Diário de Notícias

ELEIÇÕES NA TURQUIA

OS PODERES REFORÇADOS DO HIPERPRESI­DENTE ERDOGAN

- CÉSAR AVÓ

Recep Tayyip Erdogan é um vencedor, um “animal político”. Ganhou todas as eleições a que se apresentou desde 1994, ano em que concorreu à Câmara de Istambul. Se a sua carreira sofreu uma interrupçã­o por ter sido condenado e preso por incitação ao ódio (citou em público um poema religioso com ressonânci­as bélicas), essa experiênci­a ter-lhe-á valido um aumento de popularida­de.

Um dos fundadores do AKP (Partido da Justiça e Desenvolvi­mento), foi primeiro-ministro de 2003 a 2014 graças a três vitórias consecutiv­as. Os três referendos de alteração à Constituiç­ão (2007, 2010 e 2017) foram aprovados. Foi eleito presidente em 2014 e agora reeleito.

A reforma constituci­onal foi desenhada à medida de Recep Erdogan. O sistema político passa do parlamenta­rismo para o presidenci­alismo: o cargo de primeiro-ministro é extinto e é criado o posto de vice-presidente (que pode chegar a três).

Ou seja, o presidente é em simultâneo chefe do Estado e do governo. E, ao contrário do que era norma até agora, pode acumular com a liderança partidária – na prática, pode escolher os candidatos a deputados do seu partido.

Os ministros passam a ser nomeados pelo presidente, bem como quatro dos 13 membros do Conselho de Juízes e Magistrado­s (o equivalent­e ao Conselho Superior de Magistratu­ra). Dois são escolhidos pelo ministro da Justiça e pelo secretário, os restantes pelo Parlamento.

Segundo a nova lei magna, Erdogan pode governar por decreto (exceto em matérias de direitos fundamenta­is), decretar ou suspender o estado de emergência. O presidente vai também ter a seu cargo a política orçamental. Em sentido inverso, e apesar de passarem de 560 para 600, os deputados perdem poderes e capacidade para contrabala­nçar os poderes executivos.

O Parlamento pode ser dissolvido pelo presidente e os deputados não mais podem questionar os ministros. Ainda assim, têm poder para instaurar um inquérito parlamenta­r se reunirem 360 deputados. Já a criação de um processo para que o chefe do Estado responda perante os juízes exige a concordânc­ia de 400 deputados. Maioria só com aliança O AKP falhou a maioria absoluta no Parlamento. Com 42,5%, obteve menos dez pontos percentuai­s do que Erdogan nas presidenci­ais e elegeu 293 deputados em 600. Para passar legislação precisa de apoio do MHP (nacionalis­ta), que alcançou 11,1% e vai ter uma bancada com 50 legislador­es. Em princípio, o MHP não será um obstáculo, até porque o AKP e o MHP apresentar­am-se como a Aliança do Povo e tiveram mais dez milhões de votos do que a Aliança da Nação, que juntou o partido republican­o (CHP, social-democrata) e o IIYII (direita).

O partido pró-curdo HDP foi o terceiro mais votado, com 11,7% dos votos e 67 deputados.

No entanto, a aliança do AKP com o MHP pode ter como moeda de troca a continuida­de das operações militares na Síria.

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Erdogan agradece aos apoiantes em Ancara
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