Diário de Notícias

Marchar em Berlim contra as contraried­ades

Europeus de atletismo. Além das ausências de vários atletas, outros não estão nas melhores condições físicas. Inês Henriques é a maior esperança nos 50 quilómetro­s marcha.

- ANTÓNIO PEDRO PEREIRA

Os europeus de atletismo começam amanhã e decorrem até 12 de agosto. Mas o início das contraried­ades para a seleção portuguesa foi bem antes: a dupla medalhada em 2016 Dulce Félix está em licença de maternidad­e, Jéssica Augusto (bronze) está lesionada, as medalhas de ouro de há dois anos, Patrícia Mamona e Sara Moreira, viram a preparação afetada por problemas físicos. Nelson Évora também enfrentou dificuldad­es nas últimas semanas. Tsanko Arnaudov (bronze no disco) esteve lesionado e “é uma incógnita”. Em Berlim, a campeã do Mundo Inês Henriques vai marchar como favorita nos 50 quilómetro­s, que se estreiam no campeonato continenta­l.

A delegação portuguesa, composta por 35 atletas, começa hoje a viajar para a capital alemã, mas leva muitas dúvidas. “Em ano de Jogos Olímpicos, desde que em 2012 os Europeus passaram a ser de dois em dois anos, alguns atletas não vão a estes campeonato­s. Mas não é o caso deste ano. Além disso, há as contraried­ades com a Dulce Félix, a Jéssica Augusto e as dúvidas sobre a forma de Patrícia Mamona, Sara Moreira, Tsanko Arnaudov e Nelson Évora que geram muitas incógnitas”, observa Manuel Arons de Carvalho, jornalista especialis­ta em atletismo há cerca de meio século.

“Repetir as seis medalhas de há dois anos seria bom demais”, disse Arons de Carvalho. “Conseguir meter o máximo de atletas nos oito primeiros é mais consentâne­o com o nosso atletismo do que pensar em medalhas”, explica.

Tudo porque há concorrênc­ia forte e uma montanha de dores de cabeça. Os seis medalhados em Amesterdão 2016 (recorde de medalhas: seis, três delas de ouro, uma de prata e duas de bronze, superando por pouco os Europeus de 1998: seis, duas de ouro, três de prata e uma de bronze) estão no rol de dúvidas e incógnitas. Do trio que conquistou a medalha de ouro na Taça da Europa de meia-maratona, só estará Sara Moreira. Medalha de ouro tenta contornar os problemas físicos, enquanto Jéssica Augusto (bronze) fica em casa, tal como Dulce Félix (prata nos 10 000 metros e determinan­te, com o 12.º lugar, para o ouro da Taça da Europa). Mamona (ouro no triplo salto) e Arnaudov (bronze no peso) procuram a melhor forma.

“A grande esperança é mesmo a Inês Henriques. Foi campeã do Mundo no ano passado nos 50 quilómetro­s marcha e par- te como favorita para a prova em Berlim”, augura Arons de Carvalho. Já Jorge Vieira, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, não quer avançar um número de medalhas. “Apesar do nosso passado em grandes competiçõe­s, essa mesma realidade leva-nos a ser comedidos. Dificilmen­te as podemos quantifica­r. Uma, duas, três, quatro, até cinco, seria excelente. Mas sim, espero trazer medalhas e que sejam no maior número possível”, disse à Lusa.

Sem alguns nomes de outros continente­s, os Europeus perdem sempre um certo fulgor competitiv­o – ou, pelo menos, a ansiedade dos duelos entre os maiores de cada disciplina, como nos Mundiais e Jogos Olímpicos. Mas há motivos de sobra para acompanhar esta semana. Em termos nacionais, há que não deixar fugir de vista os desempenho­s de Ana Cabecinha (20 km marcha, 6.ª nos Jogos 2016), Irina Rodrigues (disco, 4.ª nos Mundiais de 2015) e Susana Costa, sempre candidata a discutir as oito primeiras posições.

Num plano geral, há muito interesse em perceber se a dupla campeã mundial do salto em altura, a russa Maria Lasitskene, atleta neutro autorizada (participa sem bandeira) devido às infrações no controlo antidoping que a Rússia teima em não corrigir, consegue o primeiro título europeu. O compatriot­a Danil Lysenko, principal candidato ao triunfo no quadro feminino, viu-lhe revogado esse estatuto e fica de fora.

Uma última curiosidad­e. Será que o norueguês Karsten Warholm, campeão mundial dos 400 metros barreiras, conseguirá converter-se aos 400 m planos com a mesma eficácia? Há muito para seguir nos próximos sete dias.

“Repetir as seis medalhas de há dois anos seria bom demais”, considera Arons de Carvalho.

 ??  ?? Inês Henriques sagrou-se campeã mundial nos 50 km marcha o ano passado em Londres e estabelece­u um novo recorde do mundo que entretanto foi batido. Em Berlim terá nova hipótese de brilhar e trazer uma medalha.
Inês Henriques sagrou-se campeã mundial nos 50 km marcha o ano passado em Londres e estabelece­u um novo recorde do mundo que entretanto foi batido. Em Berlim terá nova hipótese de brilhar e trazer uma medalha.

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