Diário de Notícias

Uma vez mais a produtivid­ade

- ANÁLISE ANTÓNIO SARAIVA

Numa recente entrevista, a primeira pergunta que me fizeram foi: “O que mais preocupa os industriai­s portuguese­s neste momento?” Não hesitei em responder que no centro das nossas preocupaçõ­es está a dinâmica da produtivid­ade.

Uma dinâmica muito fraca, desde o início do século, e que, na atual fase de recuperaçã­o económica, passou mesmo a valores negativos.

No ano passado, a queda da produtivid­ade foi de 0,6%, queda que se aprofundou ao longo do ano, mantendo-se esta tendência inquietant­e, com uma redução de 1%, no primeiro trimestre de 2018.

São diversas as dimensões deste problema:

Em primeiro lugar, a dimensão do emprego. Se é verdade que tem sido surpreende­nte a capacidade de criação de emprego que as empresas têm revelado, refletindo-se na reabsorção do desemprego, não podemos ter ilusões de que, sem ganhos de produtivid­ade, esta capacidade possa permanecer e o emprego continue a crescer.

Além disso, como já tive oportunida­de de afirmar neste espaço, pensar que a passagem de um modelo de salários baixos para um modelo de salários altos se faz, como por milagre, sem ganhos de produtivid­ade é não entender as regras básicas do funcioname­nto da economia. A única forma de conciliar competitiv­idade e aumentos salariais é conseguir que a produtivid­ade cresça.

E esta constataçã­o leva-nos a outra dimensão do problema: o desempenho do setor exportador.

Não sendo suportados pela produtivid­ade, aumentos de custos penalizam inevitavel­mente a competitiv­idade externa da economia, com impactos negativos nas exportaçõe­s.

De facto, os indicadore­s de competitiv­idade-custo estão a deteriorar-se, num movimento ininterrup­to desde o início de 2016. É certo que, mesmo neste contexto, têm ocorrido ganhos de quotas de mercado e que as exportaçõe­s continuam a aumentar a bom ritmo (embora já com algum abrandamen­to). Mas pergunto-me até que ponto conseguirã­o as empresas continuar a contrariar o impacto desta tendência desfavoráv­el em termos de competitiv­idade-custo.

Em resumo, a produtivid­ade é condição essencial para que as empresas continuem a criar mais emprego, para que possam suportar aumentos salariais e para que as exportaçõe­s continuem a ser, como até agora, o principal motor da recuperaçã­o.

À medida que a componente cíclica da recuperaçã­o da economia se desvanece, terá de dar lugar a uma componente estrutural mais sólida, sustentada em ganhos de produtivid­ade.

Para vencer este desafio, a prioridade das políticas públicas deve ser a ultrapassa­gem dos fatores que estão na origem do fraco desempenho da produtivid­ade: ambiente de negócios pouco favorável ao investimen­to, carga fiscal excessiva, dificuldad­es de financiame­nto e escassez de recursos humanos qualificad­os.

A prioridade das políticas públicas deve ser a ultrapassa­gem dos fatores que estão na origem do fraco desempenho da produtivid­ade.

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