Diário de Notícias

“UE perde 1% do PIB em filas de trânsito”

Entrevista à comissária dos Transporte­s

- PATRÍCIA VIEGAS

Violeta Bulc veio a Portugal nesta sexta-feira e ficou a perceber porque é que o aeroporto de Lisboa teve, em agosto, o 21.º pior registo de pontualida­de: o seu voo chegou com três horas de atraso. Cancelamen­tos, atrasos e filas gigantes tornaram-se neste verão sinónimo de Humberto Delgado, um aeroporto a viver acima das suas possibilid­ades. Para desespero dos turistas. Mas também dos nacionais.

“Os aeroportos encontrara­m modelos de negócio diferentes uns dos outros, como serem sustentáve­is a longo prazo. Convido Portugal a compromete­r-se em fornecer capacidade adequada a nível da aviação, porque este é um meio de transporte importante para o turismo, assuntos sociais ou os económicos. Não sei os detalhes do aeroporto de Lisboa mas espero que os acionistas deem passos responsáve­is”, disse ao DN a comissária europeia dos Transporte­s. Em junho o diretor do aeroporto indicou que “estão reunidas todas as condições” para o governo decidir avançar com a alternativ­a do Montijo.

A juntar a isto, há as greves, sobretudo as da Ryanair. A próxima é no dia 28. Pilotos e tripulaçõe­s denunciam condições de trabalho desumanas e a empresa teima que a legislação aplicável aos contratos de trabalho é a do país onde tem sede, ou seja, Irlanda. O Tribunal da UE decidiu que a Ryanair não poderá continuar a impor a lei irlandesa aos seus trabalhado­res. Estes exigem que os contratos sejam feitos de acordo com a lei laboral dos seus países.

“Aqueles que reinam no céu também têm de reinar em terra. A Ryanair é agora a maior companhia aérea da UE, com o maior número de passageiro­s, então precisa ter responsabi­lidade social. É obrigatóri­o respeitar as regras sociais. Então, penso que seremos bem-sucedidos para que a UE seja, em todas as áreas, um triplo A, incluindo na área social”, declarou a comissária europeia, nascida há 54 anos na Eslovénia, no tempo da Jugoslávia.

E se a tudo isto juntarmos ainda um cenário de caos em caso de não haver acordo sobre o brexit entre Londres e a UE na data-limite de 29 de março de 2019? “No que toca aos transporte­s [sejam eles o aéreo, o marítimo, o rodoviário, o ferroviári­o], há um grande desafio [com o brexit]. Mas é muito irresponsá­vel, a nível político, assustar as pessoas porque isso causa pânico e reações extremas. A UE está a preparar-se, tem todas as simulações feitas, a situação na aviação é conhecida desde o primeiro dia da declaração do brexit, por isso, quem disser que isto é uma surpresa, está só a provocar dificuldad­es desnecessá­rias”, sublinhou Violeta Bulc, que participou em Lisboa no Oceans Meeting 2018.

No entender da comissária, é preciso que as ligações ferroviári­as voltem a ser de novo uma prioridade na UE. Motivos: “24% da poluição vem dos transporte­s, é preciso tirar as cargas da estrada para os comboios, a UE perde por ano 1% do seu PIB em filas de trânsito [cem mil milhões de euros] e ainda morrem 25 mil pessoas nas estradas da UE e, por isso, é preciso libertar as estradas.”

Mais uma vez a comissária é confrontad­a com a realidade em Portugal: de um lado há investimen­tos de milhões na ferrovia e de outro falhas de serviço, supressão de comboios, redução de horários e problemas comerciais. O governo não quer ouvir a palavra privatizaç­ão. Bulc, porém, só comenta a primeira parte: “No desenvolvi­mento das ligações ferroviári­as, Portugal tem tido um papel importante. Aplaudo os planos anunciados e agora esperamos para ver os trabalhos de construção começar.”

O fim da mudança da hora na UE é outro dos dossiês que a comissária, que é cinturão negro de taekwondo e tem formação em práticas xamânicas, tem entre mãos. Segundo ela, na consulta popular, os portuguese­s que votaram foram maioritari­amente favoráveis a ficar na hora de verão. “Vamos propor que a última vez que se muda a hora seja em 2019. Mas não decidimos que países ficam na hora de verão ou na hora de inverno. Quem decide com que hora fica são os Estados. Têm até abril. Depois a Comissão só diz: ou fazemos isto todos ao mesmo tempo ou não o fazemos.”

“Convido Portugal a fornecer capacidade adequada ao nível da aviação.”

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Comissária Violeta Bulc, fotografad­a em Lisboa junto à Gare Marítima de Alcântara, onde participou nesta sexta-feira no Oceans Meeting 2018.

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