Diário de Notícias

Ainda à espera da revolução no meu bolso

- Por Ricardo Simões Ferreira

O meu fiel telefone entregou a alma ao criador – ou melhor, a bateria – e, em lugar de lhe arranjar outra, decidi comprar outro aparelho. Optei por um dos novos Nokia porque gosto da qualidade dos materiais, da sensação sólida que a construção transmite e do facto de incluir uma entrada normal para headphones. Há ainda um fator que é, para mim, o mais importante: o facto de a HMD Global (a empresa que tem o direito de usar a marca Nokia) usar o Android One – uma versão “pura” do sistema operativo da Google, sem as alterações e o bloatware (programas inúteis muitas vezes impossívei­s de desinstala­r) que a maioria dos fabricante­s metem nos seus telefones.

Sendo eu um órfão da desistênci­a (até ver) da Microsoft em conquistar um espaço próprio no mercado de smartphone­s – continuo a achar que o Windows Phone/Windows 10 Mobile é um sistema excelente, seguro, clean e intuitivo, mas o que se há de fazer? Não vingou – a opção por um Android era inevitável. É muito mais personaliz­ável do que o iOS, da Apple, e as ferramenta­s que estou habituado a usar no telefone (Outlook, Edge, Skype, Word, Excel, etc.) existem, são boas e, acima de tudo, podem ser configurad­as como apps “de sistema”.

De qualquer forma, após mais de três semanas de utilização exclusiva do Android 8.1 (a versão mais recente que a Google já libertou) – e apesar das óbvias vantagens de estar num “ecossistem­a” com milhares de apps úteis que fazem da loja da Microsoft um quase deserto –, confesso que continuo a ter saudades de ter Windows no smartphone. Mas, acima de tudo, sinto falta do que não existe. Vou tentar explicar: na última década (a propósito, o Android fez 10 anos nesta semana), o smartphone revolucion­ou os hábitos quotidiano­s de milhões de pessoas. Passámos a trabalhar de forma diferente (sempre ligados – para o bem e para o mal); a usufruir os momentos de lazer com outra perspetiva (a do melhor ângulo para a selfie ou da foto do Instagram – o que, poderíamos argumentar, é uma tristeza... mas isso agora não interessa nada). Sentimos que podemos meter a mão no bolso e de lá tirar um comando para todo o nosso mundo. Mera ilusão, obviamente, que apesar de agradável é efémera e pouco satisfatór­ia.

Facto é que, nesta última década, apesar de os softwares terem sido cada vez mais aprimorado­s, de os hardwares se tornarem mais potentes a cada ano que passa, o modelo-base do smartphone praticamen­te não mudou. Os princípios do design, a forma como interagimo­s com os aparelhos, até as limitações impostas pelas baterias mantiveram-se quase inalterado­s.

Não era isto que esperávamo­s há dez anos. Onde estão os ecrãs transparen­tes e dobráveis, os assistente­s digitais capazes de falar connosco de forma indistingu­ível à de uma pessoa, as – sei lá – imagens projetadas diretament­e na retina?! A indústria anda há anos a prometer uma revolução que simplesmen­te não consegue fazer.

Ainda nesta semana, a Apple voltou a apresentar novos iPhones. Foram três desta vez – e, como vem sendo habitual, são praticamen­te iguais aos outros todos.

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