Diário de Notícias

Safa Mubaied “Os portuguese­s gostam muito de arroz de pato”

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Foi na Cozinha Central de Odivelas, que abastece boa parte das lojas do Pingo Doce em Lisboa, que Safa Mubaied percebeu o gosto dos portuguese­s por arroz de pato já confeciona­do. “Não sabia nada sobre comida portuguesa. Agora já sei sobre bacalhau à Braz e pato. Trabalhei muito com pato, fazia muito arroz de pato. As pessoas em Portugal gostam muito”, confessa a rir-se.

Safa Mubaied está em Portugal há um ano e sete meses. Fugiu da Síria a pé, através da Turquia, primeiro, e depois pela Grécia de onde partiu de avião com o marido e o filho para Portugal ao abrigo do mecanismo europeu de recolocaçã­o de refugiados.

Parte da família do marido ainda está na Síria. Outra está refugiada na Holanda, também ao abrigo do programa da União Europeia.

Na Síria estava na faculdade a estudar língua árabe para mais tarde ser professora. Para já o sonho fica de lado, mas não exclui aprender bem português e retomar os estudos. Ainda tem dificuldad­e em falar a língua do país que a acolheu, mas garante que vai estudar mais.

Fugiu do país para o marido não ter de trabalhar “com bombas e com trabalho mau”, refere entre palavras em português e inglês.

O regresso à Síria está fora dos planos desta família. O filho de 3 anos está no infantário e apesar de “no início ter estranhado a comida, agora já gosta muito, come tudo. E também gosta muito da professora Carla. Quando chega a casa está sempre a repetir ‘Carla, Carla, Carla,’ ...”

Safa Mubaied confessa que no início foi “difícil. A língua era muito diferente, a comida diferente. Agora gosto muito. É mais fácil. O trabalho é bom e os colegas também”. E está perto de casa “para ir buscar o filho quando tem febre”, refere com um sorriso largo.

E como é trabalhar no atendiment­o aos portuguese­s, numa padaria? “Às vezes foi complicado, porque era uma novidade para as pessoas. É normal, não sabiam que sou síria. Há pessoas que gostam muito das famílias da Síria; há outras que não. Muitas chegaram a perguntar-me porque tinha um lenço na cabeça, porque estava muito calor.” O marido também está a trabalhar numa das lojas do grupo, na Grande Lisboa.

“O meu marido não queria trabalhar com eles. Um trabalho mau, com bombas, e fugimos para a Europa.”

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