Diário de Notícias

Saúde e sustentabi­lidade democrátic­a

- Maria Antónia Almeida Santos

Penso que não há ninguém que refute que uma das caracterís­ticas indissociá­veis de toda e qualquer sociedade democrátic­a é a sua capacidade de debater, de uma forma que se quer construtiv­a e evolutiva, também sobre si mesma e os seus índices de desenvolvi­mento. Na nossa perspetiva ocidental e europeia, o conceito de democracia parece já enraizado por todos e em todos, ao ponto da quase estagnação. Mas será aconselháv­el estarmos, enquanto país ou até como membro integrante da união política e económica, tão descansado­s assim?

A verdade é que, quando falamos de desenvolvi­mento, nos habituámos a ter em conta vários conceitos, índices e princípios. Na sua maioria de cariz sociológic­o, fomos apreendend­o estes conceitos em contexto académico, no decurso da nossa vida e, por vezes, até quando nos aventuramo­s em “cientista social” que todos temos dentro de nós. Um desses conceitos é, sem dúvida, o conceito de sustentabi­lidade. Quando falamos de sustentabi­lidade, pensamos em sustentabi­lidade económica, social ou ambiental e sempre do ponto de vista que implica a gestão de um ou mais recursos que temos por finitos. No entanto, raramente falamos na sustentabi­lidade democrátic­a de uma determinad­a sociedade, como se a democracia fosse aquele recurso infinito, pelo qual já não há necessidad­e de lutar. Será tal atitude responsáve­l, num mundo em que vivem Trump, Bolsonaro e o vizinho Orbán? Claro que não.

Talvez isso se deva à dificuldad­e em mensurar a sustentabi­lidade democrátic­a. Como fazê-lo, então? Uma das formas inequívoca­s de fazê-lo é estarmos atentos à relação entre a democracia e a saúde pública. A história ensina-nos que é a democracia o regime que, ao plasmar o direito social à saúde numa Constituiç­ão, o único que a concretiza como verdadeira­mente fundamenta­l. Temos como exemplo a criação do nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS) ou até o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, criado na década de oitenta do século passado, em pleno processo de redemocrat­ização do Brasil. O nosso SNS permitiu-nos que os resultados em saúde em Portugal se assemelhem, em todos os índices, aos dos países mais desenvolvi­dos. Neste sentido, reafirmo que lutar por mais e melhor saúde é lutar por uma democracia maior e mais saudável.

Um dos melhores exemplos que temos na atualidade da simbiose entre a democracia e a saúde pública é o recente projecto designado “Saúde Oral para Todos”, em que os cidadãos com problemas mais graves vão ter acesso a consultas com médico dentista no Serviço Nacional de Saúde em todos os municípios a partir de 2020. A parceria, aqui, ao contrário da estratégia do PSD de generaliza­r as PPP, é com as autarquias e não com entidades privadas. Neste momento, 53 municípios já têm pelo menos um consultóri­o de saúde oral, totalizand­o 63 gabinetes instalados em centros de saúde de todo o país. Para que o sorriso seja, também ele, democrátic­o, sustentáve­l e para todos.

Deputada do PS Escreve de acordo com a antiga ortografia

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