Diário de Notícias

JOÃO GOULÃO “CONSUMO RECREATIVO DE CANÁBIS VAI DISCUTIR-SE ACURTO PRAZO”

Há mais de 20 anos a trabalhar nesta área , o diretor do SICAD, João Goulão, é o anfitrião do III Congresso da entidade que dirige. Toxicodepe­ndência, jogo online e tradiciona­l e o consumo de álcool vão estar em análise no CCB

- CARLOS FERRO

Entre a tarde de hoje e quarta-feira vai falar-se no Centro Cultural de Belém de dependênci­as: álcool, droga e jogo. As políticas seguidas, os tratamento­s e o que o futuro pode trazer nestas áreas são alguns dos temas em análise. Ao DN o diretor-geral do SICAD, João Goulão, fala sobre o congresso e, em particular, sobre a canábis, um dos temas do primeiro dia. Explica que tem havido um aumento do consumo desta substância no sexo feminino, ao mesmo tempo que chegam aos centros de tratamento mais pedidos de ajuda. A discussão em torno da legalizaçã­o do consumo recreativo de canábis é, no seu entender, inevitável a curto prazo. Que objetivos tem o SICAD para este congresso? É o terceiro congresso do SICAD, onde se comemorará no dia 27 os 10 anos do Fórum Nacional Álcool e Saúde. Queremos discutir os temas mais prementes na área das dependênci­as. Queremos uma reflexão nos temas centrais: canábis, que ocupará o primeiro dia; no segundo os temas centrais são a redução de risco e o jogo (amanhã é o Dia Mundial contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas). São temas pertinente­s em Portugal, como a questão das salas de consumo assistido, que haverá em breve em Lisboa. O terceiro dia será a comemoraçã­o da FNAS, uma plataforma onde foi possível reunir entidades relacionad­as com o consumo de álcool, algumas do Estado, da produção, etc. É uma plataforma que tem permitido pontos de contacto entre várias entidades, incluindo quem vende bebidas alcoólicas. O consumo de canábis é, provavelme­nte, um dos temas prioritári­os... É uma questão que se coloca na sociedade. Na Assembleia da República houve a discussão sobre o uso [terapêutic­o] da canábis e congratula­mo-nos com a separação entre o terapêutic­o e o uso social. A discussão foi sobre o primeiro, mas de certeza que o uso recreativo irá discutir-se a curto prazo. E aí acho que podemos aprender com experiênci­as em outros pontos do mundo. A discussão não deveria ser ao mesmo tempo? As questões são diferentes. Os produtos de canábis são de longe os mais consucado midos em Portugal, tal como em todo o espaço europeu, e misturar os usos iria introduzir questões diversas. O que se pretendeu foi ter uma discussão séria sobre as consequênc­ias do uso, sobre se haverá vantagens de uma apropriaçã­o do Estado do circuito da produção à distribuiç­ão, fixando regras para a comerciali­zação e quais as consequênc­ias disso. Porém, o consumo recreativo tem subido. Isso reflete-se nos pedidos de tratamento? Tem havido um aumento do consumo, particular­mente sensível no género feminino. E tem existido um aumento do número de pessoas que procuram ajuda nos centros de tratamento. Essa subida terá que ver com o trabalho das comissões para a intervençã­o na toxicodepe­ndência. As pessoas que aí chegam [algumas enviadas pelas autoridade­s policiais ao abrigo da Lei da Descrimina­lização aprovada em 2000] são colocadas sobre os impactos do consumo ao longo da vida. Perante esses factos, muitas aceitam iniciar um processo terapêutic­o. Há outras que, ao serem confrontad­as com sustos, muitas vezes pela diferença inopinada de potência da canábis disponível no mer- – é muito mais potente em THC [principal substância psicoativa da planta de canábis] do que antigament­e –, sofrem ataques de pânico ou surtos psicóticos. O que as leva a pedir ajuda. Referiu que o consumo subiu, especialme­nte, por parte das mulheres. .. Nota-se um agravament­o de consumo de canábis (dos outros tipos de droga também, mas desta em particular) que é acentuada no género feminino. Os consumidor­es, no geral, têm entre 25 e 44 anos, ou seja, a população adulta. A decisão de Lisboa em avançar com três salas de consumo assistido é uma medida importante? É, juntando às respostas existentes. Depois de em 1999 parecerem indispensá­veis estas salas conseguimo­s, com o contributo das equipas de rua, chegar a um momento em que parecia não ser necessário. Mas, agora, um pouco em consequênc­ia da crise económica que afetou o país, a qual teve impacto nestas pessoas mais vulnerávei­s, encontramo­s uma população potencial utilizador­a destes equipament­os que parecia ter desapareci­do. De pessoas de maior idade e que não se mobilizam para tratamento.

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