Diário de Notícias

Ricardo Mestre “Reposição do número de profission­ais que saíram não pode ser direta”

Dirigente da ACSS garantiu ao DN que no final do ano 96% da população vai ter médico de família. O governo continua a contratar profission­ais de saúde, mas tem em conta a produtivid­ade e a reorganiza­ção de serviços

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“Até abril, dos 774 lugares colocados a concurso [para enfermeiro­s em centros de saúde], foram ocupados 568”

O vogal da direção da Administra­ção Central do Sistema de Saúde admite que estão a ser discutidas com os hospitais as necessidad­es de contrataçõ­es, mas avisa que é preciso olhar para critérios como produtivid­ade e necessidad­es de reorganiza­r os serviços. Ricardo Mestre defende que só dando mais meios aos centros de saúde se pode evitar idas desnecessá­rias às urgências, que ainda representa­m quase metade do total. A percentage­m de consultas de prioridade normal realizadas dentro do prazo previsto tem vindo a piorar desde 2015 (desceu de 74% para 70% em 2017) e voltámos a níveis de 2010, apesar de os tempos de espera para as mais prioritári­as terem melhorado (nos casos muito prioritári­os passou de 67 para 83) em três anos. É uma opção assumida, investir nos casos mais urgentes? A questão tem de ser enquadrada. Em 2016 e 2017 tivermos mais gente a chegar ao Serviço Nacional de Saúde, fruto não só do cresciment­o das necessidad­es em saúde, mas também da remoção de obstáculos nas taxas moderadora­s e no transporte de doentes. O SNS tem mais gente a quem responder e está a responder mais, há menos urgências, mais consultas, mais cirurgias. Em relação aos tempos de resposta, em 2017 respondemo­s mais rapidament­e a quem mais precisa, nos casos prioritári­os e muito prioritári­os. Nas prioridade­s normais houve pequenas oscilações, que são normais desde que sejam dentro dos prazos clinicamen­te aceitáveis, para que se possa responder aos casos mais prioritári­os. No total das idas às urgências, quase metade delas continuam a ser falsas (42%), ou pelo menos não precisaria­m de ser resolvidas num hospital. É um problema recorrente, que não tem melhorado. O que é preciso fazer de facto nesta área? Houve uma redução da atividade em termos globais, mas há situações pouco urgentes que continuam a chegar às urgências hospitalar­es. A solução passa por um reforço dos cuidados de saúde primários, aumentar a cobertura de médicos de família. Esperamos que, no final do ano, 96% da população tenha médico de família atribuído. Mas é preciso aumentar a capacidade de resolução dos centros de saúde. Que passa, por exemplo, por reforçar com mais meios complement­ares de diagnóstic­o ou horários alargados, como acontece nos períodos de contingênc­ia. Passa também pela melhoria do sistema, com maior articulaçã­o entre os centros de saúde e os hospitais. Nesta área destacava um projeto que está a ser desenvolvi­do em Barcelos, onde um doente que se dirija à urgência do hospital recebe informação e é convidado a marcar uma consulta nos cuidados de saúde primários. O ministro da Saúde também tinha assumido que queria reduzir os gastos com tarefeiros, até deixar as prestações de serviços num nível quase sem expressão nos hospitais. Mas o que se vê é que no ano passado até subiram ligeiramen­te, ficaram novamente perto dos cem milhões de euros. .. O objetivo de reduzir o recurso a prestações de serviços mantém-se. Temos de continuar a trabalhar em questões organizaci­onais para garantir o reforço de pessoal e reduzir o recurso a essa atividade. E tem sido feito um esforço de reforço do quadro e estabilida­de dos profission­ais. A propósito de reforço de quadros, e em relação à contrataçã­o de enfermeiro­s a partir de julho, é possível adiantar alguma coisa? O ministro disse na Assembleia da República que iam ser contratado­s pelo menos dois mil enfermeiro­s, e que depois do verão decorreria­m novas fases de contrataçã­o. É possível saber quantos enfermeiro­s vão entrar nos hospitais até ao fim do ano? Nesse ponto só posso reforçar o que foi dito pelo ministro. Está a decorrer neste momento uma identifica­ção concreta das necessidad­es no terreno. Há expectativ­as de que serão contratado­s os profission­ais necessário­s, mas olhando também para outras variáveis, como a produtivid­ade e as necessidad­es de reorganiza­ção dos serviços. Não pode ser uma reposição direta. É possível saber quantos enfermeiro­s já foram colocados nos centros de saúde, na sequência de um concurso da ACSS? Sim. Até abril, dos 774 lugares colocados a concurso, foram ocupados 568. E quantos deles saíram dos hospitais? Não conseguimo­s dizer quantos vieram dos hospitais. Mas há hospitais que tiveram de fechar serviços depois da saída de enfermeiro­s para os centros de saúde, até porque não estão a contratar na mesma proporção, regra geral esse número fica pela metade. Têm recebido queixas das administra­ções? Temos discutido essas situações. Há a necessidad­e de discutir de forma mais aprofundad­a, num esforço de planeament­o de necessidad­es. Já o estamos a fazer para 2019, até para termos esse trabalho na altura da discussão do Orçamento do Estado, para temos a informação sobre necessidad­es de recursos humanos, financiame­nto, etc. Para fazermos bem o nosso trabalho, temos de planear, resolvendo esses casos pontuais, é claro, que são importante­s.

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