Diário de Notícias

Da capital do termómetro aos 60 anos de Madonna

- Leonídio Paulo Ferreira

Manifestam­ente exagerada a notícia da minha morte, como diria Mark Twain. Começo pela crónica do nosso diretor na última página que, com humor (mais desta vez do que com a sua habitual ironia), revela que no Você na TV, programa da TVI, um comentador o deu por morto, com Manuel Luís Goucha a desmentir, mas a ir tirar dúvidas no iPad sobre se Ferreira Fernandes estava mesmo ainda entre nós. Ora, como uma bela prova de vida, o diretor do DN avançou ontem para a Amareleja com o fotógrafo Gonçalo Vilaverde, onde havia a hipótese de se bater o recorde europeu de temperatur­a, 48 graus em Atenas em 1977, segundo a BBC.

Otal recorde afinal não foi batido. E mesmo não tendo sido ontem a terra portuguesa mais quente (coube a Alvega, no Ribatejo), a alentejana Amareleja manteve o seu recorde nacional, que data de 1 de agosto de 2003. Esses 47,4 graus centígrado­s velhos de 15 anos justificam bem o título da reportagem que Ferreira Fernandes lhe dedica: “A capital do termómetro, Amareleja.”

Houve calor, mas não o tal recorde europeu. Houve também fogos, mas felizmente menos do que noutros dias de inferno. Em Monchique, desde sexta-feira, ardia o mais grave, veremos como corre o dia de hoje. Uma reportagem de Ricardo J. Rodrigues dá-nos, contudo, razões para preocupaçõ­es: “Um quarto dos incêndios não são sequer investigad­os.” Tudo porque faltam homens e mulheres para escrutinar o fogo. E se o governo, depois da tragédia de Pedrógão e não só no ano passado, prometeu 200 novos guardas-florestais antes do verão, o concurso ainda não abriu. E para operaciona­is que vigiam as matas públicas, um concurso com 90 vagas só teve 61 preenchida­s. E como o jornalismo não trata apenas de números mas sobretudo de pessoas, o DN foi conhecer Messias Fernandes, que sendo o único guarda-florestal nas terras que se estendem de Gouveia a Seia não faz milagres.

Em grande parte, o drama dos incêndios florestais tem que ver com a desertific­ação do interior. Mas mesmo no litoral, há a velha questão de tudo ir a parar a Lisboa, desde gentes a instituiçõ­es, passando por empresas. Em entrevista a Pedro Marques, o bastonário dos médicos, Miguel Guimarães, exibe com orgulho as raízes nortenhas, diz não se sentir um regionalis­ta, mas não perde a oportunida­de de deixar um recado: “O Porto não precisa de esmolas do governo.” Sem querer fazer ligação direta, o médico considera muito estranha a decisão política de deslocaliz­ar o Infarmed.

Mesmo com diferenças entre o interior e o litoral, e velhas rivalidade­s entre Lisboa e Porto, Portugal tem a vantagem de ser um país de facto único e unido. E que se tem mantido adverso à expansão de movimentos e partidos de extrema-direita que hoje abundam na Europa, sendo que em alguns países até participam em coligações governamen­tais, como é o caso de Itália, Áustria e Bulgária. Patrícia Viegas, jornalista que há muitos anos acompanha estes fenómenos políticos europeus, tem um título provocador: “Extrema-direita na Europa: a tua é melhor do que a minha?”

Aimigração e os refugiados são um dos temas queridos da extrema-direita, e não apenas da Europa. O escritor americano Viet Thanh Nguyen, nascido no Vietname, conta como foi a sua integração nos Estados Unidos, um país que apesar de todas as polémicas no passado (e da retórica atual de Donald Trump) é um bom exemplo nessa matéria. Vencedor de um prémio Pulitzer pelo romance O Simpatizan­te, o entrevista­do de João Céu e Silva conta que “a minha memória começa quando fui tirado aos meus pais com 4 anos, nos Estados Unidos”. A Portugal chega agora o seu livro Refugiados. Promete ser um sucesso.

Imigrante mas de luxo é Madonna em Lisboa. A cantora americana não se cansa de dizer bem de Portugal pelo mundo fora, ainda há dias contou em entrevista à Vogue italiana como se sentia bem em Lisboa, onde ninguém a incomodava. Mas mesmo que Madonna nunca tivesse posto um pé em Lisboa, o seu estatuto de ícone merecia bem o caderno 1864 que lhe dedicamos nesta edição: a estrela de Like a Virgin faz 60 anos!

 ??  ?? 1864, o caderno especial dedicado aos 60 anos de Madonna.
1864, o caderno especial dedicado aos 60 anos de Madonna.
 ??  ?? O único guarda-florestal da serra da Estrela.
O único guarda-florestal da serra da Estrela.
 ??  ?? Reportagem de Ferreira Fernandes em Amareleja.
Reportagem de Ferreira Fernandes em Amareleja.
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