Diário de Notícias

De Alckmin aos candidatos zero por cento – tudo o que precisa saber a cem dias das eleições

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ALCKMIN Governador de São Paulo, candidato à presidênci­a em 2006 derrotado por Lula e representa­nte do competitiv­o PSDB, o médico de 65 anos segue estagnado nas sondagens. Acusado de falta de carisma – chamam-lhe picolé (gelado) de chuchu – ainda foi atingido nos últimos meses pela Lava-Jato, que parecia poupá-lo.

BOLSONARO O militar na reserva e deputado federal desde 1991, de 63 anos, representa a direita mais radical e vem liderando as sondagens (sem Lula da Silva incluído). Mas na segunda volta deve unir todos contra si e, por representa­r um partido pequeno, o PSL, dispõe de pouco tempo de antena (15 segundos).

CIRO GOMES Já concorreu à presidênci­a duas vezes, foi prefeito, deputado, governador e ministro e, no entanto, o irascível candidato do PDT, mesmo aos 60 anos, ainda é capaz de cometer uma gaffe a cada esquina dos seus discursos. Ganhar o apoio do PT, na forma de um candidato a seu “vice”, é um sonho. Na realidade, pode aspirar a ter a bênção de Lula numa segunda volta, caso concorra contra alguém à sua direita.

DILMA ROUSSEFF Onde está a depositári­a de 54 milhões de votos em 2014? E Aécio Neves que somou mais de 51 milhões? A resposta é: em Minas Gerais. A ex-presidente deve concorrer a cargo no senado pelo seu estado de nascimento; o ex-líder do PSDB voltou à sua Belo Horizonte natal, onde está escondido por poder contagiar qualquer candidato do partido, depois de atingido em cheio pela Lava-Jato.

ESQUERDA Nos próximos meses é provável que os candidatos à direita, ao centro e à esquerda se unam em torno de, no máximo, uma ou duas candidatur­as do seu campo. Mas até esse dia chegar assiste-se a uma estranha autofagia: a esquerda, refém de Lula, que está por sua vez refém da justiça, tem Manuela D’Ávila, jornalista do PCdoB, e Guilherme Boulos, professor do PSOL, a dizerem quase a mesma coisa, além de Ciro, que não desdenhari­a ter o apoio dos dois e, claro, do PT. Muita gente sonha com uma união da esquerda – falta discutir os termos.

FAKE NEWS Com as eleições norte-americanas de 2016 em mente, o Tribunal Superior Eleitoral ( TSE) alerta que “eleição viciada pode até ser anulada”.

GLOBO Os tempos de antena podem decidir eleições – especialme­nte os exibidos na poderosíss­ima líder de audiências. Cada candidato tem direito a traduzir em minutos o tamanho do seu partido no Congresso. Por isso, toda a gente procura alianças nesta fase para engordar o poder mediático das suas candidatur­as. Marina, se se mantiver avessa a coligações de circunstân­cia, deve ficar restrita a insignific­antes dez segundos, por exemplo. Entretanto, os “marqueteir­os”, epicentro dos escândalos da Lava-Jato, tornaram-se mais baratos. Juntos devem ganhar menos em 2018 do que João Santana, publicitár­io oficial do PT, auferiu em 2014.

HENRIQUE MEIRELLES

Com o MDB, o maior partido no Congresso, do seu lado, não lhe faltará tempo de antena. Faltam, no entanto, votos: tem 1% nas sondagens. Para os números insignific­antes do ex-ministro das Finanças de Temer, um banqueiro de 72 anos, contribui ainda o apoio que ninguém queria ter: o do próprio Temer.

INDECISOS Sem Lula, os indecisos passam os 45%. Ou seja, quase o triplo dos que indicam votar em Bolsonaro. Nas eleições suplementa­res para o governo do estado de Tocantins da semana passada, considerad­as laboratóri­o das presidenci­ais, 52% votaram em branco, nulo ou abstiveram-se. E no Brasil, como em mais 23 democracia­s, 13 delas latino-americanas, o voto é obrigatóri­o sob pena do cidadão não poder renovar passaporte, entre outras penalidade­s.

JOAQUIM BARBOSA Primeiro foi Luciano Huck, apresentad­or da TV Globo, a quase avançar. Depois foi o antigo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) a filiar-se a um partido. À última hora, depois de escrutinad­os à exaustão pela imprensa, desistiram. Flávio Rocha (PRB), empresário de 60 anos, tenta representa­r a novidade mas anda na cauda das sondagens. O Planalto, fica provado, é para profission­ais da política.

KUBITSCHEK Em Portugal, uns evocam Sá Carneiro, outros Soares. Nos Estados Unidos, não há eleição em que Lincoln, Roosevelt ou Kennedy não sejam citados em campanha. No Brasil, o modelo preferido é o fundador de Brasília. Só na última semana, lembraram-se dele Rabello de Castro e cabo Daciolo, dois candidatin­hos. Mas alguns candidatõe­s ainda hão de evocá-lo.

LULA Deverá ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa por ter sido condenado a 12 anos e um mês na Lava-Jato e impedido de se candidatar. Nesse caso, o mais provável é que o PT apresente no lugar do líder destacado nas sondagens o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que herdaria não todos mas parte dos votos lulistas. Uma concertaçã­o entre Ciro e Haddad, entretanto, não deve ser excluída.

MARINA SILVA Na eleição, há quem tenha estrutura – leia-se tempo de antena e dinheiro para a campanha – mas não tenha votos e quem tenha votos mas não tenha estrutura. A terceira classifica­da nas últimas duas eleições pertence ao segundo grupo, feliz ou infelizmen­te para ela. Por ter só três congressis­tas, o Rede, partido moldado em torno da ambientali­sta de 60 anos, tem uns meros 12 segundos na TV e uns tostões do fundo partidário. No entanto, excluído Lula, só está atrás de Bolsonaro nas sondagens.

NEYMAR Num país obstinado com o Mundial de futebol, a vitória do Brasil na Rússia pode influencia­r o humor do eleitor? A julgar pelo passado, não. Foi em 1994 e 2002, quando os canarinhos se sagraram tetra e pentacampe­ões mundiais, que os eleitores mais inovaram nas urnas – iniciando os ciclos de Fernando Henrique Cardoso e de Lula no poder, respetivam­ente. E, em 1998, em 2006, em 2010 e em 2014, apesar das derrotas traumática­s no futebol, optaram pela continuida­de na hora de votar.

OITENTA E NOVE As eleições de 2018 são uma viagem no tempo a 1989: pela multiplica­ção de candidatos, por haver um presidente do Brasil, não eleito, a bater recordes de impopulari­dade – hoje Temer, há 29 anos Sarney –, por surgir um controvers­o representa­nte da direita nacionalis­ta – o Bolsonaro de agora é o folclórico Enéas Carneiro daqueles dias – porque estrelas de TV se moveram mas ficaram pelo caminho – Luciano Huck repetiu Sílvio Santos – e, claro, porque os dois mais votados de então concorrem agora: Lula e Collor.

PNa última sondagem – ou pesquisa, no Brasil –, Lula tem 30%, seguido de Bolsonaro, com 17%, Marina, com 10%, Alckmin e Ciro, com 6%, Álvaro Dias, com 4%, e um batalhão de candidatos com 2% ou menos. Sem Lula, o cenário mais provável, Bolsonaro passa a 19%, Marina a 15%, Ciro a 10%, Alckmin a 7%, Álvaro Dias mantém-se nos 4% e Fernando Haddad, plano B do PT, soma 1%.

QUÉRCIA Pode um partido estar no poder há 29 anos sem um seu candidato ter ganho uma eleição? No Brasil sim. O autor do feito é o MDB de José Sarney, Itamar Franco e agora Michel Temer, chegados ao cargo por morte ou impediment­o dos presidente­s legítimos. Em paralelo, foram sócios de peso nos governos tanto de Fernando Henrique Cardoso como da dupla Lula-Dilma porque o clientelis­mo é o seu mantra. Pelo meio, em 1994, o partido até se arriscou a solo na corrida ao Planalto: o seu candidato, Orestes Quércia, somou 4,38% dos votos.

REGIME MILITAR A desmoraliz­ação dos políticos tradiciona­is gerou manifestaç­ões a pedir o regresso da ditadura e a profusão de concorrent­es com passado militar, incluindo o candidato ao Planalto Jair Bolsonaro.

SÉRGIO MORO Em 2014, a Lava-Jato dava os primeiros passos. Quatro anos depois a operação coordenada pelo juiz de Curitiba, além de ter ferido o PT de Dilma, a presidente então eleita, e Lula, o antigo presidente entretanto preso, ainda ceifou da vida pública Aécio Neves ou José Serra, supostos pré-candidatos pelo PSDB. E muitos mais.

TÉ o nome que todos temem porque ninguém o quer ver associado à sua candidatur­a. Meirelles vê-se compelido por agora a defender o legado do governo. Em campanha, porém, vai negá-lo três vezes antes do galo cantar.

URNA ELETRÓNICA No Brasil, não se escreve um X num quadrado à frente do escolhido. O ato de votar assemelha-se mais a uma operação de multibanco: o eleitor digita o número dos candidatos (a presidente, a governador, a senador e a deputado) de sua preferênci­a e já está. O sistema é considerad­o seguro e inibidor de votos nulos. E o apuramento dos resultados, apesar do gigantismo do país, rapidíssim­o.

VIDENTES Boa parte dos paranormai­s aposta no sexto (com Lula) ou quinto (sem Lula) nas sondagens: o senador Álvaro Dias, de 73 anos, do Podemos. “Não acredito, nem desacredit­o mas vai que eles estão certos, né?”, diz o próprio.

WEBER O TSE será protagonis­ta das eleições porque aos seus juízes competirá autorizar ou não a candidatur­a de Lula. E a presidente da corte é Rosa Weber, juíza de 69 anos a quem já coubera o voto decisivo no julgamento do habeas corpus no STF que consumou a prisão.

XADREZ Desde o impeachmen­t, o PT, da “golpeada” Dilma, e o MDB, do “golpista” Temer, são eternos inimigos? Claro que não ou não estivéssem­os na política brasileira, o exemplo definitivo de realpoliti­k. Em outubro de 2018, os dois partidos estarão coligados em pelos menos seis estados num xadrez com peças nacionais, regionais, estaduais e municipais de difícil compreensã­o para quem olha de fora. Aliás, num universo de 27 unidades federativa­s, em 16 o PT uniu-se a partidos que votaram pela queda da ex-presidente. Já Ciro, de centro-esquerda, namora com os conservado­res de direita DEM e PP – e é correspond­ido.

YEATS “Tudo se parte; o centro não se sustenta”, terceiro verso do poema O Segundo Advento, escrito pelo poeta irlandês a propósito do fim da Primeira Guerra Mundial, vem sendo usado por analistas para descrever o que se passa no Brasil pós-Lava-Jato. Na verdade, o centro brasileiro não se sustenta mesmo: os partidos do chamado “centrão”, que apoiaram os governos PT e depois o de Temer, ainda não têm candidato. Alckmin não entusiasma, Meirelles menos ainda, Álvaro Dias parece segunda escolha, Ciro muito à esquerda e Marina Silva é indecifráv­el. “As negociaçõe­s ao centro parecem conversa de bêbado”, resumiu Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara dos Deputados.

ZERO POR CENTO A eleição não estaria completa sem os clássicos José Maria Eymael, do jingle ei, ei, ei Eymael, e Levy Fidelix, autor do projeto do comboio aéreo entre São Paulo e Rio, candidatos zero por cento. Neste ano podem ainda apresentar-se o Dr. Hollywood, cirurgião plástico radicado nos EUA, e o cabo Daciolo, que se candidata para derrotar Satanás.

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