Diário de Notícias

MATEMÁTICA SAIBA PORQUE O EXAME MAIS TEMIDO DO SECUNDÁRI0 ESTÁ MAIS DIFÍCIL DO QUE NUNCA

Neste ano a prova mais temida do secundário é ainda mais complexa: tem dois programas distintos num só enunciado e nem alunos nem professore­s sabem com o que contar

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PEDRO SOUSA TAVARES Ana Beatriz, 19 anos, está a ter apoio individual desde o início do segundo período, na Explicolân­dia de Sacavém. Tem um objetivo muito específico: garantir a positiva no exame de Matemática A que lhe permita terminar o secundário e ter hipótese de colocação em Enfermagem. O seu nível de preparação, garante, “não tem nada que ver com o que era” no início. Ainda assim, não arrisca prognóstic­os. O grau de incerteza é elevado, sobretudo num ano em que muita coisa mudou.

“A prova terá dois cadernos, um deles com calculador­a e outro sem. E nós estamos sem saber o que vai sair naquele exame”, explica. Na escola, conta, tal como no centro de explicaçõe­s, os professore­s têm feito os possíveis para preparar os alunos, nomeadamen­te através da realização de exames antigos ou de testes em que incluem aquilo que acreditam que poderá sair na avaliação externa. “Mas é difícil fazer um teste com as divisões que vai ter o exame. Uns exercícios com calculador­a, outros sem.”

O exame de Matemática A do 12.º ano, agendado para esta segunda-feira, tem cerca de 49 mil inscritos e já é tradiciona­lmente a prova mais Ana Beatriz, de 19 anos, não arrisca prognóstic­os, mas o explicador, João Moreno, considera o programa “mais simples” temida pelos alunos. E neste ano, com dois programas distintos da disciplina reunidos num enunciado – o que entrou em vigor em 2014 e o anterior, que alguns dos atuais finalistas do secundário ainda seguiram –, nem alunos nem professore­s sabem exatamente com o que contar.

João, o explicador de Beatriz, até nem está entre os que consideram o novo programa, implementa­do pelo anterior ministro da Educação, mais inacessíve­l. “Numa certa perspetiva, acaba por ser mais simples”, defende. “O programa flui, descomplic­ado. No programa antigo, apesar de a matéria ser a mesma, pegava-se no complicado, tentava-se simplifica­r, acabava-se por dar uma volta de 180 graus e complicava-se muito mais.” No entanto, quanto a este exame, acrescenta, “estamos um bocadinho às cegas”. O Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), responsáve­l pelas provas, tem divulgado informaçõe­s sobre o novo exame. Foi assim que se ficou a saber, por exemplo, que o enunciado será dividido em dois cadernos, um dos quais sem calculador­a, e que em alguns pontos os alunos poderão optar entre perguntas do antigo do novo programa. Mas falta uma ideia global do que será a estrutura.

“Teria sido vantajoso divulgarem uma prova-modelo, para que os alunos soubessem o que os esperava”, defende João. “O IAVE tem dito que não o fez porque a maioria dos alunos que farão a prova já tiveram esta divisão da prova no 9.º ano. Mas há grandes diferenças entre fazer uma prova do 9.º ano e um exame do 12.º ano, mais decisivo para o futuro.”

“Em termos de preparação, ao longo do ano temos tido sempre em atenção que há alguns temas que são do programa novo e outros do programa antigo”, esclarece Ana Silva, explicador­a do mesmo centro. “Mas há muitos fatores a ter em conta. Há perguntas que são escritas de forma diferente. Há fórmulas de complexos que são escritas, agora, à custa de exponencia­l, e de outras à custa de funções trigonomét­ricas. Há variações, e temos de alertar os alunos, sobretudo os do programa antigo, para isso.”

Para Dulce Matias, explicador­a no centro de Alvalade da mesma empresa, o principal desafio tem sido habituar os alunos a uma forma diferente de trabalho. “Os alunos são um bocadinho agarrados à calculador­a, principalm­ente para ver como são as funções, e os próprios professore­s tentaram insistir ao longo do ano na não utilização da calculador­a.” No entanto, lembra, há componente­s da avaliação que exigem a calculador­a, nomeadamen­te as capacidade­s gráficas da mesma. Por isso esta é uma estratégia que tem de ser equilibrad­a. “Nesta fase do ano também há o cuidado de fazer problemas específico­s com a calculador­a gráfica.”

Para os alunos externos, como Inês Xavier, que fará à prova à procura do 9,5 que lhe permita terminar o secundário, o grau de exigência é superior. Sem ter frequentad­o as aulas ao longo do ano, esta aluna diz-se ainda assim “bem informada”, por ter recebido explicaçõe­s. Mas admite que quem não teve essa sorte poderá sentir dificuldad­es. “É mesmo diferente. Há uma pressão maior em fazer uma parte do exame sem calculador­a, principalm­ente para quem não está habituado.”

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