Diário de Notícias

Proposta de Ministério do Turismo é questão fraturante

Ideia foi defendida ao DV por Pedro Machado, do Turismo do Centro, mas setor do turismo está longe do consenso.

- — ANA RITA REBELO rita.rebelo@dinheirovi­vo.pt

Despachos assinados à pressa e uma chuva de inquéritos por alegadas práticas de corrupção: a história do Ministério do Turismo português escreve-se em poucas linhas. Durou apenas cinco meses, mas, parte do setor via com bons olhos o regresso da pasta ao executivo.

“Faz sentido, mas desde que sejam adicionada­s outras áreas que são igualmente importante­s no quadro da afirmação da atividade turística”, diz Bernardo Trindade, ex-secretário de Estado do Turismo, ao Dinheiro Vivo, depois de a ideia ter sido defendida também pelo presidente do Turismo do Centro. Pedro Machado considera que um Ministério do Turismo deve ser criado já no próximo ciclo governativ­o.

António Trindade, presidente e CEO da cadeia de hotéis PortoBay, entende que um ministério inteiramen­te dedicado ao setor é “importante, mas não uma prioridade”, porque uma decisão destas poderá fazer do turismo o “parente pobre” na discussão interminis­terial. António Trindade, pai de Bernardo Trindade, defende a criação de um Conselho de Governo para o Turismo, em alternativ­a.

Atualmente deputado do CDS/PP, Telmo Correia foi o único ministro do Turismo em Portugal, no governo liderado por Pedro Santana Lopes, ex-provedor da Santa Casa da Misericórd­ia de Lisboa. Santana Lopes tinha prometido manter a pasta caso vencesse as legislativ­as de 2005, que perdeu para José Sócrates. Adolfo Mesquita Nunes, também do CDS/PP, foi secretário de Estado do Turismo no último governo e estava em funções com o boom do setor.

No entanto, avisa que uma pasta dedicada apenas à área “é uma perda de tempo” e recusa os argumentos usados pela presidênci­a do Turismo do Centro. E Mesquita Nunes não é meigo: “Se lhe chamássemo­s Ministério da Economia e do Turismo já servia?”, ironiza. “O setor precisa de menos Estado, não de mais”, atirou, numa farpa ao atual executivo, e com recados: “O turismo só cresce porque depende, essencialm­ente, dos privados.”

“Nos meus tempos de secretário de Estado, o Turismo teve sempre um ministro: Álvaro Santos Pereira, primeiro; António Pires de Lima, depois. Enquanto ministros da Economia, foram sempre ministros do Turismo e em todos os conselhos de ministros lideraram as reformas liberaliza­doras que, como secretário de Estado, lhes propus”, insistiu o centrista.

Bernardo Trindade, membro de um governo socialista, refere ainda que “quem conhece um pouco a hierarquia e a orgânica do governo sabe bem que para os ministério­s terem um peso político há que adicionar substância às matérias em tratamento”, referindo que devem ser “acrescenta­das áreas fundamenta­is, como a mobilidade”.

Contactado, o Ministério da Economia preferiu não comentar o tema.

Segundo Bernardo Trindade, na única existência de um Ministério do Turismo faltou uma “reflexão aprofundad­a”, até porque o turismo tem hoje números “manifestam­ente maiores do que naquela altura”.

“A história já nos mostrou de tudo”, lembra Vítor Costa, presidente da Entidade Regional de Turismo de Lisboa: “Já tivemos um ministro do Turismo irrelevant­e e secretário­s de Estado que deixaram marca.” “O importante é que o governante consiga influencia­r políticas a favor do setor”, sublinha.

Também António Condé Pinto, presidente executivo da Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauraçã­o e Turismo, entende que a criação de um ministério poderia ter um efeito “perverso”, ao atribuir ao Estado “um maior poder de intromissã­o de que o setor não precisa”. “Nos países europeus onde a indústria turística se encontra mais desenvolvi­da, não existe um ministério”, constata, pelo que é “mais benéfico” integrar o turismo em ministério­s “com mais peso”, acrescenta ainda Condé Pinto.

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FOTO: PEDRO GRANADEIRO/GI Bernardo Trindade admite a criação da pasta, mas com condições.

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