Míldio “vindima” 3% na produção de vinho. A culpa é da chuva
Se as previsões acertarem serão menos 20 milhões de litros face à vindima de 2017. Vaga de calor preocupa agora os produtores.
Portugal deverá, neste ano, produzir menos 20 milhões de litros de vinho, uma redução de 3% face a 2017. A culpa é do tempo. O ano chuvoso foi favorável aos ataques de míldio e oídio. O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) estima que a produção se fique pelos 650 milhões de litros, um valor “muito próximo da média das cinco últimas campanhas”. Mas a vindima ainda está longe e tudo pode mudar. O Minho admite que a quebra possa ser maior do que os 5% indicados, mas desvaloriza a questão pela existência de stocks. Já o Alentejo espera uma produção de 110 milhões de litros, 15% acima do ano passado. Se o tempo ajudar. “Esperemos que a vaga de calor passe rapidamente para que não prejudique as perspetivas positivas”, diz o presidente da comissão de viticultura alentejana.
Os 15% de crescimento previstos para o Alentejo são boas notícias, já que a região teve três vindimas consecutivas de quebra e espera repor o nível de stocks. Pelo menos em parte. Porque, apesar deste crescimento, a produção esperada ainda é ligeiramente inferior a um ano dito normal, na ordem dos 115 milhões de litros.
Francisco Mateus, presidente da CVR Alentejo, estima que grande parte das vindimas comecem a partir do fim do mês, embora tudo dependa da evolução meteorológica. “Tem estado muito calor, espero que não venha por aí nenhum escaldão”, diz. O Alentejo exporta apenas um terço dos seus vinhos, mas é o campeão das vendas no mercado nacional, com uma quota superior a 40%, quer em valor quer em volume. Neste ano, a região está a vender menos porque tem falta de vinho. Em contrapartida, o preço médio cresceu 3,9% e aproxima-se já dos cinco euros por litro.
Uma estabilização da produção, na ordem dos 145 milhões de litros, é a previsão para o Douro, que espera encerrar o ano com vendas totais de 558 milhões de euros (+0,4%), dos quais 378 milhões de euros serão de vinho do Porto. Mas o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto admite que, quer pelas doenças da vinha quer pelo “calor extremo” que se faz sentir, a produção possa vir a ser inferior. “As chuvas tardias e o excesso de humidade provocaram condições favoráveis ao desenvolvimento de doenças, principalmente de míldio”, destaca o IVDP, o que obrigou a um aumento no número de tratamentos necessários para manter a produção sã.
Os agricultores queixam-se que os custos de produção, por causa disso, triplicaram. E o instituto reforça a importância da contratação de seguros agrícolas.
No Minho, a estabilidade de preços ao produtor é o grande objetivo. “A escassez deste ano não é preocupante porque há um bom
stock de vinhos na região, superior a 70 milhões de litros. A nossa principal preocupação é com a qualidade das uvas e com a estabilização dos preços para que se garanta um rendimento correto para o viticultor”, diz o presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. Mas as primeiras tabelas só serão conhecidas lá para o início do próximo mês, sendo que, este ano, a região espera começar a vindimar na segunda quinzena de setembro.
Em termos de vendas, Manuel Pinheiro assegura que o ano está a “correr bem”, com os Alvarinhos e os rosados a crescerem 16% e 13%, respetivamente, e os brancos estabilizados (-0,6% do que no primeiro semestre de 2017). O verde tinto continua em queda (-20%). Os mercados externos valem já mais de metade das vendas de Vinho Verde.