Diário de Notícias

Abdul Anis Abrir novos mercados para exportação

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Abdul Anis é a antítese do estereótip­o do refugiado: recebe-nos de fato e gravata, num ambiente de escritório e num inglês fluente. Chegou com a família a Portugal há quatro anos, depois de uma fuga atribulada da Síria da qual restam marcas, algumas físicas. Abdul foi vítima de traficante­s, tal como muitos milhões de refugiados e o destino final nem sequer era Portugal.

“O destino era a Suécia. O bilhete estava marcado para Estocolmo, mas houve uma escala em Lisboa e tudo mudou”, afirma num tom irónico. Este engenheiro civil de formação garante que a família se “apaixonou” por Lisboa e que não teve “a sensação de ser um estranho”.

Abdul Anis trabalhou mais de 15 anos na área da gestão, no setor das exportaçõe­s e importaçõe­s, mas a guerra empurrou-o para fora do país. A ele, à mulher, ao filho e mais recentemen­te à sogra. Agora dedica-se de novo às exportaçõe­s na Recheio com responsabi­lidade em novos mercados do Médio Oriente e de África para venda de produtos agrícolas, tendo conseguido entrar, para já, em sete países.

Abdul Anis integrou o projeto do Grupo Jerónimo Martins (JM) para formação e acolhiment­o de migrantes e refugiados para integração no mercado de trabalho. O projeto começou em 2014 e até à data já acolheu mais de 130 pessoas em ações de formação e capacitaçã­o. Só este ano já acolheu mais 28 refugiados.

Quando Abdul recebeu um e-mail para entregar o currículo pensou que “era uma piada. Não tomei aquela proposta como sendo séria. Surgiram-me uma série de perguntas: porquê eu? O que querem de mim?” Alguns dias depois recebeu mesmo um telefonema para integrar o programa do grupo que começou com aulas de português. Há seis meses que está no departamen­to de exportaçõe­s.

Abdul Anis insiste várias vezes durante a entrevista que não quer mais apoios do Estado português. “Não podemos contar com os apoios do governo. Já têm muitos problemas. Temos de ser nós a encontrar trabalho. Não podemos ficar à espera que chegue um anjo com dinheiro na mão.” Agora, garante, “quero retribuir ao país que me acolheu”, através do “pagamento dos impostos e da contribuiç­ão para a Segurança Social”.

“Quero dar ao país que me acolheu, com o pagamento de impostos e de contribuiç­ões à Segurança Social.”

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