Os bancos serão só o mensageiro?
As mudanças na regulação das economias têm-se concentrado na redução do crédito bancário. Apesar disso, o endividamento das empresas pelo mundo fora aumentou na última década cerca de 10%. Por trás deste crescimento está a proliferação de empréstimos obrigacionistas. Não é só no Sporting que os planos de viabilidade financeira passam todos por empréstimos obrigacionistas, pois quase nenhum banco no atual contexto regulatório poderia emprestar a uma empresa nas condições do típico clube de futebol. Esta é hoje a realidade de muitas empresas também. Desde 2007, a quantia de empréstimos obrigacionistas no mundo aumentou 2,7 vezes. Na China, os empréstimos obrigacionistas eram de 69 mil milhões de dólares em 2007; em 2017, o mercado obrigacionista chinês representava algo como dois biliões de dólares, um crescimento espetacular.
Esta evolução mundial sugere que os bancos não eram a fonte do endividamento, mas antes a resposta ao desejo de as empresas (e famílias e Estados) se endividarem. Quando os bancos saíram do terreno, surgiram outras formas de satisfazer esta procura. Talvez a regulação tenha matado o mensageiro em vez de lidar com a mensagem.
Por um lado, talvez esta mudança tenha tornado o sistema financeiro mais robusto. Se o banco preferencial de uma empresa está em apuros, e os sarilhos afetam o setor bancário como um todo, então o corte de crédito bancário por razões alheias à empresa pode ser combatido com mais empréstimos obrigacionistas, preservando o investimento. Assim, evita-se que o mal-estar dos bancos se espalhe às empresas.
Por outro lado, porque qualquer pessoa pode comprar uma obrigação de uma empresa, existe o receio de os investidores estarem menos informados e cometerem erros nestes investimentos. Basta ver os anúncios do Benfica que passam hoje na televisão sobre o seu empréstimo obrigacionista para ver que o apelo é dirigido mais à emoção do que à razão.
Existe uma segunda preocupação com esta expansão do mercado obrigacionista, que o trabalho da economista Cynthia Balloch realçou. Ela estudou a liberalização do mercado obrigacionista no Japão nos anos 1980 e descobriu que quando as grandes empresas puderam emitir empréstimos obrigacionista, reduziram os seus empréstimos bancários. No entanto, isto levou a uma expansão do crédito bancário para empresas que antes não conseguiam financiamento, sobretudo no setor imobiliário. Estes empréstimos eram de pior qualidade, no sentido de serem mais arriscados para o banco. Os resultados de Balloch sugerem que o boom do imobiliário no Japão no final da década de 1980 e a crise financeira profunda que lhe sucedeu foram em parte resultado desta expansão anterior do mercado obrigacionista.
A história ensina que a próxima crise financeira provavelmente virá de um sítio diferente da anterior. Com os clubes de futebol e as suas finanças esquisitas a virar-se para o mercado obrigacionista, se não é lá que está o fogo, pelo menos há razões para estar atento ao fumo.