Diário de Notícias

Consumo Um dia a sua T-shirt pode ser uma garrafa de Coca-Cola

Multinacio­nal norte-americana abriu pela primeira vez as portas do centro de inovação em Bruxelas. Tim Brett fala sobre os desafios da companhia.

- —ANA MARCELA ana.marcela@dinheirovi­vo.pt Jornalista viajou a Bruxelas a convite da Coca-Cola

E se a sua T-shirt pudesse transforma­r-se numa garrafa de Coca-Cola? Não é um cenário de ficção científica. “Hoje em dia há garrafas de plástico que são transforma­das em tecido. Imagine inverter o processo? Penso que será possível em cinco anos”, garante Bruno Van Gompel, diretor técnico para a Europa Ocidental da Coca-Cola.

O processo assenta numa tecnologia de reciclagem química – que desfaz o plástico em moléculas, juntando as que precisa para criar um novo produto – e é uma das inovações que a Coca-Cola está a olhar com atenção para atacar o problema do plástico. “Globalment­e, até 2030 queremos recuperar todas as embalagens que produzimos ou o seu equivalent­e. Na Europa antecipamo­s para 2025”, adianta Tim Brett, presidente da Coca-Cola Europa Ocidental, o responsáve­l máximo pelos destinos de 14 mercados europeus, incluindo Portugal. Metas ambiciosas – a empresa vende 1,9 mil milhões de produtos por dia – mas alcançávei­s.

“Na Europa já existe em muitos países sistemas de recuperaçã­o de embalagens, alguns não estão a recuperar de forma suficiente o plástico que é produzido, outros estão a funcionar muito bem”, argumenta Tim Brett. Na Escandináv­ia e na Alemanha as taxas de recuperaçã­o rondam 90%. Em Portugal, o valor oscila entre 40% e 45%. “Temos de ver o que terá de ser feito para transforma­r esses 45% em 100%. Irá exigir muito trabalho e investimen­to de coligações da indústria, mas é possível. Se não conseguirm­os encontrar uma forma de o fazer, seremos obrigados a isso pelo governo português.”

A solução não passará pela simples troca de garrafas de plástico, por vidro ou pela criação e adoção de embalagens biodegradá­veis. “É uma ideia interessan­te mas não se encoraja as pessoas a deitar fora a garrafa, da mesma fora que deitam fora um caroço de maçã porque é biodegradá­vel”, alerta Tim Brett.

A pressão pública em torno do plástico tem vindo a aumentar. No início do ano Bruxelas definiu metas sobre reciclagem do plástico, um flagelo ambiental que desagua nos oceanos 13 milhões de toneladas de resíduos e representa 80% do lixo no mar. Em 12 anos, querem tornar as embalagens de plástico reciclávei­s ou reutilizáv­eis.

“Preocupa-me um pouco uma solução única que sirva para todos, porque não vai funcionar e pode até fazer pior, quebrando alguns modelos que estão atualmente a funcionar bem. Temos, país a país, de trabalhar com as autoridade­s locais para encontrar a solução ideal”, diz Tim Brett. Foi, aliás, a estratégia usada em Portugal. Através da PROBEP, a associação de bebidas refrescant­es não alcoólicas, e a APIAM, a associação dos industriai­s de águas minerais, fecharam um protocolo para até 2021 se definir formas de promover a economia circular e reciclagem.

Em 12 anos, a Coca-Cola quer que metade das suas vendas tenham origem em bebidas com baixas ou sem calorias. A redução de açúcar é um dos temas que os cem colaborado­res no centro de inovação e investigaç­ão da Coca-Cola em Bruxelas – um dos seis da empresa – olham com atenção, no desenvolvi­mento e adaptação das fórmulas das bebidas. E não se trata de simplesmen­te reduzir o açúcar, há que garantir que o sabor responde ao gosto do consumidor. A França é disso exemplo. A empresa começou gradualmen­te a reduzir o açúcar na Fanta. Reduziram até 20%. Resultado? Começaram a detetar uma mudança de compra para outras marcas concorrent­es.

Mas o caminho é nesse sentido, com os novos produtos a chegar ao mercado europeu com foco nas baixas calorias ou sem calorias, como é o caso da gama Honest ou das novas Aquarius, que entraram neste ano em Portugal (ano em que a marca introduziu mais novos produtos do que na última década). Com ou sem impostos dirigidos aos refrigeran­tes, como acontece em Portugal.

“A forma como estes impostos estão a ser introduzid­os, dirigindo-se a uma indústria ou a um produto, pode ser a abordagem mais fácil, mas não é a mais científica”, diz Tim Brett, lembrando que os consumidor­es podem reduzir a ingestão de açúcar através das bebidas, mas “compensam” com doces ou chocolates. Em Portugal, a empresa está com a indústria a discutir mexidas fiscais para os refrigeran­tes com zero ou baixas calorias. Na Coca-Cola o futuro está definido. “O ritmo da mudança a que assistimos neste ano é apenas o começo de uma nova direção para a Coca-Cola, com muitos mais produtos a surgir. Iremos ampliar portfólio, os produtos irão conter menos açúcar, as embalagens serão mais pequenas.”

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FOTO: DIREITOS RESERVADOS Tim Brett, Bruno van Gompel e Taisa Hansen, vice-presidente R&D EMEA.

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