“Deus deu ao meu pai uma segunda oportunidade”
A família mais mediática do Brasil nos dias que correm divide-se entre os compromissos, país afora, da campanha eleitoral que pretende levar Jair Bolsonaro para o Palácio do Planalto, a afinação da estratégia para as duas últimas semanas nas ruas antes do sufrágio do próximo dia 7 de outubro e o acompanhamento ao patriarca, desde 6 de setembro numa cama de hospital a recuperar de uma facada que sofreu na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, de Adélio Bispo, entretanto detido, durante um comício.
No meio dos diferentes níveis de tensão, um dos filhos do capitão do exército do PSL aceitou conversar com o DN. Carlos Nantes Bolsonaro, 35 anos, vereador da cidade do Rio de Janeiro desde os 17 – um recorde nacional –, é um dos principais conselheiros do candidato líder das sondagens, ao lado do irmão mais velho Flávio, do irmão mais novo Eduardo e da cúpula do partido.
Fala em “segunda oportunidade” dada por Deus ao seu pai, em “continuidade do caos”, caso um candidato de esquerda vença a eleição e na defesa da liberdade “de um indivíduo optar pelo porte de arma ou não”. Sobre os detratores, como o grupo Mulheres Unidas contra Bolsonaro, que reuniu mais de um milhão de mulheres online, rebate: “Porque não se preocupa com o grupo de mulheres que apoiam o Bolsonaro?” Com a liderança destacada de Jair Bolsonaro na primeira volta das presidenciais de outubro [tem 28% das intenções de voto, segundo o Datafolha, mais 12 pontos percentuais do que o segundo classi- ficado Fernando Haddad, do PT], a vossa campanha já se preocupa com a eventual união de todos os candidatos contra o seu pai na segunda volta? Inicialmente não, uma vez que ainda não temos a vaga para a segunda volta garantida. As eleições são definidas com a abertura das urnas. Se o segundo classificado Fernando Haddad, ou outro candidato à esquerda, como o terceiro classificado Ciro Gomes [PDT], vencer a eleição o que isso representaria para o Brasil? Representaria a continuidade do caos que se instaurou no país após três décadas de governos socialistas. Como acha que o episódio da facada sofrida pelo seu pai no comício de Juiz de Fora se refletiu na campanha eleitoral e nas eleições? O episódio propiciou uma exposição enorme da figura do meu pai. E o seu pai vai passar a circular com colete à prova de bala? Ou limitar as aparições públicas? O que está a ser equacionado? Em algumas ocasiões ele já faz uso do colete. Não limitará as aparições públicas: assim que ele estiver restabelecido, tudo continua como era antes. O senhor estava lá naquele momento? O que viu, como se sentiu? Sim, eu estava no local. Contudo estava no carro, aguardando o meu pai, para efetuarmos uma deslocação para outro lugar. E ele acabou por chegar à viatura carregado. Naquele momento, senti muita apreensão. Mas Deus está sempre vigilante, a equipa médica do Hospital Santa Casa de Misericórdia, ainda em Juiz de Fora, prestou um excelente serviço, assim como a equipa do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, vem fazendo um excelente serviço. Desse modo, o pior não aconteceu. Deus deu-lhe uma nova oportunidade e com isso a missão de mudar o Brasil. Quando iniciou a sua carreira política? E como o seu pai e família o influenciaram? A minha carreira política teve início aos 17 anos de idade [foi eleito nesse ano como o mais jovem vereador do país], por influência dos meus pais que já eram parlamentares. O senhor, os seus irmãos e o seu pai são muito criticados pelos rivais pela suposta apologia às armas. A essas acusações costumam responder que “o problema não são as armas, são as pessoas”. O que quer dizer com isso? Na verdade queremos que as pessoas possam optar pela forma de defesa, com ou sem armas, porque essa decisão tem de ser do indivíduo. É óbvio que a permissão de compra, porte e utilização de armas de fogo somente será concedida a pessoas que passarem por treino e tiverem aptidão para tal. Atualmente a nossa legislação não permite esta escolha. O que tem a dizer a quem critica o seu pai e a campanha em torno dele por serem violentos, homofóbicos, machistas e outras acusações do tipo? Nada tenho a dizer, as pessoas são livres para expressar as suas opiniões, contudo tenho a minha posição para cada um dos temas. Preocupa-o a criação e o aparente sucesso do grupo online Mulheres Unidas contra o Bolsonaro? Respondo à sua pergunta com uma outra: preocupa o Diário de Notícias o grupo de mulheres que apoiam Bolsonaro? Foi um grupo criado espontaneamente, assim como todas as manifestações de apoio que o meu pai vem recebendo de grande parte da sociedade.
“Em algumas ocasiões ele já faz uso do colete. Não limitará as aparições públicas: assim que ele estiver restabelecido, tudo continua como era antes.”
CARLOS BOLSONARO Filho e conselheiro de Jair Bolsonaro