“Não se pode confundir a literatura com o que é mais lido, a subliteratura”
O seu livro é dos primeiros a chegar às livrarias nesta rentrée literária. Espera algum livro extraordinário entre as novidades?
Isto não está fácil... Hoje é difícil editar poesia, vê-se com os poetas novos e até alguns consagrados. Quanto à edição em geral, creio que há falta de critério. Existem os livros comerciais, os ensaísticos e os literários, mas não se pode confundir a verdadeira literatura com o que para aí se publica e que muitas vezes é aquela que é mais lida, a subliteratura. Porque é publicada por personalidades conhecidas e trata da história do homem que fala com Deus, do que mudou de sexo ou da operada a um cancro. Explora-se muito esse tipo de subliteratura sensacionalista, tanto que podemos ir a uma livraria e ter dificuldade em encontrar os grandes autores.
É a primeira vez que lança um livro com edição simultânea na língua espanhola?
Esta antologia, Todos os Poemas São de Amor, surgiu com a intenção de ser publicada na Feira do Livro de Guadalajara, para a qual João de Melo fez o prefácio, e onde será apresentada.
A seleção teve em conta esses leitores?
Não, são os poemas de amor espalhados por diversos livros e que estavam diluídos no conjunto dos volumes de que faziam parte. Nesta antologia, surgem com outra potência e, como me têm dito, a antologia vem mostrar a dimensão lírica da minha poesia. Fala-se muito da nostalgia da epopeia e da dimensão épica, mas existe nela uma grande dimensão lírica que está bem presente neste livro.
Uma lírica, também bastante erótica como no poema “Esplendor na Relva”...
São poemas de amor e o erotismo faz parte do amor, tal como a espiritualidade.
Já reunira os poemas de Abril e agora são os de amor. O que falta?
Não sei responder. É difícil fazer uma antologia numa obra em que alguns dos livros tornaram-se míticos. Cortar poemas em livros emblemáticos no seu conjunto é complicado, tal com autoantologiar-me.
Na ida ao México vai acompanhado de poetas jovens. Sente-se bem acompanhado?
Nunca gostei de excursões, mas fui convidado – sou convidado de honra – e não tenho problema em estar acompanhado de poetas e escritores mais jovens. Pelo contrário, gosto de estar com pessoas que partilham da mesma paixão pela escrita.
Já sentiu curiosidade em ler o trabalho desses autores mais jovens?
Alguns li, outros não. Na minha idade há mais tendência para reler autores que nos marcaram do que estar a fazer experimentalismos.
Há quem faça contas e diga que há mais mulheres poetas interessantes do que homens. Já fez essa contabilidade?
Não fiz. As poetas interessantes que conheço são a Sophia, a Natália Correia ou a Maria Teresa Horta. Mas há grandes poetas homens: Nuno Júdice ou Gastão Cruz.
Acha que a delegação de Portugal à Feira do Livro de Guadalajara é representativa?
Isto é como no futebol, cada adepto faz a sua seleção. Estão lá os prémios Camões, o que por si só é suficiente, a Lídia Jorge, Gonçalo M. Tavares, Afonso Cruz, António Carlos Cortez – esperemos que António Lobo Antunes – e não sei quantos mais.
Este livro contém nove poemas inéditos. São também uma antologia dos originais?
São aqueles que achei publicáveis. Há gente que escreve muito, mas no meu caso não existem poemas na gaveta.
O que o faz continuar a escrever?
Escreve-se por um imperativo, um impulso, algo que não sabemos explicar. Não escrevo por obrigação, sequer de forma programada, faço-o porque sim e devido a um impulso a que não se consegue resistir.
“Quanto à edição em geral, creio que há falta de critério e explora-se muito o sensacionalista.”