Greves levam caos aos aeroportos no verão
Portugália, Ryanair e Ibéria vão ter as operações afetadas pelas greves. Os aeroportos vão ficar um caos.
VIAGENS Portugália, Ryanair e Iberia vão ter as operações afetadas por greves no verão. EasyJet diz que não conseguiu mais slots e a TAP acusa também a ANA pelos atrasos nos voos devido aos “constrangimentos” no aeroporto de Lisboa.
Greves de pilotos e tripulantes, falta de controladores aéreos nos aeroportos europeus, instabilidade climatérica. Some-se o elevado número de passageiros, são milhões de pessoas a deslocarem-se nesta época. Os ingredientes já estão em cima da mesa e não restam dúvidas. O caos vai instalar-se este verão no ar e em terra. E se restassem dúvidas, basta olhar para os números. A Ryanair, que enfrenta este mês três dias de greve dos seus trabalhadores, tem previsto transportar de/e para Portugal 11 milhões de passageiros até ao final de agosto.
O mês passado ilustra bem o cenário que se avizinha para o pico do verão. As paralisações em França e Itália, a somar ao mau tempo, implicaram que a easyJet cancelasse 1263 voos. A Ryanair fala em 210 mil passageiros afetados (1100 voos) pelas greves e falta de pessoal no controlo do tráfego aéreo. Quarta-feira inicia-se a primeira greve do mês em Portugal. Os tripulantes de cabina da Portugália têm um pré-aviso para paralisar entre 11 e 16 de julho.
Logo no dia seguinte, é a vez dos pilotos irlandeses da Ryanair. A companhia de baixo custo, que tem em Portugal um dos seus principais mercados, enfrenta ainda outros dois dias de greve (25 e 26 deste mês), desta vez dos tripulantes e que envolve Portugal, Espanha, Itália e Bélgica. Estão cerca de quatro mil tripulantes convocados para a paralisação. O pessoal de terra da Iberia anunciou também que dias 27 e 28 deste mês e 3 e 4 de agosto entrará em greve. Todos estes protestos baseiam-se em reivindicações de aumentos salariais e melhores condições de trabalho.
Efeito bola de neve
A falta de controladores aéreos em vários aeroportos europeus tem contribuído também para a turbulência nas companhias aéreas e nos aeroportos. A escalada do negócio das transportadoras nos últimos anos não foi acompanhada por um reforço de recursos humanos. E tudo isto gera um efeito de bola de neve. Um voo parte atrasado, com consequências no aeroporto de partida, e chega fora de horas ao ponto de chegada, precisando de assegurar a aterragem numa altura de elevado tráfego. Um círculo vicioso. Em terra são os trabalhadores dos aeroportos que enfrentam o descontentamento dos passageiros.
José Sousa, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos, admite que os colaboradores de handling “estão no fim da linha, acumulam todos os stresses” dos viajantes, mas recusa-se a valorizar as ocorrências de alguma violência registadas já no aeroporto de Lisboa. “Não devemos valorizar, extrapolando para todo o verão algumas situações [mais de dez ocorrências] menos bem resolvidas que aconteceram em junho”, diz.
Lisboa vs. Gatwick
O aeroporto de Lisboa é um dos pontos frágeis nesta equação. A sua capacidade já há muito foi ultrapassada. A Ryanair tem, contudo, opinião distinta. Para a companhia liderada por Michael O’Leary, a capacidade “está artificialmente constrangida”, o que tem “limitado oportunidades de crescimento” e “até a prejudicar a manutenção dos volumes atuais”, diz a empresa. E exemplifica: “A capacidade declarada de 55 movimentos por hora do aeroporto de Londres Gatwick, que também tem apenas uma pista, é 40% superior aos 40 movimentos por hora de Lisboa.” Nas contas da transportadora irlandesa, o aumento para 55 movimentos por hora por um período de apenas quatro horas/dia permitiria um aumento de 2,5 milhões de passageiros no ano.
A easyJet já fez saber que a falta de slots em Lisboa impediu o lançamento de novas rotas. A ANA, gestora da infraestrutura aeroportuária, refuta a acusação, alegando que há períodos do dia esgotados, mas também há horas disponíveis.
A TAP demonstra grande insatisfação com o Aeroporto Humberto Delgado e aponta o dedo à ANA no caso dos atrasos dos seus voos. Como diz fonte oficial da transportadora portuguesa, “os constrangimentos e limitações do aeroporto de Lisboa, a que se juntam também os de controlo de tráfego aéreo, têm vindo a agravar-se e têm causado sérios danos à pontualidade da TAP”. A companhia admite “grande preocupação” não apenas com este verão mas também quanto ao futuro. Cerca de 90% dos passageiros da TAP têm destino, origem ou escala em Lisboa.
A ANA sublinha que gere “ativos imóveis e, como tal, não podem criar atrasos”, e que se sente penalizada “pela falta de pontualidade e regularidade de quem nelas opera”, recusando assim qualquer responsabilidade nos atrasos e cancelamentos que se têm registado. A concessionária frisa ainda que todos os anos é posto em prática um plano de contingência, tendo em conta acréscimos de capacidade. Este ano, diz, as medidas de maior impacto foram implementadas antes do início da época alta, como é exemplo o investimento de 11 milhões de euros na nova área de check-in.