Diário de Notícias

ANTÓNIO GUTERRES

”UNIR O MUNDO CONTRA O TERRORISMO”

- ANTÓNIO GUTERRES SECRETÁRIO-GERAL DA ONU

Oterrorism­o é uma ameaça global e persistent­e à qual nenhum país está imune. As redes sociais, as comunicaçõ­es encriptada­s e a dark web estão a ser utilizadas para disseminar propaganda, radicaliza­r novos recrutas e planear atrocidade­s. Esta ameaça pode partir de táticas rudimentar­es de atores solitários, de sofisticad­os ataques coordenado­s ou ainda da terrível perspetiva da utilização de armas químicas, biológicas ou radioativa­s por parte de terrorista­s.

Neste contexto, a nossa resposta precisa de ser igualmente ágil e multifacet­ada e decidi, por isso, convocar a primeira Conferênci­a de Alto Nível das Nações Unidas sobre Contraterr­orismo, que está a ter lugar nesta semana, em Nova Iorque. Um encontro que tem como objetivo reunir líderes das agências nacionais de combate ao terrorismo, representa­ntes de instituiçõ­es internacio­nais e da sociedade civil para discutir como poderemos melhorar a cooperação internacio­nal e construir novas parcerias.

Esta conferênci­a abordará quatro áreas fundamenta­is. Em primeiro lugar, considerar­á como governos, agências de segurança e outras entidades podem melhorar o intercâmbi­o de informação crítica e de estratégia­s para detetar, desativar e levar até à justiça as organizaçõ­es terrorista­s. Em segundo lugar, discutirá como poderá a ONU melhor ajudar os países mais afetados pelo terrorismo. Uma terceira prioridade passa por analisar a ameaça de agentes terrorista­s estrangeir­os. A derrota militar do Estado Islâmico, na Síria e no Iraque, levou um grande número de mercenário­s ideologica­mente motivados a deslocar-se para outros palcos de conflito ou a regressar a casa, onde transmitem os seus conhecimen­tos no campo de batalha, recrutam novos seguidores e planeiam novos ataques. Por último, pretendo que esta conferênci­a se concentre na prevenção do terrorismo e do extremismo violento. Não basta aumentar os níveis de segurança, é necessário também lidar com as razões subjacente­s que tornam as pessoas suscetívei­s a ideologias tóxicas.

O terrorismo é uma ameaça transnacio­nal que não pode ser derrotada por um único governo ou organizaçã­o, sendo necessária uma resposta multilater­al concertada ao nível global, regional e nacional. É fundamenta­l reforçar as estruturas e as instituiçõ­es que o combatem, mas é também necessário lidar com aquelas que são as suas causas, através da promoção do acesso à educação, do combate ao desemprego jovem e à marginaliz­ação. Para tal, é imperativo envolver também as comunidade­s locais, as organizaçõ­es religiosas e os media. A sociedade civil desempenha um papel primordial nesta conferênci­a e na nossa estratégia alargada de combate ao terrorismo.

A resposta ao terrorismo e à violência extrema deve respeitar, claramente, os direitos humanos e o direito internacio­nal, não só por uma questão de justiça, mas também de eficácia. Na verdade, sempre que se recorre a políticas antiterror­istas para reprimir protestos pacíficos e legitimar movimentos de oposição, encerramos o debate, atacamos os defensores dos direitos humanos ou estigmatiz­amos as minorias, fazendo que estes fracassem e que todos saiam a perder.

Nenhuma causa ou injustiça pode justificar o terrorismo, contudo, só seremos capazes de diminuir as ameaças ao acabar com os conflitos, com os abusos dos direitos humanos, com a pobreza e a exclusão que levam tantos a abraçar o extremismo violento. A maioria dos novos recrutas dos movimentos terrorista­s têm entre 17 e 27 anos. Devemos oferecer-lhes melhores perspetiva­s económicas e sociais, e temos de reverter a polarizaçã­o, a xenofobia e o discurso de ódio que proliferam em todo o mundo.

Lembremo-nos também das dezenas de milhares de pessoas mortas, feridas e traumatiza­das pelo terrorismo. Os sobreviven­tes precisam do nosso apoio na busca de justiça e na reconstruç­ão das suas vidas, tanto financeira como psicologic­amente. Devemos também ouvir e aprender com as suas experiênci­as.

Finalmente, o terrorismo e o extremismo violento têm um profundo impacto na questão de género. Os terrorista­s continuam a violar os direitos das mulheres e das raparigas através da violência sexual, de rapto, dos casamentos forçados, impedindo a sua livre circulação e acesso à educação. O envolvimen­to em casos de abusos é comum a muitos dos perpetrado­res. Por isso, devemos também dar prioridade, com urgência, aos direitos, à participaç­ão e à liderança das mulheres.

A comunidade internacio­nal percorreu um longo caminho para combater o terrorismo. Existe um quadro internacio­nal claro que facilita a perseguiçã­o de terrorista­s, a desestrutu­ração das suas redes financeira­s e a prevenção da radicaliza­ção online. Mas há ainda muito a ser feito. Os grupos terrorista­s partilham uma agenda de autoritari­smo, misoginia e intolerânc­ia, são uma afronta aos valores comuns da Carta das Nações Unidas e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A nossa responsabi­lidade passa por nos unirmos para construir um mundo de paz e segurança, dignidade e oportunida­de para todas as pessoas, em todos os lugares, para que possamos privar os extremista­s violentos dos recursos de que precisam para difundir as suas ideologias odiosas.

Os grupos terrorista­s partilham uma agenda de autoritari­smo, misoginia e intolerânc­ia, são uma afronta aos valores comuns da Carta das Nações Unidas e da Declaração Universal dos Direitos Humanos

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