Ainda à espera da revolução no meu bolso
O meu fiel telefone entregou a alma ao criador – ou melhor, a bateria – e, em lugar de lhe arranjar outra, decidi comprar outro aparelho. Optei por um dos novos Nokia porque gosto da qualidade dos materiais, da sensação sólida que a construção transmite e do facto de incluir uma entrada normal para headphones. Há ainda um fator que é, para mim, o mais importante: o facto de a HMD Global (a empresa que tem o direito de usar a marca Nokia) usar o Android One – uma versão “pura” do sistema operativo da Google, sem as alterações e o bloatware (programas inúteis muitas vezes impossíveis de desinstalar) que a maioria dos fabricantes metem nos seus telefones.
Sendo eu um órfão da desistência (até ver) da Microsoft em conquistar um espaço próprio no mercado de smartphones – continuo a achar que o Windows Phone/Windows 10 Mobile é um sistema excelente, seguro, clean e intuitivo, mas o que se há de fazer? Não vingou – a opção por um Android era inevitável. É muito mais personalizável do que o iOS, da Apple, e as ferramentas que estou habituado a usar no telefone (Outlook, Edge, Skype, Word, Excel, etc.) existem, são boas e, acima de tudo, podem ser configuradas como apps “de sistema”.
De qualquer forma, após mais de três semanas de utilização exclusiva do Android 8.1 (a versão mais recente que a Google já libertou) – e apesar das óbvias vantagens de estar num “ecossistema” com milhares de apps úteis que fazem da loja da Microsoft um quase deserto –, confesso que continuo a ter saudades de ter Windows no smartphone. Mas, acima de tudo, sinto falta do que não existe. Vou tentar explicar: na última década (a propósito, o Android fez 10 anos nesta semana), o smartphone revolucionou os hábitos quotidianos de milhões de pessoas. Passámos a trabalhar de forma diferente (sempre ligados – para o bem e para o mal); a usufruir os momentos de lazer com outra perspetiva (a do melhor ângulo para a selfie ou da foto do Instagram – o que, poderíamos argumentar, é uma tristeza... mas isso agora não interessa nada). Sentimos que podemos meter a mão no bolso e de lá tirar um comando para todo o nosso mundo. Mera ilusão, obviamente, que apesar de agradável é efémera e pouco satisfatória.
Facto é que, nesta última década, apesar de os softwares terem sido cada vez mais aprimorados, de os hardwares se tornarem mais potentes a cada ano que passa, o modelo-base do smartphone praticamente não mudou. Os princípios do design, a forma como interagimos com os aparelhos, até as limitações impostas pelas baterias mantiveram-se quase inalterados.
Não era isto que esperávamos há dez anos. Onde estão os ecrãs transparentes e dobráveis, os assistentes digitais capazes de falar connosco de forma indistinguível à de uma pessoa, as – sei lá – imagens projetadas diretamente na retina?! A indústria anda há anos a prometer uma revolução que simplesmente não consegue fazer.
Ainda nesta semana, a Apple voltou a apresentar novos iPhones. Foram três desta vez – e, como vem sendo habitual, são praticamente iguais aos outros todos.