José Kaliengue
Diretor do jornal O País
“Depois de anos de interrupção de visitas ao mais alto nível, criou-se um ambiente mais descomprimido, capaz de melhorar a perceção que cada um dos lados tem do outro. De Portugal poder-se-á deixar de ver Angola como um quadrado africano da corrupção e de Angola deixa-se de ver Portugal como o retângulo europeu da intriga e da ingerência. E isto é fácil de notar, basta olhar para a forma como os jornais e as televisões dos dois lados retrataram o assunto, com muito mais “carinho” e com uma vontade manifesta de “ajudar” a que o passado fique no museu e que se olhe para o futuro, como disse António Costa no Museu de História Militar de Luanda.
Um relançamento da apetência por Angola da parte dos empresários portugueses, em busca de participação na linha de crédito de 1,5 mil milhões de euros avançada pelo primeiro-ministro para Angola e também como resultado do compromisso angolano de saldar a dívida de cerva de 500 milhões de euros do Estado angolano com empresas portuguesas. E tudo isso somado ao acordo para o fim da dupla tributação, o que constitui um apelo forte para a internacionalização das empresas portuguesas para Angola e para o relançamento das exportações. Mas nisso de exportações é válido para os dois lados, tal como para os investimentos, porque há dinheiro angolano que precisa mesmo de sair do país e Portugal é um destino seguro de investimentos.
É relançada a cooperação política bilateral, assim como a cooperação judiciária. No plano multilateral os países sempre cooperaram, mas as ligações podem ser reforçadas, quer no papel de Portugal na União Europeia para o apoio à ação angolana na resolução das crises na RDC e na República Centro-Africana, por exemplo, quer no “apoio” de Angola na ação portuguesa na Europa, fazendo que Portugal não pareça tão pequeno na dimensão territorial da sua economia e da sua cultura, fundamentalmente a língua, que tem um território, na verdade, que vai para além das fronteiras portuguesas e europeias”.