Diário de Notícias

Agência alemã afasta bolha no imobiliári­o em Portugal

A Scope Ratings admite perigo nos preços em algumas zonas do país, mas rejeita a hipótese de existir sobrevalor­ização no mercado

- RUI BARROSO

A subida no preço das casas em Portugal tem sido imparável nos últimos anos. E há segmentos que apresentam sinais de risco, segundo a Scope Ratings. No entanto, a agência alemã descarta que existam indicações de que se esteja a formar uma bolha no mercado que possa vir a ter impacto na economia do país.

“Não se antevê indicações de que se esteja a desenvolve­r uma bolha no preço da habitação”, defendeu a agência num relatório divulgado ontem e a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso. A análise estende-se à chamada periferia da zona euro. Segundo a Scope Ratings, desde a grande crise financeira os preços das casas subiram quase 27% em Portugal em termos reais. O aumento é superior aos 17% verificado­s em Espanha, mas inferior aos quase 60% na Irlanda.

A Scope considera que esses aumentos são uma recuperaçã­o das quedas observadas durante a crise, que deixaram o imobiliári­o subavaliad­o. Mas refere que, em economias como a portuguesa, “o investimen­to estrangeir­o faz aumentar, até certo ponto, o perigo de subidas exuberante­s mas limitadas a poucos segmentos”. A Scope nota que o apetite de estrangeir­os por casas em Portugal subiu desde 2009, devido a alterações fiscais, e que tem aumentado de forma contínua.

O Banco de Portugal tinha já referido neste mês no Relatório de Estabilida­de Financeira que o interesse de estrangeir­os era uma das principais causas da subida dos preços em Portugal.

O supervisor alertava para a existência de “alguns sinais, embora muito limitados, de sobrevalor­ização dos preços”. E referia que “a relevância de investidor­es não residentes neste mercado aumenta a vulnerabil­idade a subidas abruptas e significat­ivas dos prémios de risco a nível internacio­nal, dado o ajustament­o mais célere que tende a caracteriz­ar estes investidor­es”. Mais subidas estão limitadas Apesar do ritmo rápido das subidas nos preços das casas, os analistas da Scope Ratings defendem que essa velocidade nos aumentos vai ficar mais moderada. “Não se antecipa uma aceleração forte daqui para a frente”, dizem os analistas da agência. Pelo menos até “as taxas ainda elevadas de desemprego descerem de forma significat­iva. Sem mais emprego e sem uma subida sólida dos salários, a procura interna por habitação continuará fraca”.

No caso de Portugal, a agência sublinha que apesar de “ter recuperado cerca de 450 mil dos 800 mil empregos perdidos durante a crise financeira (reduzindo a taxa de desemprego para 7,4% em abril), os inativos desencoraj­ados ainda são mais de 10% da força de trabalho disponível, o que restringe uma geração mais forte de rendimento”.

Apesar de descartar o cenário de uma bolha especulati­va, a Scope admite que existe o risco de desvaloriz­ação das casas, o que poderia afetar a qualidade de crédito dos bancos. Mas a agência considera que o setor português está agora mais bem capitaliza­do e tem feito progressos na redução do malparado. A entidade alemã tem um rating de BBB para a dívida pública portuguesa, dois níveis acima de lixo.

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Portugal é um dos países onde os preços das casas mais subiram

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