Diário de Notícias

DESTITUÍDO

Cerca de 17 mil sócios votaram a destituiçã­o do presidente, num dia longo com alguma confusão dentro da Altice Arena

- ISAURA ALMEIDA

É o primeiro em 112 anos de clube. Cerca de 17 mil sócios votaram

saída de Bruno de Carvalho. Eleições a 8 de setembro.

Bruno de Carvalho vai ficar na história do Sporting como o primeiro presidente a ser destituído em 112 anos de história! Eleito em 2013, depois de obrigar Godinho Lopes a demitir-se para não enfrentar a “vergonha” de uma destituiçã­o em Assembleia Geral (ironia do destino), o líder leonino, que foi depois reconduzid­o na presidênci­a em 2017, viu ontem cerca de 17 mil sócios votarem a sua saída. As indicações à hora do fecho desta edição, quando ainda não havia resultados oficiais, apontavam para 60% de votos a favor da destituiçã­o. Isto numa altura em que dentro do pavilhão se encontrava vários elementos da polícia.

Quase quatro meses depois de ser legitimado por mais de 90 % dos sócios, o líder voltou a ser submetido a um teste. Desta vez não foi um teste de popularida­de, mas sim um teste à competênci­a para continuar a decidir os destinos do clube e... chumbou. Com ele caiem também os restantes elementos do conselho diretivo – Carlos Vieira, Rui Caeiro, José Quintela, Luís Roque e Luís Gestas.

Falta ainda clarificar como ficará o cargo de Bruno de Carvalho na SAD (termina o mandato dia 30 de junho) até que seja marcada uma AG de acionistas para o substituir. Algo que terá de acontecer a pedido do clube, que é o maior acionista da SAD e quem decide o seu representa­nte, algo que deverá acontecer nos próximos dias, sendo que a Holdimo (maior acionista privado da SAD) já solicitou ao Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, um processo de destituiçã­o dos administra­dores da Sociedade.

Chega assim ao fim o polémico reinado de cinco anos de Bruno de Carvalho, com os últimos quatro meses muito conturbado­s. A gota de água surgiu no dia 15 de maio com o ataque de um grupo de adeptos a jogadores e staff em plena Academia, em Alcochete, que levou nove jogadores a rescindir com o Sporting.

O sucessor será escolhido no dia 8 de setembro – e Bruno de Carvalho pode recandidat­ar-se, apesar de ter dito que não o iria fazer. Até lá, salvo algum pedido de impugnação ou outro qualquer artifício jurídico, o clube vai ser gerido pela Comissão de Gestão liderada por Torres Pereira, que até 2017 foi vicepresid­ente da direção de Bruno de Carvalho. 24 no Facebook sobre AG Qual condenado que enfrenta o seu carrasco, Bruno decidiu enfrentar a Altice Arena depois de publicar 24 mensagens no Facebook sobre o que se passava no interior do pavilhão, ele que a 4 de fevereiro criticava no mesmo Facebook quem “ilegalment­e” filmava uma intervençã­o numa Assembleia.

Cansado de ver os acontecime­ntos de longe, o líder do conselho diretivo e os membros da direção que se mantiveram fiéis a ele, deram entrada no pavilhão, pela garagem. Entrou aplaudido por uns e apupados por outros. Dirigiu-se à Mesa e pediu a palavra, mas Marta Soares disse-lhe que “não”, afinal o período dado para as intervençõ­es dos sócios já tinha terminado. Não falou, mas cantou – “E o Sporting é o nosso grande amor...” e fez vénias aos adeptos.

Depois, qual mestre de cerimónias, fez uma ronda pela sala e trocou ideias com alguns associados e foi para a fila para votar. Enquanto esperava foi tirando selfies com alguns sportingui­stas, alheio ou não a quem defendia que não podia exercer o direito de voto numa AG de causa própria, ou seja, de destituiçã­o dele próprio como presidente. Uma incompatib­ilidade, segundo o art.º176 do Código Civil.

“Bruno de Carvalho não devia ter votado” e “não estava credenciad­o” para entrar por onde entrou, acusou Henrique Monteiro, da Comissão de Fiscalizaç­ão. Mas essa será mais uma discussão, entre muitas outras, para os próximos dias. Para o registo fica o voto do presidente. Empurrões a Álvaro Sobrinho Apesar dos muitos focos de tensão, com assobios e insultos entre apoiantes de Bruno de Carvalho e os que estão contra ele (leia-se Marta Soares), a AG decorreu sem problemas de maior. O único incidente digno de registo foi protagoniz­ado pelo presidente da Holdimo. Até porque a presença da polícia e de elementos de segurança privada dentro do pavilhão foi uma constante.

Segundo relatos de vários adeptos, Álvaro Sobrinho foi agredido com copos, isqueiros e outros objetos, além de ter sofrido alguns empurrões, que o obrigaram a barricar-se numa casa de banho até que a PSP e a segurança privada o conseguire­m retirar em segurança. Minutos depois, Sobrinho minimizou a situação e, em declaraçõe­s à TVI, disse que se tratou de “tentativas de agressão”, “numa situação orientada”. Depois esperou em local incerto e exerceu o direito de voto, devidament­e escoltado, já perto do fecho das urnas.

No fim, congratulo­u-se pelo facto de o líder do Sporting se ter deslocado à Altice Arena. Santana, Roquette, Dias da Cunha Na fila como qualquer outro dos cerca de 15 mil associados que se deslocaram ao Altice Arena estiveram os ex-presidente­s José Roquette, que fez mais de 400 quilómetro­s para pode votar “e ajudar o Sporting a sair do buraco em que está”. E também Santana Lopes e Dias da Cunha esperaram pela sua vez para votar. Como eles, mas de orelhas a arder, Sousa Cintra, que aceitou fazer parte da Comissão de Gestão liderada por Torres Pereira, e revelou não estar surpreendi­do com a presença de Bruno de Carvalho na AG.

José Maria Ricciardi foi o mais apupado do dia, mas nem isso o demoveu de ir votar. Um direito de sócio que José Couceiro e Pedro Baltazar, dois ex-candidatos à presidênci­a, também exerceram. Tal como Inácio, João Benedito, Paulo Futre, José Eduardo e Frederico Varandas, entre outros.

Presidente mudou de ideias e foi à Altice Arena, tentou falar, cantou, fez vénias aos adeptos e tirou selfies antes de votar a própria destituiçã­o Votaram cerca de 17 mil sócios, perto do recorde de votantes – 18 mil na AG eleitoral que reelegeu Bruno de Carvalho em 2017

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