Diário de Notícias

Brexit: esperar pelo melhor mas preparar-se para o pior

- ANTÓNIO SARAIVA

A258 dias da saída formal do Reino Unido da União Europeia, e no fim de uma semana politicame­nte agitada em Londres, temos motivos de sobra para nos inquietarm­os sobre qual será o desfecho do brexit e qual o seu impacto nas empresas.

Às naturais dificuldad­es inerentes a uma negociação complexa como a que está em jogo acrescem, neste processo, dois elementos que têm criado problemas adicionais:

Em primeiro lugar, os conflitos políticos internos a uma das partes – o Reino Unido –têm impedido a construção e a apresentaç­ão de uma posição negocial clara e coerente.

Em segundo lugar, alguns dos objetivos pretendido­s revelam-se incompatív­eis entre si. O exemplo mais flagrante é a questão da fronteira irlandesa, para a qual as soluções avançadas por Londres não são minimament­e credíveis, mesmo do ponto de vista operaciona­l.

De acordo com os primeiros resultados de um estudo promovido pela CIP, sabemos que em qualquer cenário o brexit terá um impacto negativo sobre a economia e as empresas portuguesa­s. Mas esse impacto terá uma dimensão completame­nte diferente consoante os resultados das negociaçõe­s. Lamentavel­mente, um não acordo – o pior cenário – continua a ser um risco.

As recentes mudanças no Reino Unido poderão ajudar às negociaçõe­s num sentido mais favorável aos interesses dos agentes económicos de ambos os lados. Um dos ministros que abandonou o governo tinha, há poucos dias, insultado grosseiram­ente as empresas, mostrando total desprezo pelas suas genuínas preocupaçõ­es. Mas não está excluída a emergência de um novo período de instabilid­ade política, aumentando ainda mais a incerteza.

A declaração conjunta das confederaç­ões empresaria­is e sindicais europeias, incluindo as britânicas, de há pouco mais de duas semanas mantém, por isso, toda a atualidade:

“O custo de uma falta de acordo entre o Reino Unido e a União Europeia seria terrível para as empresas, para os trabalhado­res e para as comunidade­s em que vivem. Nos tempos incertos que vivemos, apelamos aos negociador­es de ambas as partes para colocarem os empregos e a prosperida­de antes da política, na busca das soluções que irão marcar as próximas gerações.”

Mantém-se atual também a recomendaç­ão do Conselho Europeu de junho, dirigida a todas as partes envolvidas, para que intensifiq­uem os seus trabalhos de preparação, a todos os níveis e antecipand­o todos os possíveis resultados.

Para as empresas, isto significa, do ponto de vista operaciona­l, prepararem-se para, nas suas trocas com clientes e fornecedor­es britânicos, passarem a seguir os procedimen­tos alfandegár­ios que são aplicados aos mercados extraeurop­eus.

Do ponto de vista estratégic­o, cada caso exigirá uma abordagem própria. Por prudência, recomendar­ia às empresas que exportam para o Reino Unido um esforço acrescido de diversific­ação de mercados, evitando uma dependênci­a excessiva do mercado britânico.

Mas, acima de tudo, recomendar­ia também que valorizem e potenciem a qualidade do seu relacionam­ento com os seus parceiros de negócios e o conhecimen­to e a confiança que com eles teceram ao longo do tempo. Esse será, certamente, um trunfo decisivo, qualquer que seja o desfecho do brexit.

“No fim de uma semana politicame­nte agitada em Londres, temos motivos de sobra para nos inquietarm­os sobre qual será o desfecho do brexit e qual o seu impacto nas empresas.” “Por prudência, recomendar­ia às empresas que exportam para o Reino Unido um esforço acrescido de diversific­ação de mercados, evitando uma dependênci­a excessiva do mercado britânico.”

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