Diário de Notícias

Costa quer ACNUR e OIM nas plataforma­s de desembarqu­e

Primeiro-ministro português disse em Bruxelas que é inadmissív­el que todos os anos morram milhares de seres humanos nas rotas das migrações rumo à Europa

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Presidente francês, Emmanuel Macron, cumpriment­a o primeiro-ministro português, António Costa, no início do Conselho Europeu JOÃO FRANCISCO GUERREIRO, Bruxelas António Costa considerou ontem em Bruxelas que “não é admissível” que todos os anos morram “milhares de seres humanos” nas rotas das migrações “por não haver capacidade da Europa” para fazer uma gestão adequada para acolher “aqueles que carecem de proteção”.

O primeiro-ministro português falava à entrada para a reunião do Conselho Europeu, em que se discutiram estratégia­s para fazer essa gestão dos migrantes e dos refugiados. Em cima da mesa está a proposta para a criação das chamadas plataforma­s regionais de desembarqu­e, desde já apoiada pelo governo de Portugal, desde que coordenada com entidades relevantes na área.

“Não é aceitável que não trabalhemo­s com o ACNUR [e] com a OIM, tendo em vista encontrar plataforma­s do lado de cá ou do lado de lá do Mediterrân­eo, que permitam a existência desses canais legais e seguros, para que possamos cumprir a nossa obrigação de acolher todos aqueles que carecem de proteção”, defendeu.

A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu igualmente a colaboraçã­o do Alto Comissaria­do para as Nações Unidas e da Organizaçã­o Internacio­nal das Migrações (ver texto nas páginas 4 e 5). Esta manhã, antes de viajar para Bruxelas considerou que a “Europa enfrenta muitos desafios, mas a questão das migrações pode decidir o destino da União Europeia”.

As posições estão de tal forma extremadas que as expectativ­as para um acordo, sobre o funcioname­nto destas plataforma­s, a par do reforço da solidaried­ade europeia, são muito baixas. Um dos exemplos emblemátic­os desse estado de crispação à volta da mesa foi manifestad­o pelo chefe do governo húngaro. Viktor Orbán considera que “é o momento certo para lançar um novo período, para tentar reconstrui­r a democracia europeia”, consideran­do que tal passa por “expulsar a invasão”.

“Espero que avancemos agora no sentido de construirm­os a democracia europeia. E esperemos que avancemos agora na direção da reconstruç­ão da Europa e da democracia e, finalmente, fazermos aquilo que as pessoas nos pedem. E penso que as pessoas nos pedem duas coisas: que não haja mais entradas – então, que sejam travados –, e que esses que já cá estão devem ser enviados de volta.”

Talvez seja perante este tipo de posições mais duras, que já existiam, mas que agora foram reforçadas, com a atuação do novo governo italiano, que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, alertou para importânci­a de ver aprovada a proposta que trouxe para a discussão, de outro modo a Europa poderá assistir a “um encerramen­to caótico de fronteiras”.

O presidente Francês, Emmanuel Macron, reconheceu que “há muito trabalho para fazer”, incluindo o de convencer “o Grupo de Visegrado”. No entanto, manifestou-se confiante num acordo. “Penso que o interesse fundamenta­l de todos os membros europeus é que nenhuma opção seja nacionalis­ta e não cooperativ­a”, afirmou, criticando indiretame­nte os líderes do grupo antimigraç­ão. Emmanuel Macron apoia uma solução muito semelhante à defendida por António Costa “baseada na cooperação, em relação a países terceiros, para proteger as nossas fronteiras e para ter mais solidaried­ade entre os Estados membros”.

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