Diário de Notícias

Cara leitora, amiga e leal

- FERREIRA FERNANDES JORNALISTA

Eusei, essa blusa cinzentaé condição, nãoées colha. Avidaéquen os impõem ui todo que usamos e isso tende a repetir-se mais com o passar dos tempos. A velha senhora levantou-se da sua mesa num café de Campo de Ourique e veio na minha direção, de olhar firme. Trazia um jornal nas mãos, agarrado pela dobra, as folhas esvoaçante­s viradas para o chão. O jornal ainda há pouco estava a ser lido. Eu sabia ao que eles vinham – ela e o DN. Parou à minha mesa.“Vai acabar?”, perguntou. Nas últimas semanas, a essa pergunta eu tenho respondido com clareza. Claro que não! O DN não só não vai acabar como vai ter maior e melhor relação com os leitores. Todos os dias vai estar mais presente, num site dedicado a melhor informar. O leitor ganhará com o que a tecnologia agora permite, como ganhou quando o cabo submarino juntou Lisboa a Londres e Nova Iorque – na edição inaugural do DN, há 153 anos, tivemos uma notícia sobre um discurso de Lincoln, em plena Guerra da Secessão. E, depois, as fotografia­s. E, depois, elas a cores. E, depois, tantas mudanças... Na eleição de Mandela (há só um quarto de século), era eu repórter pelas estradas da África do Sul, os infográfic­os recolhiam do meu computador, por telefone, o texto à hora de jantar, mas os leitores só o leriam ao pequeno-almoço. Ontem, fomos vendo e lendo as mulheres sauditas a fazer uma revolução e até a ligar, em direto, a ignição do carro... Não, o DN não vai acabar, pelo contrário, vai estar – todos os dias e todos os minutos – tão vivo quanto a modernidad­e o permite. A mudança do próximo domingo, 1 de julho, é simples continuaçã­o do que temos mudado. E mais: ao domingo, o DN vai ser o jornal de sempre, em papel, só que muito, muito melhor ... É is soque eu tenho dito–eé sincero e é verdade. Mas não foi is soque eud is seàve lha senhora do café, em Campo de Ourique. Convidei-a asentar-seàminh ames a. Foi alunado colégio de Odivelas, como a minha mãe.Trabalhou na estação dos CTT ao fundo da Calçada da Estrela e lia o seu jornal no elétrico, quando ia para o emprego. Quando foi da Desfolhada, a canção de Simone na Eurovisão, até se zangou com o homem do quiosque porque ele não lhe reservara o jornal e o DN esgotou: “Eu ia no 28, zangada, todos com o jornal e eu não...” Está reformada há tantos anos e os eu luxoéo jornal de todos os dias, no café. Não lhe aconselhei iPad, computador ou telemóvel e o DN de domingo, em papel, não lhe resolvia o hábito de todos os dias. Eu estava triste e envergonha­do. Disse o que tinha para lhe dizer: “Desculpe.” Que mais posso dizer, senão que o que vou tirar à velha e leal leitora obriga o DN a ser melhor?

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