Três casos com aviões privados
São várias as histórias de voos não comerciais que tentaram iludir os controlos de fronteira.
1. Grécia Refugiados chegam de barco e partem de jato
Em 2015, um pequeno avião privado que voava de Salónica (Grécia) para Malmö (Suécia) pediu para aterrar e reabastecer em Rzeszów (Polónia). Todos são países do espaço Schengen. Por isso, o piloto acreditou que o avião não estaria sujeito a nenhum controlo de passaportes na Polónia. Mas quando as autoridades perceberam que o avião havia feito uma escala para reabastecer na Macedónia, que não é um país Schengen, forçaram o avião a passar pelo controlo de passaportes. A polícia de fronteira descobriu então que o avião transportava quatro refugiados sem documentos de viagem adequados. Eles tinham chegado à Grécia, vindos da Turquia, por barco. Se o avião não tivesse parado na Macedónia, as autoridades polacas não teriam atuado.
Mohammad al Jarad não teve melhor sorte. Um mês depois de viajar num perigoso barco de borracha para atravessar a fronteira entre a Grécia e a Turquia, o refugiado sírio foi levado por um grupo de traficantes a comprar um caríssimo lugar num jato particular que voaria para França. Al Jarad confidenciou à AP que concordara pagar aos contrabandistas cinco mil euros pela viagem. A polícia grega detetou o esquema e Jarad foi condenado a três meses de prisão.
2. Ilha de Man Um Bin Laden nos Paradise Papers
A investigação dos Paradise Papers explicou por que os jatos particulares podem circular livremente pela Europa: devem ser formalmente importados, registados em território da UE, com o IVA pago sobre o preço de compra. Mas há um grande esquema de evasão fiscal na ilha de Man, onde alguns dos homens mais ricos do mundo (russos, africanos, sauditas, entre outros), regista- ram os seus jatos e foram reembolsados pelo IVA. O jornal inglês The Guardian revelou que foi assim que Bakr bin Laden, meio-irmão do fundador da Al-Qaeda, trouxe o seu jato para a Europa. Também foi revelado que o governador do banco central da Nigéria foi coproprietário de uma empresa nas Bermudas, usada num esquema para importar um jato Gulfstream que vale 50 milhões de dólares. O escritório de advogados implicado nos Paradise Papers, Appleby, ajudou o empresário iemenita Shaher Abdulhak a mudar o nome de um jato, quatro meses depois de o seu filho ter fugido de Londres por ter sido apontado como o único suspeito da violação e do assassinato de uma estudante norueguesa de 23 anos.
3. França A família saudita que entrou como Obama
De acordo com documentos publicados pelo jornal francês
Nice Matin, as autoridades francesas de transporte aéreo estão particularmente alarmadas com o elevado número de isenções de controlo de fronteiras concedidas aos passageiros aéreos do golfo Pérsico, antes e depois dos ataques de Paris. Em julho de 2015, o coronel Francis Hubert, do comando nacional da polícia, escreveu num e-mail que “no contexto da ameaça terrorista” as isenções de controlo no aeroporto de Nice são, estranhamente, “muito frequentes”. Os controlos de passaporte e visto não funcionam de forma normal, porque “os passageiros são retirados imediatamente do aeroporto e partem novamente da mesma maneira”. Da mesma forma, não há controlo de bagagens e de cargas pela alfândega. O Nice Matin publicou documentos que mostram a troca de correspondência entre uma delegação saudita e as autoridades francesas em fevereiro de 2016. A delegação estava a bordo de um jato particular que voava de Nice para Londres. O pedido foi feito em nome do “neto do falecido rei Fahd da Arábia Saudita”, alguém sem qualquer estatuto diplomático ou oficial. Estavam a bordo seis pessoas, que viajaram até ao avião em três veículos e traziam carga num camião. Permanece um mistério o que foi transportado. O autarca de Alpes-Maritimes aceitou o pedido saudita. No mesmo dia, o político francês (e então autarca de Nice) Christian Estrosi afirmou numa entrevista à rádio francesa RTL que duas pessoas estavam classificadas como “ficha S” (um indicador usado pela polícia francesa para sinalizar um indivíduo considerado como uma séria ameaça à segurança nacional) e que teriam entrado em França através do aeroporto de Nice em agosto de 2015 “sem qualquer controlo e em total impunidade”. “As pessoas eram originárias da Arábia Saudita e de outros Estados da Península Arábica e beneficiaram na sua chegada ao aeroporto internacional de Nice de uma exceção de inspeção e filtragem.” Estrosi continuou, com ironia: “Eu acho bem que essas autorizações sejam concedidas a Barack Obama ou à rainha de Inglaterra, mas as pessoas de que estou a falar não são nem diplomatas nem presidentes. E várias dezenas delas lucram com esse privilégio. Entram e saem do território nacional em total impunidade, sem controlo, chegando ao asfalto dos nossos aeroportos.”