboa, com os ativistas do arco-íris. E ganhou quem assentou arraiais na Praça do Comércio para participar no maior evento LGBT em Portugal.

No final da primeira partida, ainda houve tempo para comemorar a goleada dos belgas, mas assim que bateram as quatro da tarde, o futebol saiu de cena e deu o seu lugar ao orgulho gay. Para os adeptos, a luta foi inglória, sobretudo para os que, como o mexicano Quique Hernández, vieram ao engano. Chegou à Arena Portugal cheio de pica, vestido com a sua bandeira da cabeça aos pés e pronto para desafiar os adeptos da Coreia do Sul. Em vez disso, deparou-se com o ecrã gigante mudo. Até poderia aproveitar a viagem para comer um “Sr. Showriço” numa das barraquinh­as ou, quem sabe, ouvir um “Fado Bicha” ao entardecer.

“Não posso, nem pensar! Tenho de ir a correr procurar um lugar para ver a minha seleção”, diz ele, agarrando no amigo e saindo esbaforido pela Baixa de Lisboa. O Arraial Pride não é bem a praia dele como não é também de outros adeptos como o tunisino Chawki Samet que, desconsola­do com a derrota, ficou sem vontade de entrar em grandes farras: “Fui só dar uma olhadela, mas confesso não estou virado para aquele lado.”

Naquele lado, a malta não se importa, até porque o futebol também não é a onda deles. Preferem curtir os hits da Madonna, dançar a Venus, das Bananarama, e continuar a lutar contra a discrimina­ção das pessoas LGBT. “O Mundial passa-me ao lado, prefiro um bom arraial como este que dá visibilida­de a coisas mais importante­s do que o futebol”, remata Sandro Alverca. Os tunisinos estiveram em minoria na Arena Portugal mas, antes da derrota, não se importaram de ficar ao lado dos belgas para parecerem mais

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