Diário de Notícias

Maisaa Katef A esperança numa barra de sabão

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Ao entrar no rés-do-chão onde são produzidos os sabões de Alepo sente-se um intenso cheiro a manjericão. Era um dos ingredient­es de teste para uma variante do tradiciona­l sabão sírio que originalme­nte é feito com óleo de louro. Era, porque poucos dias antes, o frasco com o óleo caiu e partiu-se, daí o cheiro. Mas também cheira a funcho, lavanda e erva-príncipe que denunciam os sabonetes que estão guardados na arrecadaçã­o ainda à espera de certificaç­ão do Infarmed para serem vendidos ao público.

O projeto nasceu numa disciplina de empreended­orismo social da Nova SBE, quando Benedita Contreras (uma das cofundador­as) conheceu uma família síria através das Equipas de Jovens de Nossa Senhora. O objetivo era resolver um problema da sociedade e estavam com um em mãos: a família estava com dificuldad­e em arranjar trabalho. E foi assim que surgiu o projeto Amal (que quer dizer esperança em árabe).

Maisaa Katef é uma espécie de “diretora de produto”. É pelas mãos dela e de Amal Moait que passam todos os sabões. Maisaa pediu para não fotografar­mos a cara. Chegou a Portugal há um ano e sete meses através do mecanismo europeu de recolocaçã­o de refugiados. Vivia em Damasco com a família e fugiu primeiro para Alepo, de autocarro, seguindo depois a pé para a Turquia. “Foram dez horas debaixo de muita chuva e com frio. Foi muito difícil. Tivemos de subir e descer montanhas. Conseguimo­s chegar a Istambul, onde estivemos um mês e meio. Dali fomos para a Grécia num barco de borracha”, conta Maisaa.

A família esteve num centro de acolhiment­o grego durante dez meses antes de viajar até Portugal. Na altura já estava grávida da filha que acabou por nascer em Lisboa. Na Síria, Maisaa era cabeleirei­ra; agora não pensa regressar à profissão.

Nesta fase, no Amal Soap, consegue-se produzir cerca de 700 sabonetes por mês. As vendas ainda são feitas numa pequena escala, entre o círculo de amigos e familiares. O objetivo é entrarem no circuito das concept stores e nos canais online, mas falta a certificaç­ão do Infarmed, que pelas previsões só deve estar concluída no final deste ano. Depois é começar a produzir e empregar mais mulheres sírias.

“Foram dez horas a andar a pé debaixo de muita chuva e frio até chegarmos a Istambul, na Turquia.”

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