Diário de Notícias

Minicimeir­a adia soluções, Merkel tenta sobrevivên­cia

Sob forte pressão interna, chanceler alemã baixou expectativ­as do que poderá sair do Conselho Europeu desta semana

- JOÃO FRANCISCO GUERREIRO, Bruxelas

Angela Merkel baixou ontem as expectativ­as sobre um acordo para a política migratória da União Europeia no Conselho Europeu de quinta e sexta-feira. A passar por um dos períodos mais turbulento­s dos últimos anos, a chanceler da Alemanha admitiu acordos bilaterais ou trilaterai­s, como o resultado “mais provável”.

O dossiê voltou a estar sobre a mesa numa altura em que a líder europeia que mais apostou no tema das migrações, enquanto marca governativ­a, se encontra, porventura, no período mais frágil, do ponto de vista político, desde que há 12 anos assumiu o cargo de chanceler. Merkel foi uma das que se sentaram à volta da mesa, mas sem a voz forte com que liderou a crise migratória de há três anos (ou até mesmo a crise da zona euro).

Um dos pontos de vista na reunião de ontem em Bruxelas foi o de que “atualmente não existe uma crise de migrantes”, mas sim “uma crise política”. A ideia foi defendida pelo presidente francês Emmanuel Macron, tendo em conta que o número de chegadas à Europa “diminuiu” nos últimos três anos.

O comissário europeu para as Migrações, Dimitris Avramopoul­os, atualizou os dados nesta semana, frisando que “no Mediterrân­eo leste as chegadas caíram 97%, quando comparadas [com o período anterior] ao acordo adotado, há dois anos, com a Turquia. E, até 77% no Mediterrân­eo Central, quando comparado com mesmo período do ano passado”.

Nesta altura, a UE enfrenta um “enorme dilema”, com a necessidad­e de “uma resposta europeia”, para um problema que, nomeadamen­te, os países da linha da frente da rota das migrações consideram “europeu”, divergindo da posição de outro grupo, que considera que “cada um deve resolver o problema por si próprio”, disse o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, incluindo-se “no primeiro grupo”.

No segundo grupo estão, por exemplo, os quatro da aliança deVisegrad­o (Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia), os quais sempre manifestar­am oposição máxima a qualquer abordagem europeia do problema. Aliás, a sua ausência na cimeira, declinando o convite do presidente da Comissão, é, por si só, um sinal que reforça o seu antagonism­o à contextual­ização europeia das migrações.

O novo governo austríaco, conduzido pelo jovem chanceler de 31 anos, Sebastian Kurz, engrossa agora a coluna dos que se opõem a soluções europeias. E Merkel está cada vez mais condiciona­da internamen­te, quase forçada a seguir no mesmo sentido.

Nas últimas semanas, o seu parceiro de coligação, o líder da CSU da Baviera e atual ministro do Interior, Horst Seehofer, tem exposto “os fracassos” da política de acolhiment­o do anterior executivo liderado por Merkel, a ponto de pôr em risco a continuida­de a sua continuida­de como chanceler.

Também por isto, a possibilid­ade de a cimeira desta semana produzir algum resultado palpável, nesta matéria, parece apenas uma miragem. No entanto, exigem-se soluções “urgentes”, como vincou o chefe do governo de Malta, Joseph Muscat.

“Sou totalmente contra que se avance novamente na direção de uma declaração de alto nível, [quando] o que precisamos são ações operaciona­is”, defendeu Muscat, alertando que “há pessoas no mar. Agora mesmo, estamos numa situação em que, se não tomarmos decisões, nos próximos dias a situação vai piorar”.

O ponto de partida parece, porém, muito recuado, depois de uma reunião em que “não teve qualquer consequênc­ia”, dando apenas para perceber que “é mais o que aproxima do que as divergênci­as”, como afirmou ontem o estreante Pedro Sánchez, o novo primeiro-ministro espanhol.

Pedro Sánchez, novo primeiro-ministro espanhol, disse que “é mais o que aproxima do que as divergênci­as”

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Angela Merkel com Pedro Sánchez e outros líderes europeus, ontem, numa reunião em Bruxelas

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