EXERCÍCIO DRONES DIFÍCEIS DE COMBATER MESMO POR NAVIOS DE GUERRA
Defesa. Ataques cibernéticos e com drones foram testados pela primeira vez pela Marinha no Swordfish, um exercício multinacional com mais quatro países europeus envolvidos
Um drone comercial adquirido por menos de 800 euros conseguiu evitar os radares e sistemas de armas dos navios de guerra, que custam centenas de milhões de euros, que operavam junto de uma cidade portuária na costa portuguesa.
No que foi o primeiro teste de um ataque com drones a uma força naval localizada próximo de áreas densamente povoadas, onde as chamadas regras de empenhamento impunham limitações de recurso às armas automáticas de grande calibre ( para evitar vítimas civis) e de contramedidas eletrónicas ( para não afetar as redes digitais civis), o exercício militar Swordfish 2018 revelou o elevado grau de ameaça militar que atualmente representam os aparelhos não tripulados mesmo pouco complexos.
A informação foi dada nesta terça- feira pelo comandante naval, vice- almirante Gouveia e Melo, du- rante a visita do ministro da Defesa e do secretário de Estado da Defesa à fragata D. Francisco de Almeida, o navio chefe da força – 12 navios, 11 aeronaves, 2381 militares – de cinco países ( Portugal, Espanha, França, Reino Unido e Itália) que participaram naquele grande exercício bienal ao largo de Setúbal.
O exercício conjunto ( diferentes ramos) e combinado ( com vários países) simulou a resposta a uma situação de crise, em que as Nações Unidas mandataram uma força militar multinacional para responder ao apelo de um Estado falhado, com dissidentes apoiados pela potência hegemónica na região e que se opõe à operação internacional de embargo e estabilização.
Enquanto se ouvia um oficial na ponte da fragata dar uma ordem de “máquinas avante 120”, após um sobrevoo de dois caças F- 16 e a passagem em voo rasante de uma aeronave de patrulhamento marí- timo a lançar uma sonoboia para localizar um submarino inimigo, o comandante da força militar, comandante Diogo Arroteia, explicou ao DN que o exercício com os drones constituiu “uma primeira experimentação” para verificar se era possível destruir um drone com armamento ligeiro.
Mesmo num ambiente eletromagnético “muito saturado” com a utilização dos radares – de aviso, defesa aérea, navegação – dos 12 navios, a incapacidade de abater um drone com cerca de metro e meio de largura e uns 80 centímetros de comprimento explica- se pela sua pequena dimensão e movimentação muito rápida. E uma caçadeira? Solução para uma ameaça de deteção visual e a cerca de 1500 metros de distância? “Talvez uma caçadeira de canos serrados”, admitiu Diogo Arroteia, frisando que estudar e encontrar essas respostas vão ser os próximos passos desta lição aprendida.
Para o ministro Azeredo Lopes, com o Swordfish 2018 “fica provado que temos de estar sempre a trabalhar para estarmos sempre preparados, fica provado que é impossível assegurarmos o que quer que seja se não trabalharmos em conjunto com os amigos e aliados, fica provado que temos uma excelente Marinha”.
Neste caso, foi possível “testar a capacidade defensiva perante drones que podem ser muito baratos mas também muito eficientes”, alertou o governante, realçando a participação no Swordfish de países com “uma tradição de defesa muito europeia e baseada num princípio de segurança coletiva”. Exemplo disso foi o do desembarque anfíbio lançado por fuzileiros portugueses a partir de um navio polivalente logístico espanhol.
A ciberdefesa foi outra componente treinada pela primeira vez pela Marinha num exercício desta dimensão, com os ataques cibernéticos a obrigarem as guarnições a combater com meios alternativos às redes informáticas, referiu Gouveia e Melo.
O comandante da Marinha, almirante Mendes Calado, destacou a importância da “capacidade de comando e controlo” dos múltiplos meios de diferentes países presentes no teatro de operações por parte do ramo, revelando como “por trás está imenso treino, imensa coordenação e imenso esforço”. Demonstração de desembarque anfíbio, operação de submarinos, defesa aérea e de assalto a uma embarcação – que “fazemos com grande frequência nas nossas operações [ militares] de rotina”, disse o almirante – foram algumas das capacidades destacadas por Mendes Calado para garantir que o ramo opere em segurança no mar.