Minicimeira adia soluções, Merkel tenta sobrevivência
Sob forte pressão interna, chanceler alemã baixou expectativas do que poderá sair do Conselho Europeu desta semana
Angela Merkel baixou ontem as expectativas sobre um acordo para a política migratória da União Europeia no Conselho Europeu de quinta e sexta-feira. A passar por um dos períodos mais turbulentos dos últimos anos, a chanceler da Alemanha admitiu acordos bilaterais ou trilaterais, como o resultado “mais provável”.
O dossiê voltou a estar sobre a mesa numa altura em que a líder europeia que mais apostou no tema das migrações, enquanto marca governativa, se encontra, porventura, no período mais frágil, do ponto de vista político, desde que há 12 anos assumiu o cargo de chanceler. Merkel foi uma das que se sentaram à volta da mesa, mas sem a voz forte com que liderou a crise migratória de há três anos (ou até mesmo a crise da zona euro).
Um dos pontos de vista na reunião de ontem em Bruxelas foi o de que “atualmente não existe uma crise de migrantes”, mas sim “uma crise política”. A ideia foi defendida pelo presidente francês Emmanuel Macron, tendo em conta que o número de chegadas à Europa “diminuiu” nos últimos três anos.
O comissário europeu para as Migrações, Dimitris Avramopoulos, atualizou os dados nesta semana, frisando que “no Mediterrâneo leste as chegadas caíram 97%, quando comparadas [com o período anterior] ao acordo adotado, há dois anos, com a Turquia. E, até 77% no Mediterrâneo Central, quando comparado com mesmo período do ano passado”.
Nesta altura, a UE enfrenta um “enorme dilema”, com a necessidade de “uma resposta europeia”, para um problema que, nomeadamente, os países da linha da frente da rota das migrações consideram “europeu”, divergindo da posição de outro grupo, que considera que “cada um deve resolver o problema por si próprio”, disse o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, incluindo-se “no primeiro grupo”.
No segundo grupo estão, por exemplo, os quatro da aliança deVisegrado (Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia), os quais sempre manifestaram oposição máxima a qualquer abordagem europeia do problema. Aliás, a sua ausência na cimeira, declinando o convite do presidente da Comissão, é, por si só, um sinal que reforça o seu antagonismo à contextualização europeia das migrações.
O novo governo austríaco, conduzido pelo jovem chanceler de 31 anos, Sebastian Kurz, engrossa agora a coluna dos que se opõem a soluções europeias. E Merkel está cada vez mais condicionada internamente, quase forçada a seguir no mesmo sentido.
Nas últimas semanas, o seu parceiro de coligação, o líder da CSU da Baviera e atual ministro do Interior, Horst Seehofer, tem exposto “os fracassos” da política de acolhimento do anterior executivo liderado por Merkel, a ponto de pôr em risco a continuidade a sua continuidade como chanceler.
Também por isto, a possibilidade de a cimeira desta semana produzir algum resultado palpável, nesta matéria, parece apenas uma miragem. No entanto, exigem-se soluções “urgentes”, como vincou o chefe do governo de Malta, Joseph Muscat.
“Sou totalmente contra que se avance novamente na direção de uma declaração de alto nível, [quando] o que precisamos são ações operacionais”, defendeu Muscat, alertando que “há pessoas no mar. Agora mesmo, estamos numa situação em que, se não tomarmos decisões, nos próximos dias a situação vai piorar”.
O ponto de partida parece, porém, muito recuado, depois de uma reunião em que “não teve qualquer consequência”, dando apenas para perceber que “é mais o que aproxima do que as divergências”, como afirmou ontem o estreante Pedro Sánchez, o novo primeiro-ministro espanhol.
Pedro Sánchez, novo primeiro-ministro espanhol, disse que “é mais o que aproxima do que as divergências”