Diário de Notícias

Da sardinha em lata à sardinha na brasa, eis cinco deputados em contacto com o eleitorado

Reportagem. É nas ruas, nas empresas e no contacto direto com as pessoas que os deputados vão buscar inspiração para as leis que fazem ou votam na Assembleia da República.

- GRAÇA HENRIQUES

Depois do almoço, as trabalhado­ras já estão a enlatar as sardinhas em camas de legumes ou molho de tomate. Outras cortam o peixe à medida para que caiba na lata – fazem-no sem olhar, mas a métrica bate certinha, algumas já levam 20, 30, 40 anos disto e fariam o trabalho de olhos fechados. E nunca passará uma sardinha moída pelas suas mãos já deformadas do trabalho duro.

A conserveir­a Pinhais, em Matosinhos, distrito do Porto, está em plena laboração quando recebe a deputada do CDS Cecília Meireles, eleita pelo Porto. É uma visita no âmbito do chamado “contacto com o eleitorado”, para o qual o Parlamento reserva geralmente as segundas-feiras. Uma forma de os deputados descobrire­m no terreno o que vai mal, as consequênc­ias práticas das leis e o que podem fazer para resolver questões. Seja através de iniciativa­s legislativ­as ou, na maior parte das vezes, com perguntas ao governo. Contacto com o eleitorado não se confunde com campanha. Os deputados vão mais para ouvir do que para falar ou fazer propaganda. A maioria escolhe temas relacionad­os com as comissões parlamenta­res a que pertencem. O DN acompanhou cinco deputados dos principais partidos – PSD, PS, BE, PCP e CDS – e viu como vão buscar inspiração para as leis que fazem e votam na Assembleia da República.

Na conserveir­a é dia de festa. Fernanda Barbosa faz 65 anos e, ao fim de 43, vai reformar-se. Há bolo, abraços e lágrimas. “É muito amor, muita amizade. Vou ter saudades”, diz. Cecília Meireles teve sorte. Não ouve propriamen­te queixas. “Também temos de mostrar os bons exemplos”, diz a deputada, que ali encontrou um processo de produção manual igual ao de 1920, ano da fundação. Até o design das latas se mantém: a marca Nuri é a mesma desde 1934 e ao longo de décadas alimenta especulaçõ­es. Teria, em tempos, havido uma paixão por uma Núria? Entre isso e outra versão menos romântica – nuri será uma palavra magrebina que significa brilhante, luz – Cecília Meireles aqui não ouviu queixas dos responsáve­is, só coisas positivas.

Queixas ouviu-as no Lar Padre Américo, em Paço do Sousa, Penafiel – que já conhecia desde que foi inaugurado –, no qual ainda só residem 17 idosos quando há capacidade para acolher em permanênci­a 28. Mas como não tem acordos com a Segurança Social, o lar cobra cerca de 1100 a 1200 euros por utente. O resultado é uma extensa lista de espera de gente que não pode pagar. A deputada prometeu fazer uma pergunta a Vieira da Silva, ministro que tem a tutela da Solidaried­ade e da Segurança Social.

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A conserveir­a Pinhais, em Matosinhos, mostrou à deputada do CDS Cecília Meireles como um produto único, que respeita os métodos artesanais, pode ser um exemplo de sucesso.

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