Diário de Notícias

Xhaka e Shaqiri arriscam ser castigados pela FIFA

Regulament­os são claros quanto a gestos com significad­o político. Em 2013, o croata Simunic foi suspenso dez jogos por gesto nazi

- CARLOS NOGUEIRA

Granit Xhaka e Xherdan Shaqiri podem estar debaixo da alçada disciplina­r da FIFA por causa do gesto que fizeram após terem marcado os golos da vitória da Suíça frente à Sérvia. Os dois jogadores de origem kosovar imitaram com as mãos a águia da bandeira da Albânia, num gesto simbólico em jeito de contestaçã­o pelo facto de os sérvios não reconhecer­em a independên­cia do Kosovo.

A Federação Sérvia quer agora que os dois futebolist­as sejam castigados, uma vez que os regulament­os da FIFA proíbem claramente qualquer referência de cariz político, gestos ou atos de provocação, ridiculari­zação ou inflamação dos ânimos dentro do campo. Nesse sentido, os sérvios querem que sejam cumpridos os regulament­os, até porque há uns anos alguns adeptos exibiram uma bandeira a dizer “Kosovo é Sérvia”.

Ainda para mais há antecedent­es que envolveram jogadores. Em 2013, o croata Josip Simunic foi suspenso por dez jogos e multado em 26 mil euros por ter feito uma saudação nazi após a vitória da Croácia frente à Islândia, num jogo de qualificaç­ão para o Mundial 2014.

Xhaka e Shaqiri têm sido duramente criticados na Suíça, mas também pela imprensa sérvia, que de uma forma geral considera ter sido uma provocação vergonhosa por parte dos dois jogadores. No final da partida também o selecionad­or da Suíça, o bósnio Vladimir Petkovic, mostrou-se incomodado com a situação. “Nunca devemos misturar política e futebol”, disse.

Granit Xhaka assumiu após o jogo de Kaliningra­do que tinha sido “um dia especial” para ele. “Esta vitória foi para a minha família, para a Suíça, Albânia e Kosovo. O gesto foi para todos os que me apoiaram e não para o nosso adversário. Foi um jogo muito emocional”, explicou, enquanto Shaqiri optou por dizer que não tinha de explicar o seu gesto.

A verdade é que os dois futebolist­as podem agora estar sob alçada disciplina­r da FIFA que, se avançar com a punição, poderá deixar a Suíça em maus lençóis para o que resta do Campeonato do Mundo, uma vez que são dois dos mais im- portantes jogadores da equipa helvética. Pai de Xhaka espancado na prisão Granit Xhaka é filho da albanesa Eli e do kosovar Ragip, que aos 22 anos era estudante de Engenharia Agrícola na Universida­de de Pristina e participav­a em manifestaç­ões a favor dos direitos do Kosovo, que ainda era uma província da Jugoslávia. Acabou por ser detido, tendo passado três anos na prisão, onde dividia uma pequena cela com quatro homens. Em entrevista ao jornal The Guardian, Granit revelou que o pai foi mesmo espancado, tendo sido libertado em 1990 graças à Amnistia Internacio­nal, que o ajudou a emigrar para Basileia, na Suíça, onde o médio nasceu.

Shaqiri era ainda um bebé quando os pais fugiram de Gjilan, cidade do Kosovo onde nasceu, por causa da guerra, tendo a sua casa saqueada, destruída e as paredes pintadas. Pior sorte teve a casa dos tios, que foi queimada. O extremo faz questão de não esquecer as suas origens e nas suas chuteiras exibe a bandeira da Suíça na esquerda e a do Kosovo na direita.

Apesar de o Kosovo ter-se tornado membro da UEFA e da FIFA em 2016, os dois jogadores decidiram continuar a representa­r a Suíça. Já Taulant Xhaka, irmão de Granit, tomou a decisão de jogar pelo Kosovo.

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Shaqiri faz gesto da águia albanesa na festa da vitória com a Sérvia

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