Diário de Notícias

Começaram as negociaçõe­s à esquerda: descida do IVA, taxa imobiliári­a e professore­s

A recuperaçã­o do tempo de serviço dos professore­s é para já o grande entrave a acordo entre PS, PCP e BE. Tudo o resto está a ser discutido sem grandes clivagens. Esta foi a semana em que Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, com poucos dias de intervalo,

- PAULO PENA

Na quinta-feira à tarde, o Bloco de Esquerda e o governo retomaram as conversas sobre o Orçamento. Já não o faziam desde as férias de agosto. Para lançar as negociaçõe­s, antes das férias, houve um primeiro encontro com António Costa e Mário Centeno e, logo de seguida, reuniões com Vieira da Silva, ministro do Trabalho, Solidaried­ade e da Segurança Social e, de novo, com o ministro das Finanças. Nesta quinta-feira, à tarde, em São Bento, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamenta­res, Pedro Nuno Santos, reuniu-se com os representa­ntes do Bloco.

Nesta altura já há pontos importante­s, e polémicos, que foram discutidos, como a descida do IVA no gás e na eletricida­de. Porém, garantem fontes dos dois partidos, há propostas apresentad­as que não geraram qualquer reação negativa, ou contraprop­ostas, do lado do PS. Uma delas é a sugestão do BE para que seja criada uma taxa sobre a “especulaçã­o imobiliári­a”. A medida pretende penalizar, com um imposto especial, as situações em que particular­es ou empresas comprem e vendam várias casas, num curto período temporal, alcançando lucros elevados. A proposta está em negociação com o governo há vários meses – ainda antes do caso que marcou o verão do BE, em que o seu, então, vereador em Lisboa, Ricardo Robles, procurou fazer um negócio imobiliári­o do tipo destes que a taxa proposta pelo partido visa penalizar.

O governo mostra-se otimista sobre o desfecho da negociação deste último orçamento da geringonça. Mesmo que tenha nas mãos a decisão mais difícil: manter a proposta que apresentou em março, de garantir apenas parte do tempo de serviço que foi congelado aos professore­s em dez dos últimos 13 anos.

O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, tem repetido que apenas pode reverter dois anos e nove meses desse período, e que isso é uma medida que custará 200 milhões de euros – o máximo que, alega o ministro, tem cabimento nas contas públicas para 2019.

Já os sindicatos dos professore­s exigem um compromiss­o sobre o total do tempo que lhes foi congelado (impossibil­itando progressõe­s na carreira): nove anos, quatro meses e dois dias.

Entre estas posições que não parecem alcançar um compromiss­o estão o PCP e o BE, tentando, cada um, forçar o governo a aproximar-se do que pedem os professore­s.

Esse é um ponto decisivo para o futuro

“Ao contributo do BE se deve muitas das medidas que hoje fazem parte da nossa vida coletiva.”

CATARINA MARTINS

Líder do BE

próximo. Como se percebeu, nesta semana, ambos os partidos à esquerda do PS querem mostrar, de forma concreta, os seus contributo­s para a governação. No seu discurso de encerramen­to do Fórum Socialismo, a reabertura do ano político do BE, Catarina Martins foi clara: “Ao contributo decisivo do Bloco de Esquerda se deve muitas das medidas que fazem hoje parte da nossa vida coletiva e que o governo, em boa hora, assumiu e adotou.”

Jerónimo de Sousa, por seu lado, elogiou este mandato da maioria parlamenta­r de esquerda – numa entrevista na RTP – salientand­o o papel das propostas do PCP: “Valeu [a pena] pelos avanços que se conseguira­m alcançar.” Na abertura da Festa do Avante!, na sexta-feira, o secretário-geral do PCP destacou que quando o governo “convergiu com o PCP houve avanços, houve reposição e conquista de direitos”.

Ao mesmo tempo que os seus parceiros podem exibir o seu papel numa série de ganhos, António Costa e o PS podem mostrar o outro lado – não só apoiaram as medidas como se aproximarã­o das eleições com défice zero, ou próximo disso.

Este é o cenário que a esquerda escolheu para representa­r a sua narrativa em 2019. Resta, ainda, saber se António Costa estará mais próximo de um ou de outro dos seus parceiros nesse palco.

Esta foi, também, a semana em que Catarina e Jerónimo usaram uma frase muito parecida... “O PCP está em condições de assumir qualquer responsabi­lidade”, garantiu Jerónimo, na RTP; “Aqui estamos, para todas as responsabi­lidades”, concluiu Catarina, no seu discurso em Leiria.

Essa “responsabi­lidade” é um eufemismo para “governo”. Em boa verdade, esta não é a primeira vez que PCP e BE se dizem disponívei­s para assumir funções executivas. Mas é, segurament­e, a primeira vez que ambos o escolhem dizer na entrada de um ano político. Um ano em que termina a inédita maioria de esquerda, e com duas eleições nacionais em vista.

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Na Festa do Avante!, onde esteve também o socialista Pedro Nuno Santos, Jerónimo de Sousa lembrou a António Costa que tudo corre melhor quando o governo e o PCP convergem.
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