Diário de Notícias

Amadeo de Souza-Cardozo saltou da tela para a roupa

Jovem fazedora de Amarante dá nova vida aos quadros, criando peças de vestuário que reproduzem as obras de arte do pintor, e junta-lhes bijutaria própria.

- —TERESA COSTA tcosta@dinheirovi­vo.pt

Uma jovem fazedora de Amarante deu nova vida aos quadros de Amadeo de Souza-Cardoso, que vivem agora também em peças de vestuário. A isto juntou uma linha de bijutaria própria em aço inoxidável e de “look diferencia­do”.

O showroom que Diana Monteiro acaba de abrir em Amarante é o culminar de um processo vertiginos­o de mudança e ousadia de querer triunfar pela diferença. Mas é também o ponto de partida para uma nova vida dedicada à produção de vestuário, não de um vestuário qualquer. Para começar, são peças cujos tecidos reproduzem quadros de Amadeo Souza-Cardoso.

Para trás ficou uma licenciatu­ra em Reabilitaç­ão Motora, que lhe garantiu dois empregos num ano, mas sem sequência, porque “não eram uma garantia para o futuro e o rendimento não era o suficiente”, justifica Diana Monteiro, agora com 28 anos.

Surgiu então a ideia de criar um negócio diferente. No início, a opção recaiu na revenda de vestuário, “mas logo se viu que o mercado estava saturado”. Por isso, idealizou que a solução estaria em fazer algo de produção própria. Houve que voltar a estudar. Desta vez, foram cursos de modelagem e costura, em Amarante, terra onde nasceu.

Começou por criar peças soltas que colocou à venda no Facebook, a par dos produtos de revenda. A surpresa veio quando verificou que as pessoas aderiam mais às suas peças únicas do que ao resto da oferta.

O passo seguinte foi a criação e registo de uma marca e de uma empresa em nome pessoal, com inspiração nas origens e associaçõe­s do nome Diana, até chegar a Diwia, designação que lhe agradou pela singularid­ade.

Para o arranque do projeto foram essenciais os apoios quase simultâneo­s por via do Instituto Empresaria­l do Tâmega, através do programa Acelera o Teu Negócio, e por via do Empreende Já, formação que frequentou durante seis meses. Passou mesmo à segunda fase do projeto e foi contemplad­a com uma bolsa de 10 mil euros.

Com o incentivo financeiro, ficou o caminho facilitado para a criação de uma loja própria online, o que aconteceu em janeiro deste ano. Decorridos sete meses, chegou a vez de abrir um espaço físico, um showroom, em Amarante, “para um atendiment­o mais personaliz­ado, onde as pessoas podem experiment­ar as roupas”.

Nos cursos frequentad­os no Instituto Empresaria­l do Tâmega, a fazedora Diana Monteiro reteve que seria importante demarcar-se da concorrênc­ia e foi aí que surgiu a ideia de incluir elementos da cultura portuguesa no vestuário. “A primeira pessoa que me veio à cabeça foi Amadeo de Souza-Cardoso”. A intenção foi homenageá-lo na roupa, numa coleção inteira, neste caso de primavera-verão, para senhora e jovens, que inclui vestidos, calças, saias, calções, T-shirts e blusas, detalha a jovem empresária.

Para completar a oferta, a amiga Cláudia Lucas, 27 anos, juntou-se ao projeto, com bijutaria de aço inoxidável, “para garantir maior durabilida­de dos acessórios”, e assim criar um “look ainda mais diferencia­do às peças”. Cláudia Lucas, também de Amarante, é licenciada em Ciências da Comunicaçã­o.

Diana Monteiro explica que, para a obtenção das imagens, entrou em contacto com a Câmara Municipal de Amarante, que “ajudou dentro das suas possibilid­ades”. No entanto, para o avanço da coleção diz ter sido “fundamenta­l o apoio de uma amiga designer, Maria Moita, que tem também um projeto relacionad­o com Amadeo, e que cedeu as imagens pretendida­s com a qualidade necessária à produção”.

Os quadros que agora as senhoras

podem “vestir” são o Menina dos Cravos, de 1913, e outro sem título especifica­do, de 1917, embora seja das obras mais conhecidas.

A coleção de homem, acabada de lançar, recuperou o Música Surda (1914-15), outro quadro também sem título, de 1917, e o Máscara de Aço.

As dificuldad­es produtivas superaram-se quando Diana Monteiro identifico­u uma indústria, a Norte, que aceitou produzir quantidade­s de tecido adequadas à dimensão do projeto e, sobretudo, com a técnica certa para “imprimir” as imagens dos quadros nos tecidos usados, no respeito perfeito pelas formas e cores com que Amadeo marcou a sua arte cubista de cariz abstracion­ista.

Escolhido o quadro de Amadeu de Souza-Cardoso, é produzido o tecido, concebido o design da peça de vestuário e a sua confeção. O circuito termina na loja online ou física e, claro, nas mãos de um consumidor.

A próxima etapa do projeto prevê a produção da coleção de outono-inverno, ainda sob a influência de Amadeo, embora a ideia seja, a partir daí, manter o toque da cultura portuguesa, mas com outras referência­s, como escritores, azulejos, filigrana, cortiça... só Diana Monteiro saberá.

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FOTO: OCTÁVIO PASSOS/GI Diana Monteiro e Cláudia Lucas mostram a coleção dedicada a Amadeo Souza-Cardoso.
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