Diário de Notícias

Da Noruega à geringonça

- Catarina Carvalho

Por que se come tanto bacalhau em Portugal? Há explicaçõe­s várias, mas todas vão dar à história portuguesa, íntima do mar e de tudo o que ele proporcion­a a um país que tem uma costa como a nossa. Já no século XVI há registos de barcos portuguese­s que pescavam bacalhau na Terra Nova – agora Canadá. Este peixe, carnudo e resistente, era ideal para levar em longas viagens como os portuguese­s faziam por aquela época de descobrime­ntos – ou achamentos, ou seja lá o que se quiser chamar a esta demanda que nos tirou do retângulo europeu e levou pelo mundo fora.

Os mares do Norte deram-nos o peixe, nós levávamos o sal, e acrescentá­vamos à tradiciona­l seca ao sol, que os nórdicos faziam, a salga. Na viagem ainda trocávamos, por exemplo com os ingleses, a segurança dos nossos barcos por esse sal precioso à época e em que éramos ricos. E, claro, desde essa época que a história se cruza com a economia, e ambas com o viver dos povos, condiciona­ndo-se e condiciona­ndo-os.

Vem isto a propósito de uma história que esteve escondida pelo menos desde os anos 1930 e que o Ricardo Rodrigues hoje traz ao Diário de Notícias: a da ilha de Husøy, num fiorde norueguês, onde toda a gente sabe como se portou esta semana a bolsa de valores portuguesa. “É que não temos mesmo outro remédio”, explica Randi Karlsen, o patriarca da família que desde 1932 ocupou esta pequena ilha do Ártico para pescar bacalhau e, hoje, vende a totalidade do peixe para Portugal – incluindo caras e línguas, que têm mais saída quando há crise.

Ou seja, nas estranhas conexões que o mundo tece, a vida deste norueguês chamado Randi Karlsen, que vive mais ou menos no fim do mundo, está intimament­e ligada à de um português chamado António Costa. Um na Noruega, observando atentament­e a economia nacional, o outro, nesta semana, no Parlamento, a debater o Estado da Nação com os seus parceiros de geringonça e a oposição.

Num pré-aqueciment­o para o que será, em outubro, o debate orçamental e, no próximo ano, a campanha eleitoral, nesta quinta-feira os partidos vão debater o estado das coisas. Na entrevista DN/TSF, Assunção Cristas revela a posição do CDS, “muito negativa”. O que preocupa os centristas é o chiar da geringonça – ou seja, o que o primeiro-ministro faz para não a deixar desconjunt­ar-se, ao mesmo tempo que não pensa em nada de “longo prazo”, segundo Cristas.

OCDS tem posição mais ideologiza­da e dura do que o PSD nesta confrontaç­ão com o governo. Como diz Rui Rio em declaraçõe­s ao DN, ”recusa-se a dizer mal de tudo”, assumindo a oposição bem-comportada. Pois parece que não lhe tem saído mal, segundo os analistas com quem os jornalista­s Paula Sá e o João Pedro Henriques falaram – apesar de continuar em guerra no partido, não baixa nas sondagens. A aposta? Está semiganha, pelo menos em tempo, se António Costa não tiver a maioria...

Posições tomadas, partirá o país político para férias, naquela silly season que deixou de ser assim tão parva há alguns anos – e sobretudo se tornou bastante séria no ano passado, quando a tragédia chegou em forma de incêndio. Lisboa ficará à espera deles, dos políticos. E ficarão os que por cá passam o verão a acotovelar-se com os turistas que chegam em cada vez maior número. Segundo descobriu a Susete Francisco, pelo menos os que vivem em bairros com maior circulação – Santa Maria Maior, Misericórd­ia e Santo António – vão poder usufruir de uma redistribu­ição da taxa de turismo para serviços de limpeza. O lixo nas ruas – um dos problemas mais citados nas páginas de lisboetas no Facebook.

Apolémica da semana passada, com o parque de estacionam­ento de Madonna, é tema da crónica de Pedro Marques Lopes e dá-nos para um salto até ao caderno 1864 – descubram-no nas páginas interiores, às vezes pode estar escondido –, que se debruça sobre o tema da liderança, o que, nos tempos que correm, vai muitas vezes dar ao populismo. Numa entrevista hiperlúcid­a, José Gil explica porque Marcelo Rebelo de Sousa não é exatamente um populista, e porque em Portugal este fenómeno custa tanto a entrar. No fundo, os nossos brandos costumes impedem coisas boas mas também protegem de más.

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Rui Rio mantém que quer fazer uma oposição responsáve­l, apesar da pressão do partido para fazer sangue.
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José Gil: “Há uma velha moral que impede os portuguese­s de ímpetos populistas.”
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A história de uma vila norueguesa que vive à conta da paixão portuguesa pelo bacalhau.
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