Diário de Notícias

Algarves (incluindo o drama)

- Ferreira Fernandes

O1864 prossegue o seu destino de andar à volta de um mesmo assunto semanal, às vezes por caminhos ínvios. Como de costume, o assunto é único; os olhares, dispersos. Nesta edição, a ideia foi à volta de uma palavra mágica: Algarve. O assunto, Algarve, é antigo nesta casa, como se pode ver nas três fotos que ilustram (palavra certa, ilustram) esta página. O automóvel é um Overland – não procurem nas ruas, a marca deixou de ser fabricada em 1926, no ano seguinte a terem sido tiradas as fotos. Descapotáv­el, o que explica o motorista usar um capacete de piloto, e com um cartaz no para-brisas: “Diário de Notícias”. Anunciava o nosso jornal como organizado­r do Circuito Hípico de Portugal, ou seja, a primeira Volta a Portugal em qualquer modalidade. Dois anos depois, em itinerário idêntico, o DN inventava também a primeira Volta a Portugal em bicicleta.

A prova hípica percorria o retângulo de Portugal, cerca de dois mil quilómetro­s, e começou a 10 de outubro de 1925. Na edição desse dia, a capa trazia uma saudação do Presidente da República Manuel Teixeira Gomes, um algarvio. Uma semana depois, os cavaleiros e o Overland do DN iam pelo cimo da serra algarvia, no Caldeirão – por carreteira­s (estradas de carroças) e leitos de riachos...

A prova seguiria por Portugal acima, e depois por Portugal abaixo, de volta a Lisboa, a meta. Portugal dividiu-se entre um cavaleiro militar e o cavaleiro civil José Tanganho. Este seria o vencedor e transformo­u-se em herói nacional, por algum tempo, como seriam, poucos anos depois, os rivais Nicolau e Trindade, entre os ciclistas, e Guilherme Espírito Santo e Fernando Peyroteo, entre os futebolist­as.

Nesta semana, os repórteres Ricardo J. Rodrigues e Orlando Almeida tinham destinado percorrer a estrada 125, para contar um dos lugares míticos algarvios. Porém, o 1864 tem de se contentar em mostrar uma foto (página 14) do Verão Quente de 1975, com um turista guedelhudo, louro e descalço pelo asfalto da 125... Os nossos repórteres foram desviados pela atualidade – nesta semana, o drama de Monchique impôs-se (páginas 4 a 7).

Pedro Sousa Tavares recorda os verões com a avó, Sophia, naquela terra inteira que ela resumiu numa pequena aldeia, em dois dos mais belos versos da língua portuguesa: “Porém Cacela/foi desejada só pela beleza” (páginas 8 e 9). O crítico gastronómi­co Fernando Melo revela-nos os sabores algarvios (páginas 10 e 11). E o cronista Nuno Costa Santos descobriu (páginas 12 e 13) Jenny Grainer – um “produto típico”, uma inglesa algarvia – que conheceu, quatro décadas depois, quase ainda intacto, o mesmo Algarve rude da Volta a Portugal a cavalo, em 1925. Como estávamos dizendo, um Algarve mágico...

 ??  ?? A meados de outubro de 1925, na serra do Caldeirão, o descapotáv­el do DN seguia os cavaleiros do Circuito Hípico de Portugal e até se deixava ultrapassa­r... porque um pneu da frente do Overland furou. A bordo ia o motorista, o repórter Oldemiro César e o diretor delegado Caetano Beirão da Veiga. Essa Volta a Portugal a cavalo daria ao DN a ideia de organizar, dois anos depois, em 1927, a primeira Volta a Portugal em bicicleta.
A meados de outubro de 1925, na serra do Caldeirão, o descapotáv­el do DN seguia os cavaleiros do Circuito Hípico de Portugal e até se deixava ultrapassa­r... porque um pneu da frente do Overland furou. A bordo ia o motorista, o repórter Oldemiro César e o diretor delegado Caetano Beirão da Veiga. Essa Volta a Portugal a cavalo daria ao DN a ideia de organizar, dois anos depois, em 1927, a primeira Volta a Portugal em bicicleta.
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