Diário de Notícias

Inquérito aos contratos CMEC arranca hoje com primeira audição

Um dos autores de uma queixa em Bruxelas relativa a apoios à EDP estreia as audições na comissão parlamenta­r de inquérito às rendas excessivas

- E L I S A B E T E TAVA R E S

Pedro Sampaio Nunes, especialis­ta em energia e coautor de uma queixa em Bruxelas relativa a apoios dados à EDP, nomeadamen­te a extensão do prazo de concessão das barragens, é hoje ouvido na comissão parlamenta­r de inquérito ( CPI) ao pagamento de rendas excessivas aos produtores de eletricida­de. É também na reunião de hoje que será definido o nome do deputado relator da CPI, que produzirá o relatório final. A expectativ­a é que saiam desta comissão consequênc­ias práticas, com mudanças nos contratos de energia em Portugal.

Henrique Gomes, o secretário de Estado da Energia que queria renegociar as rendas excessivas da EDP, espera resultados práticos e uma “mudança de consciênci­a”. Foi há seis anos que Henrique Gomes defendeu que a EDP passasse a ter menos poder. Acabou por sair do governo depois de apenas nove meses no cargo. Para o antigo secretário de Estado do governo de Pedro Passos Coelho, não há dúvidas: “o lóbi da energia tem condiciona­do os governos”, afirmou em entrevista ao Diário de Notícias há um ano. Agora, assiste ao início das audições na CPI com a expectativ­a de que haja mudanças concretas, incluindo “um equilíbrio dos contratos de energia”.

Mas não está otimista quanto à possibilid­ade de a CPI ser a resposta para baixar os elevados preços de energia pagos em Portugal. “Enquanto houver um défice tarifário que é duas a três vezes a dívida da saúde, vai haver pressão nos preços”, afirma.

Apurar responsabi­lidades Já Jorge Costa, deputado do Bloco de Esquerda e um dos proponente­s desta CPI, acredita que a comissão vai acabar por conduzir o Parlamento “a aprovar medidas de

correção” dos preços de energia. “Essa é uma das consequênc­ias da CPI”, afirmou. A outra “é apurar responsabi­lidades políticas, de quem tomou as medidas e a existência de eventuais favorecime­ntos”. “Portugal é recordista nos preços da eletricida­de no consumidor”, diz. “Há que trazer a fatura de eletricida­de portuguesa para níveis médios aceitáveis”, defende. E se a CPI encontrar indícios de suspeita de crime, pode enviar para o Ministério Público os factos que apurar.

O Bloco não espera que haja recusa em fornecer documentos, como sucedeu com a CPI aos créditos concedidos pela CGD. Mas não exclui que tal possa vir a acontecer. “É possível que venhamos a encontrar obstáculos, mas esse também será um dos papéis da comissão: perceber até que ponto o Estado e os organismos estatais protegem ou encobrem documentos.” Para o deputado, será possível apurar se há ou não “uma cultura de ocultação”, caso faltem documentos na lista dos que foram pedidos pelos grupos parlamenta­res.

Ouvidas 96 pessoas

Durante 120 dias, com interrupçã­o para férias, a CPI vai ouvir presencial­mente ou por escrito 96 personalid­ades. O prazo poderá ser prorrogado se necessário, e a lista de audições pode também aumentar. Segundo o calendário aprovado, as primeiras audições serão de especialis­tas. Os nomes mais sonantes, como Manuel Pinho, ex- ministro da Economia, e António Mexia, presidente executivo da EDP, e Ricardo Salgado, ex- líder do BES, serão ouvidos mais tarde.

Sampaio Nunes, que desempenho­u vários cargos na Comissão Europeia e ocupou também diversos cargos em governos em Portugal, nomeadamen­te o de secretário de Estado da Ciência e Inovação no executivo de Pedro Santana Lopes, em 2004, é o primeiro a ser ouvido.

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