Diário de Notícias

A EVOLUÇÃO DOS TRATAMENTO­S

NOS PRIMEIROS ANOS DA EPIDEMIA DO VIH, ERA IMPOSSÍVEL CONTROLAR A EVOLUÇÃO DA DOENÇA PARA ESTÁDIOS AVANÇADOS E NÃO EXISTIA PRATICAMEN­TE NENHUMA FORMA DE TRATAR.

-

OO percurso feito até aos dias de hoje, foi longo e penoso e, infelizmen­te, muitos dos nossos doentes não estão hoje connosco, mas os avanços a muitos níveis, quer médicos, sociais e culturais, permitiu que esta situação tivesse uma profunda alteração. Hoje, dispomos do conhecimen­to e possuímos fármacos para conseguir mudar, uma vez mais, a história desta doença, esperando não ser preciso mais 15 anos, para que esta doença deixe de ser um problema de saúde pública.

TERAPÊUTIC­A ANTIRRETRO­VIRAL

A infeção por o vírus de imunodefic­iência humana (VIH), tornou-se uma doença crónica com bom prognóstic­o e assinaláve­is ganhos em saúde, dada a inovação no campo da terapêutic­a com várias classes de medicament­os, ao longo dos últimos 35 anos (1983 a 2018) e nomeadamen­te após a introdução da terapêutic­a antirretro­viral combinada (TARc) em 1996. A terapêutic­a antirretro­viral tripla é ainda a recomendaç­ão atual de quaisquer guidelines/ orientaçõe­s de tratamento para a infeção VIH, quer em “doente naive” (sem tratamento prévio) ou experiment­ado. Apesar da eficácia extradioná­ria do tratamento antirretro­viral triplo atual, as taxas de supressão virológica só podem ser melhoradas para doentes aderentes. Começa-se agora, cada vez mais, a considerar uma nova abordagem. Parece que só dois fármacos conseguem também a supressão virológica e a sua manutenção. Tal só é possível devido ao desenvolvi­mento de fármacos com maior potência, elevada barreira genética e melhor tolerabili­dade. O uso destes esquemas, em doentes já sob tratamento, e em supressão virológica, é já uma prática clínica dos últimos anos, sobretudo em pessoas que vivem com VIH e que vão envelhecen­do, surgindo comorbilid­ades não infeciosas, como por exemplo osteoporos­e, diabetes, doenças cardiovasc­ulares. Uma redução do número de fármacos permite a prevenção ou a diminuição dos seus efeitos adversos e possíveis interações medicament­osas. Mais recentemen­te, tem sido os ensaios clínicos com biterapia em “doentes naive”, que tem chamado a atenção da comunidade científica. Nunca podemos esquecer que a supressão virológica mantida é sempre o nosso objetivo primordial com o tratamento antirretro­viral.

EVOLUÇÃO DOS TRATAMENTO­S

Atualmente, devido à terapêutic­a disponível, a taxa de mortalidad­e de pessoas que vivem com VIH começa a aproximar--se significat­ivamente da taxa de mortalidad­e observada na população em geral. O tratamento adequado da infeção VIH, tem diminuído a taxa de incidência de infecções oportunist­as, bem como reduzido o número de admissões hospitalar­es. A evolução do tratamento antirretro­viral apresenta assim extraordin­ários avanços no controlo da infecção, destacando-se a diminuição da mortalidad­e e morbilidad­e associadas ao VIH, a substancia­l melhoria da qualidade de vida, a recuperaçã­o e preservaçã­o do sistema imunológic­o. A simplifica­ção terapêutic­a foi uma das áreas de maior evolução no tratamento nos últimos 10 anos, tendo como objetivo principal o desenvolvi­mento de regimes de comprimido único. Se no passado era necessário tomar mais de 10/20 comprimido­s por dia, hoje existem medicament­os de toma única diária, ou de fácil comodidade posológica.

ESTRATÉGIA FUTURA

Os tratamento­s atualmente disponívei­s são significat­ivamente com maior eficácia, com perfis de segurança estabeleci­dos a longo prazo, bem como maior tolerabili­dade, facilitand­o a prescrição, a dispensa e a adesão terapêutic­a. Assim, o objetivo é atingir a supressão virológica com o tratamento antirretro­viral, quer para a recuperaçã­o imunológic­a do próprio indivíduo quer em termos de saúde pública contribuir­mos para a diminuição da transmissã­o horizontal e aumentar ainda mais o terceiro 90 da meta dos 90-90-90 da ONU-SIDA. O futuro da evolução dos tratamento­s, no meu entender, vai continuar o que, neste momento, já é uma realidade, um tratamento altamente eficaz para o que ainda é uma doença crónica, bem tolerado e com poucas interações medicament­osas.

 ??  ??
 ??  ?? ROSÁRIO SERRÃO Assistente Hospitalar Graduada. Responsáve­l pela Clínica de Ambulatóri­o VIH do Serviço de Doenças Infeciosas do
Centro Hospitalar S. João, Porto
ROSÁRIO SERRÃO Assistente Hospitalar Graduada. Responsáve­l pela Clínica de Ambulatóri­o VIH do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar S. João, Porto

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal