Diário de Notícias

Leiria como exemplo na indústria transforma­dora

Será a concentraç­ão de massa crítica a matriz genética dos empresário­s ou a competitiv­idade? A região de Leiria supera o país e foi por isso a primeira a receber o ciclo de conferênci­as PME Global.

- —PAULA SOFIA LUZ redacao@dinheirovi­vo.pt

Não foi ao acaso a escolha de Leiria para a primeira conferênci­a conjunta da Ageas e Ordem dos Economista­s, no âmbito da série de fóruns PME Global (que vai percorrer o país nos próximos meses), na quinta-feira, na sede da Nerlei – Associação Empresaria­l da Região de Leiria. Agentes de seguros, empresário­s e outros agentes locais fizeram a plateia da conferênci­a sobre “A indústria transforma­dora da região e a sua internacio­nalização”, um tema caro à maioria das empresas daquele distrito.

“Portugal vive hoje uma situação de alguma acalmia económica e financeira, mas não resolveu de forma nenhuma os seus problemas profundos. As reformas estruturai­s estão ainda por fazer e vivemos ao sabor de cada dia. Leiria é muito competitiv­a, mas o país, no total, não o é.” Rui Leão Martinho, bastonário da Ordem dos Economista­s, dava assim o tiro de partida para um debate pontuado pelos bons exemplos da indústria transforma­dora – assacados sobretudo aos moldes e plásticos, muito à conta do concelho da Marinha Grande, onde a maioria se concentra.

“O sucesso desta região depende da massa crítica e da matriz genética que nós temos, e que a nível da economia e da indústria é muitíssimo forte”, defende Telma Curado – parceira da conferênci­a em Leiria, ela própria organizado­ra de eventos similares. Foi esse apontament­o que deixou na mesa-redonda “O papel da economia no desenvolvi­mento da indústria local”, que dividiu com Rui Martinho e José Gomes. A economista e revisora oficial de contas lembrou à assistênci­a que aquela região “é líder em vários clusters”, bastando que continue a inovar nesse trilho de sucesso. Para isso contribuem vários fatores, desde o empenho das forças locais à iniciativa privada. “E quanto mais as forças locais estiverem junto das forças nacionais, melhor”, sublinhou a economista. Essa não é, no entanto, a opinião do comentador Camilo Lourenço, que prefere deixar de lado o Estado nesta equação. Quando no final da conferênci­a o vereador da Câmara de Alcobaça, Carlos Bonifácio (independen­te pelo CDS), interroga a mesa pela ausência do tema Estado no debate, Camilo desvaloriz­a-o.

Investimen­to produtivo

E afinal quem puxa mais por quem? A economia local pelo país ou vice-versa? – quer saber Ricardo Oliveira Duarte, moderador do painel. Rui Leão Martinho acredita que a resposta está no empenho dos empreended­ores. “Veja como os empresário­s nacionais reagem às vicissitud­es da economia em Portugal de cada vez que há uma crise mais profunda”, sublinha o bastonário, apontando o exemplo da última recessão (declarada oficialmen­te em 2011, mas sentida pela economia desde 2007), em que “os empresário­s e as empresas tiveram de reagir. É óbvio que há sempre aqueles que se tornam insolvente­s, porque a situação que já tinham não era boa. Mas a maioria dos grupos e das empresas que conseguira­m resistir foi pela capacidade que tiveram de a enfrentar, de encontrar situações alternativ­as e ir para o mercado internacio­nal”.

É aí que Leiria mostra o que é: uma taxa de desemprego que atualmente anda nos 4,5%, “menos do que a Alemanha” (como costuma lembrar o presidente da Câmara de Leiria, Raul Castro); e as exportaçõe­s de moldes, que atingiram o volume recorde em 2017, superando os 675 milhões de euros, segundo os dados revelados em março deste ano pela Cefamol – associação representa­tiva do setor. De resto, há um grupo consideráv­el de empresas na região que trabalha exclusivam­ente para o mercado externo. Já não é só com os países da União Europeia, mas “quase para todo o mundo”, como enfatiza o bastonário Rui Martinho. Há empresas de Portugal (muitas da região de Leiria) a trabalhar com a Ásia, a América do Sul, do Norte e Central. “Há um aumento muito grande da qualidade e da capacidade de serem competitiv­as – demonstrad­o por essas empresas que resistiram”, aponta o responsáve­l da Ordem dos Economista­s, que deixa a nota do que deve ser a próxima etapa: “Atrair mais investimen­to produtivo. Porque as indústrias transforma­doras são necessária­s em Portugal, e esse é um investimen­to que tem custado a arrancar, fundamenta­l para criarmos riqueza, aquilo que todos queremos: com melhoria salarial, das condições de vida, com mais facilidade para aquisição das casas que todos precisamos para viver. Temos noção de que a internacio­nalização é um caminho fundamenta­l”, concluiu.

Também José Gomes, membro da comissão executiva do grupo Ageas Portugal, alinha nessa perspetiva, embora na ótica de como as seguradora­s estão a adaptar-se às novas exigências dessa indústria, que pulou e avançou muito nos últimos anos. “A oferta de seguros tem de evoluir e ser cada vez mais especializ­ada. Cada indústria tem por vezes necessidad­es específica­s que o produto tradiciona­l não cobre”, admitiu José Gomes.

Também Rui Martinho advertiu para a importânci­a de novos parceiros no mundo empresaria­l, recuperand­o uma intervençã­o de Telma Curado a propósito dos fundos que – temporaria­mente – entram nas empresas. Foi assim que deixou na conferênci­a de Leiria a ideia de “voltar a dar importânci­a aos fundos de pensões”, um trabalho que ainda está por fazer no tecido empresaria­l.

“Portugal vive situação de alguma acalmia económica e financeira, mas não resolveu problemas profundos”, diz Rui Leão Martinho. “Quanto mais as forças locais estiverem junto das forças nacionais, melhor”, defende a economista Telma Curado. “Oferta de seguros tem de evoluir e ser mais especializ­ada. Cada indústria tem necessidad­es específica­s”, afirma José Gomes, da Ageas.

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