A Mãe de Deus!
Há três dias, vou na rua e um homem levanta-se do banco em que está sentado e pergunta: “Quer saber mais sobre a história da Mãe de Deus?” Não, foi quase a resposta, mas disse antes obrigado e que estava sem tempo.
Há seis dias, numa entrevista com um francês que vive na Suécia e que decidiu escrever um romance sobre a corrida à prata que existia nas minas da Lapónia no século XVII, ele contou que descobrira que uma expedição de especialistas em minerais, geógrafos, cartógrafos e toda a gente que pudesse ajudar a monarquia sueca a reinar num país rico fora para aquelas terras a caminho do Polo Norte no ano de 1665. Os governantes escandinavos pretendiam tornar-se tão ricos com a prata da Lapónia como os portugueses e espanhóis ficaram com o ouro e as pedras preciosas das Américas, realizando assim um sonho que tinham: rivalizar com os dois grandes impérios da Península Ibérica.
Então, e aqui voltamos ao romance que Olivier Truc vai publicar para o ano e no qual entra uma personagem paralela a essa expedição sueca que virá a Portugal informar-se sobre as grandes novidades da cartografia de seiscentos, de modo a planear a expansão nórdica. Para dar espessura à personagem, o escritor regressou a Portugal, aonde tinha vindo à boleia em jovem, para pesquisar a nossa história. Foi a Sagres para conhecer no local aquilo que sabia ser um mito, a Escola de Sagres do infante D. Henrique. Depois a Lisboa, consultar documentação antiga e ver onde se situava a Casa da Índia para pôr a sua personagem a fazer espionagem para os reis suecos.
O que Olivier Truc queria com esta investigação em Lisboa era evitar erros históricos. Como aquele que os bastards ingleses têm no Museu Nacional Marítimo em Greenwich, onde há centenas de réplicas de navios que correram mundo em busca de civilizações, e também os retratos dos principais navegadores, com Vasco da Gama em destaque, mas com uma legenda cheia de despeito pois refere com grande destaque não que o navegador chegou à Índia, mas que só o fez à custa de pilotos locais.
A investigação de Olivier Truc em Lisboa fez-me pensar que está mais do que nunca na hora de se avançar com a construção de um Museu dos Descobrimentos para os que querem conhecer a nossa história. Claro que é fundamental ignorar os inúteis nacionais que discutem o nome de um museu adiado em vez de quererem explicar o património, aliás, tendo em conta que o erro dos ingleses na legenda não foi por acaso mas sim a coberto dos nossos escrupulozinhos passadistas.
Quanto à Mãe de Deus, como fiquei curioso com a interpelação do homem, fui saber o que era e descobri que esse título atribuído a Maria não está na Bíblia. Tanto Marcos como Lucas estão a ser vítimas de “legendas” à inglesa.