Diário de Notícias

Uma manif em Lisboa há 60 anos

- Joana Petiz Jornalista

5 de julho, ano de 1958. Há 60 anos, a tradição ainda era forte e não deveria haver muitos lisboetas que não soubessem quem atuava nessa noite no Campo Pequeno. Mas mesmo entre esses pode ter havido que estranhass­e aquela barulhenta movimentaç­ão que saltou da praça de touros para as ruas. Afinal, naqueles tempos as manifestaç­ões não eram comuns... E, no entanto, eis uma multidão em urros de entusiasmo, correndo pelas avenidas, invadindo praças e ganhando novos adeptos à sua passagem. Enchem a Avenida da Liberdade, descem-na pelo asfalto e chegam aos Restaurado­res. O que se passava?

Nada que os leitores de Hemmingway não soubessem que acontecia nos dias grandes de Madrid e Sevilha... A multidão explodira de entusiasmo no Campo Pequeno e quis homenagear como se deve o diestro dessa noite: levá-lo em ombros, pela porta grande, até ao hotel. Meses antes, em março, o São Carlos também assistira a um espetáculo histórico, a atuação de Maria Callas na Traviata. Esse público não estava habituado aos costumes taurinos e não a carregou em ombros. Pior para ele, que ficou com o labéu de ingrato. Já os aficionado­s cumpriram: o matador sevilhano Curro Romero, então com 25 anos, triunfara na lide de dois bravos touros, e os lisboetas, desta vez, não foram ingratos. Então, o mestre Romero, carregado em ombros, em cortejo e ovação, entrou pela porta do Hotel Francfort, poiso certo dos toureiros que nos visitavam.

“Ainda hoje, quando me perguntam quais foram os momentos mais marcantes da minha carreira de matador, falo sempre nessa noite em Lisboa”, disse Curro Romero, agora com 84 anos, quando o Campo Pequeno o homenageou pela carreira e por aquele feito extraordin­ário. “É emocionant­e ver pessoas que se recordam com carinho desse dia tão especial para mim.”

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