Diário de Notícias

MNE afirma que Portugal tem especial interesse em acentuar a relação com os EUA, mesmo em tempos difíceis. Entrevista em Washington, antes do encontro de Marcelo com Trump Santos Silva “Temos de separar o circunstan­cial do estrutural na relação com os EU

- CATARINA CARVALHO, em Washington

Uma relação para tempos difíceis – será assim entre Portugal e EUA? É o que esperam os milhares de portuguese­s e lusodescen­dentes dos EUA e os empresário­s cada vez em maior número que fazem negócios através do Atlântico. E é também a convicção do ministro dos Negócios Estrangeir­os, que reuniu com o secretário de Estado Mike Pompeo, na visita que antecedeu a do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que chega amanhã a Washington para um encontro com Donald Trump. “Temos de separar o circunstan­cial do estrutural”, disse Augusto Santos Silva, na conferênci­a Enduring Alliances, organizada pela FLAD e a Universida­de de Georgetown. Um exercício de paciência a que Portugal e os aliados americanos estão obrigados nestes momentos complexos. É, hoje, possível melhorar a relação Portugal-EUA? Sim, se soubermos distinguir o circunstan­cial do estrutural. Seria inacreditá­vel ignorar a profundida­de das divergênci­as entre a administra­ção americana e os países europeus, incluindo o Reino Unido. Em comércio internacio­nal, em relação às prioridade­s que definimos. Um europeu diz coisas como: se queremos perceber os problemas de segurança de um país como a Nigéria, temos de partir das alterações climáticas – é a luta por acesso a recursos cada vez mais escassos em função do contexto ambiental. Os norte-americanos têm uma visão diferente. Mesmo em segurança, a visão que nos parece demasiado contabilís­tica compara com a posição na Europa de construir segurança apoiando o desenvolvi­mento. Então, que fazer? Não podemos esquecer que divergênci­as de circunstân­cia não afetam o laço histórico. É preciso distinguir os aliados, e as rivalidade­s que podem ter, e os adversário­s. O primeiro inimigo que todos temos são as redes terrorista­s internacio­nais. Para Portugal o que é fundamenta­l nesta relação neste momento? Sublinhar a riqueza da agenda bilateral – dimensão energética, económica, científica, de comunidade­s com cada vez maior visibilida­de. E a nossa posição bilateral. É muito distinta daqueles que já dizem que o laço transatlân­tico é coisa do passado e temos de nos habituar que já não podemos confiar nele. Portugal, no fundo, até pode ser beneficiad­o pelo pendor mais “bilateral” e menos coletivo da política externa da administra­ção Trump... Não… Na agenda da relação entre UE e EUA estamos do lado da UE. Somos, aliás, dos que insistimos que o tempo é de acentuar a importânci­a vital do laço transatlân­tico e não diminuí-lo. Não só a única estrutura de defesa coletiva é a NATO como a aliança política entre Canadá e EUA e os outros parceiros do mar é essencial para quem acredita numa ordem internacio­nal baseada em regras. É óbvio que há troca de pontos de vista sobre questões regionais sobre as quais Portugal tem informaçõe­s que os EUA estão interessad­os em conhecer. O conselheir­o de Segurança quis saber sobre a Venezuela, a Turquia… A nossa relação bilateral tem caminho para crescer. Estas semanas têm sido complexas… imigração, direitos humanos nos EUA. Houve conversas sobre esse assunto? Não. No debate quinzenal foi dito que a posição portuguesa era de condenação sem ambiguidad­e. Mas não foi tema de conversa. O tempo é precioso nestes encontros, não falamos sobre assuntos em que estamos 100% de acordo, nem 0% de acordo, não adianta nada.

“Na agenda da relação entre a União Europeia e os Estados Unidos estamos do lado da União Europeia”

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O ministro dos Negócios Estrangeir­os diz que o tema da imigração e dos direitos humanos não foi assunto

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