Estratégia de política externa
Ofuturo de Portugal passa por sabermos aproveitar, com uma clara estratégia nacional, a nossa posição geográfica. Passa por sabermos olhar e interpretar o mapa-mundo onde nos inserimos. Se o fizermos saberemos transformar a nossa geografia numa mais-valia geopolítica e geoeconómica.
É bom que tenhamos em conta que Portugal não é um país periférico nem é apenas um país europeu. Somos um país euro-atlântico constituído por Portugal continental, pelos Açores, pela Madeira mas também pela nossa diáspora e pela nossa história e língua. Temos uma posição geográfica privilegiada e não a saber aproveitar – como já o fizemos, tão bem, nos séculos XV e XVI – seria um erro histórico.
Portugal é muito maior no mar do que em terra. A nossa Zona Económica Exclusiva é, neste momento, de 1,728 milhões de quilómetros quadrados sendo que 80% dessa zona refere-se aos Açores e à Madeira. Com a extensão da Plataforma Continental (em análise nas Nações Unidas), Portugal poderá atingir 3,8 milhões de quilómetros quadrados. O território submerso passará a ser 41 vezes maior do que o território fora do mar. Outro facto que não deve ser esquecido é que Portugal foi o primeiro a globalizar o mundo europeu com o africano, com o americano e com o asiático por mar. Ligámos o Atlântico ao Índico e ao Pacífico. Estabelecemos relações diretas marítimas com o Japão, com a China, com a Índia e com o Brasil. Transformámos o oceano Atlântico, já nos séculos XV e XVI, num grande ocea- no de comércio. Além disso Portugal tem uma diplomacia universal. É membro das Nações Unidas (e o secretário-geral é português), é membro da União Europeia (e o anterior presidente da Comissão foi português), é membro da CPLP (e o próximo secretário executivo será português) e é membro da Segib (a Secretaria-Geral Ibero-Americana).
Portugal é um país com uma grande presença histórica em todos os continentes. Uma longa e sólida presença. Há que saber aproveitá-la. Tendo em conta a nossa posição geográfica – de enorme centralidade atlântica –, devemos ter uma estratégia clara de triangulação entre as Américas, a Europa e África. Devemos igualmente disponibilizar essa triangulação geoeconómica a países como a China – e a nova Rota da Seda – e à Índia. Portugal deve ser, cada vez mais, a voz atlântica na União Europeia (ainda mais com a lamentável saída do Reino Unido da UE) e ajudar a transformar o oceano Atlântico não num muro mas num mar de oportunidades. O oceano Atlântico tem de ser o oceano da paz, da cooperação solidária e recíproca, da boa governação, da cidadania, do respeito pelo ambiente, do comércio livre, justo e ético. O oceano Atlântico deve ligar-se, cada vez mais, aos oceanos Pacífico e Índico, aproveitando todas as oportunidades dessa relação e Portugal deve surgir como um pivô nessa estratégia de uma agenda comum. Devemos ajudar a juntar o “sonho americano” ao sonho africano, ao sonho europeu, ao sonho latino-americano e até mesmo ao sonho chinês. Para isso basta olhar o mapa e ter uma estratégia nacional.