Mau tempo deverá levar a quebra de vendas de cerveja
Depois do mau tempo, temperaturas altas estão a levar a descidas na produção da cevada e a aumentos dos custos.
Depois de um “ano extraordinário” de venda de cervejas em Portugal, o mau tempo no arranque da primeira metade de 2018 leva os cervejeiros a arrefecer as expectativas de crescimento. Pior, as elevadas temperaturas na Europa fizeram aumentar os preços do malte de cevada, essencial para a produção da bebida, e estão a agravar os custos de produção.
“É natural que, depois de um 2017 extraordinário em termos de vendas de cerveja no mercado doméstico (+8%) e considerando as condições climatéricas extremamente adversas que ocorreram nos primeiros seis meses do ano, exista alguma quebra de vendas”, admite Francisco Gírio, secretário-geral da Cervejeiros de Portugal, associação que reúne empresas como a Sociedade Central de Cervejas e Bebidas (a dona da Sagres) ou o Grupo Super Bock (dono da Super Bock).
Não arrisca um número, mas tem uma certeza: vai haver uma descida face aos 6,9 milhões de hectolitros produzidos no ano passado. Um ano recorde para as vendas de cerveja a nível europeu.
(ver caixa) “Ainda é cedo para estimarmos o total do ano, mas acreditamos que haverá quebra face ao ano anterior.”
Situação que leva a Cervejeiros de Portugal a lançar novo alerta à navegação no que toca à política fiscal do governo para o setor, responsável por 80 mil postos de trabalho diretos e indiretos. “Dada estas circunstância é ainda mais relevante para o crescimento sustentado da indústria que seja congelado o imposto especial de consumo (IEC) da cerveja no próximo Orçamento do Estado, para o setor poder recuperar os 14% perdidos em volume de vendas face aos números do ano pré-crise (2008)”, frisa Francisco Gírio. A indústria cervejeira quer um pacto com o governo para o congelamento durante 5 anos do IEC, comprometendo-se a investir no setor produtivo, o que irá resultar num aumento de 20%, para 1,2 mil milhões de euros, no valor acrescentado bruto (VAB) da indústria.
Preço do malte em alta
O mau tempo também tem afetado a indústria ao nível da matéria-prima. O calor que assolou a Europa tem levado a quebras de produção da cevada. Regiões como a Escandinávia, os Países Bálticos, a França ou a Alemanha sofreram perdas na ordem de 50%. Resultado? Os preços do malte de cevada, usado para fermentar e dar cor à cerveja, estão a aumentar desde meados de maio, atingindo máximos dos últimos cinco anos para 230 euros/tonelada, noticiou o Financial Times. Logo, maiores custos de produção.
“Existe de facto um aumento das matérias-primas, o que agrava os custos operacionais das unidades de produção de cerveja, mas esse aumento não atinge os dois terços de que se fala. É muito menos”, garante Francisco Gírio.
Portugal não é autónomo ao nível da produção de cevada. O ano passado, de acordo com os dados compilados pela Cervejeiros de Portugal, foram produzidas 42,6 toneladas de cevada, tendo a indústria consumido 116,9 toneladas. Foram ainda produzidas 6,4 toneladas de lúpulo e consumidos mais de 45 toneladas.
Apesar da subida de preços que se está a fazer sentir no mercado internacional, onde vão buscar grande parte dessa matéria prima, Francisco Gírio desvaloriza o impacto em Portugal. “Não existe risco de falha de fornecimento de matérias-primas e a expectativa é que os preços de cevada e de malte retomem alguma ‘normalidade’ até ao final do ano.”
Melhores notícias para a indústria nacional vêm do lado do dióxido de carbono (CO2). Na Europa do Norte a escassez de produto essencial para o gás da cerveja tem gerado constrangimentos na produção. Um problema que passa ao lado da indústria nacional. “Não existe falta, pois o setor é autossuficiente em CO2. Não dependemos de importações de CO2.”