México lindo y querido
Diga-se que as margueritas ajudam muito à animação das festas nacionais do México, como a que na sexta-feira, em Lisboa, celebrou os 208 anos da independência do mais populoso país de língua espanhola (o feriado é hoje, 16). Como é tradição, houve cerimónia de entrega da bandeira ao embaixador e este de seguida desafiou a comunidade presente a lançar o grito (grito mesmo!) que dá vivas a Hidalgo e companheiros, pois o padre é considerado o verdadeiro pai da nação e não esse Agustín de Iturbide, general vira-casacas, que em 1821 se proclamou imperador.
Não se contentou, porém, o embaixador Alfredo Pérez Bravo em promover a tequila e a gastronomia mexicanas (os nachos chegavam para logo desaparecerem); quis mostrar um pouco também da cultura popular do país, apresentando Efrain Berry, cantor e ator que com um estilo algures entre o matador e o galã pôs toda a sala a dançar, ou pelo menos a abanar. Com o cocktail feito a partir da bebida destilada do agave-azul (um cato) a acentuar a animação, os festejos continuaram por umas duas horas, mesmo que não tenha certeza de que todos os embaixadores convidados, como o americano George E. Glass (sim, os muros entre os EUA e o México são mais permeáveis do que se possa imaginar), tenham ficado até ao fim. Houve uma altura em que a festa começou a ser já muito de mexicanos para mexicanos, com os diplomatas a conviverem com os cidadãos imigrados.
Mas não se pense que o México, herdeiro de várias civilizações pré-colombianas, é só margueritas, tacos e enchiladas e músicas do género ranchero, o estilo que lançou Efrain Berry, que em Lisboa se apresentou vestido de charro, cavaleiro tradicional mexicano, de chapéu e tudo e cantou, entre outras, México Lindo y Querido. O México é também Diego Rivera, Frida Kahlo, Octavio Paz e Carlos Fuentes, já clássicos. E, justiça seja feita à modernidade, o México é também, e isso todos que gostamos de cinema temos obrigação de saber, Alejandro Iñárritu e Guillermo del Toro. Ora, é neste México de 130 milhões de habitantes (mais 36 milhões fora de fronteiras, garante Pérez Bravo, incluindo 700 por cá) que Portugal tem uma excelente oportunidade de se mostrar também como país de cultura. E já em finais de novembro, pois somos o país convidado de honra da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, a maior de língua espanhola. O poeta Nuno Júdice, que não percebi se era fã de margueritas mas ouviu de certeza o cantor, é um dos convidados a ir à cidade mexicana. Ele e mais uns 40 escritores de língua portuguesa, incluindo o cabo-verdiano Germano Almeida, nosso colunista. Pois viva esse México, que o máximo que vi, admito, foi a paisagem de Tijuana a partir da fronteira de San Ysidro.